quinta-feira, 30 de setembro de 2010

DEPRESSÃO EM IDOSOS: RELIGIOSIDADE E ENFRENTAMENTO

Em virtude de mudanças físicas, psicológicas e sociais, as pessoas idosas tendem a enfrentar mais eventos de perda, como os associados ao declínio da saúde física e mental, ao afastamento do mercado de trabalho, à alteração de papéis sociais e à perda de amigos e familiares (SOMMERHALDER; GOLDSTEIN, 2006).
Canineu (2007) afirma, que tais eventos, ditos como "estressantes", desencadeiam uma série de consequências, mas principalmente o desenvolvimento da depressão, considerada por Siqueira et al (2009) como um dos grandes transtornos que afetam os idosos e que merece uma atenção especial, por ser conhecida nos dias de hoje como "o mal do século".
Néri e Fortes (2006) descrevem que vários transtornos psiquiátricos em idosos são precedidos por eventos de vida estressantes, mas particularmente, a depressão. Os eventos de vida estressantes representam um fator de risco para o surgimento ou agravamento de sintomas depressivos devido ao grande potencial de evocar e intensificar emoções negativas e de gerar sentimentos de mal estar psicológico, além de representarem uma ruptura no curso normal de vida que exige reajustamento pessoal diante da mudança.
Sommerhalder e Goldstein (2006) observam que as estratégias usadas para enfrentar os eventos estressantes, as quais estão associadas à disponibilidade dos recursos pessoais, sociais e materiais dos indivíduos, tendem a diminuir com a idade. Por conseguinte, com frequência, os idosos acabam buscando suporte religioso para o enfrentamento de situações difíceis.
Para Faria e Seidl (2005), a religiosidade pode ser entendida como uma adesão a crenças e a práticas relativas a uma igreja ou instituição religiosa, e a pessoa religiosa é aquela que possui crenças religiosas e que valoriza a religião como instituição. Quanto ao enfrentamento, Faria e Seidl (2005, p. 382) o definem como "esforços cognitivos e comportamentais voltados para o manejo de exigências ou demandas internas ou externas, que são avaliadas como sobrecarga aos recursos pessoais.
As estratégias de enfrentamento com foco na religiosidade ajudam a amortecer o impacto dos eventos negativos, contribuindo de forma decisiva para o bem-estar na velhice, sobretudo pelo apoio social e pela maneira de lidar com as adversidades oriundas da vida (FLORIANO; DALGALARRONDO, 2007).
Sommerhalder e Goldstein (2006) evidenciam, que os efeitos nocivos ocasionados pelos eventos de perda podem ser atribuídos ao fato de que eles destroem ou diminuem o senso de significado de um indivíduo. Portanto considera-se bastante efetivo o enfrentamento baseado na religiosidade, uma vez que esta ajuda a restabelecer a noção de significado na vida. Segundo as autoras, pessoas idosas comprometidas com religião são, na maioria das vezes, mais saudáveis, mais felizes e mais satisfeitas com a vida, denotando menos ansiedade, solidão e depressão.
Da mesma forma, Dantas, Pavarin e Dalgalarrondo (1999), fazendo referência a alguns estudos, destacaram que pacientes deprimidos apresentavam um menor índice de experiências religiosas, enquanto, crenças e práticas religiosas mais fortes foram associadas a menores índices de sintomas depressivos.
Guimarães e Avezum (2007) salientam que maiores níveis de envolvimento religioso estão associados positivamente a indicadores de bem-estar psicológico, como satisfação com a vida, felicidade, afetos positivos e moral mais elevada, propiciando uma diminuição da depressão, além de pensamentos e comportamentos suicidas.
Desta forma, observa-se nos últimos tempos, que a religião vem se consolidando como estratégia sociocultural utilizada pelos idosos, na tentativa de enfrentar de forma mais bem sucedida a depressão e outras adversidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANINEU, P.R. Depressão no idoso. In: PAPALÉO NETTO, M. Tratado de gerontologia. 2ed. São Paulo: Atheneu, 2007. p. 293-300.
DANTAS, C.R.; PAVARIN, L.B.; DALGALARRONDO, P. Sintomas de conteúdo religioso em pacientes psiquiátricos. Rev. Bras. Psiquiatr; 1999: 21(3). p. 158-164. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
FARIA, J.B.; SEIDL, E.M.F. Religiosidade e enfrentamento em contextos de saúde e doença: Revisão da literatura. Psicologia: reflexão e crítica; 2005: 18(3). p. 381-389. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/prc/v18n3/a12v18n3.pdf
FLORIANO, P.J.; DALGALARRONDO, P. Saúde mental, qualidade de vida e religião em idosos de um programa de saúde da família. J. Bras. Psiquiatr; 2007: 56(3). p. 162-170. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
GUIMARÃES, H.P.; AVEZUM, A. O impacto da espiritualidade na saúde física. Rev. Psiquiatr. Clín; 2007: 34(1). p. 88-94. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
NERI, A.L.; FORTES, A.C.G. A dinâmica do estresse e enfrentamento na velhice e sua expressão no prestar cuidados a idosos no contexto da família. In: FREITAS, E.V. et al. Tratado de geriatria e gerontologia. 2ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 1277-1288.
SIQUEIRA, G.R. et al. Análise da sintomatologia depressiva nos moradores do Abrigo Cristo Redentor através da aplicação da Escala de Depressão Geriátrica (EDG). Ciênc. Saúde Coletiva; 2009: 14(1). p. 253-259. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?
SOMMERHALDER, C.; GOLDSTEIN, L.L. O papel da espiritualidade e da religiosidade na vida adulta e na velhice. In: FREITAS, E.V. et al. Tratado de geriatria e gerontologia. 2ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 1307-1315.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O SEXO E A SEXUALIDADE NOS IDOSOS


O SEXO E A SEXUALIDADE NOS IDOSOS

A crença de que o avançar da idade e o declinar da atividade sexual estejam diretamente ligados, tem sido responsável para que os indivíduos em geral não prestasse atenção suficiente a uma das atividades mais fortemente associadas à qualidade de vida, como é a sexualidade ( CAPODIECI, 2000).

A sexualidade é considerada um conjunto de valores e práticas corporais, que transpõem a biologia, pois tem uma relação com o íntimo do indivíduo e suas relações com os outros e com o mundo (MONTEIRO D, 2006.)

Assim, a sexualidade é mais do que contato genital por meio das relações sexuais, é uma energia que motiva a intimidade para sentir, perceber o toque do outro, influencia pensamentos e ações, tanto na saúde física como na mental. Vai do prazer à função da procriação. É uma função vital que começa da infância e vai até a velhice, levando consigo tabus (SILVA RB. 2006 e SANTOS SS, 2006 ).

Muitas pessoas, na oitava década de vida, continuam sendo sexualmente ativas, e mais da metade dos homens maiores de 90 anos, referem manter interesse sexual. Mas apenas menos de 15% deles podem ser considerados sexualmente ativos (SCHIAVI, 1995).

Devido ao desconhecimento e à pressão cultural, numerosas pessoas de idade avançada, nas quais ainda é intenso o desejo sexual, experimentam um sentimento de culpa e de vergonha, chegando a crer-se anormais pelo simples ato de se perceberem com vontade do prazer. Os idosos se distanciam e esquecem de seu próprio corpo e, tanto quanto ou mais que na infância, a sociedade impõe que a sexualidade deva ser totalmente ignorada na velhice (LIMENTANI, 1995).

A auto-estima é fundamental para que os idosos possam exercer sua sexualidade com menos culpa. Para Erbolato (2000), a auto-estima acontece em um processo gradativo da vida das pessoas, que pode nascer junto com a infância e acompanhar os seres humanos até à velhice. Há quatro fatores essenciais para construir a auto-estima: Importância dos eventos da vida; dos abjetos, dos modelos de comparação e as pressões sociais.

A sexualidade é expressa pelos idosos por palavras como: troca de carinhos, beijos, abraços, companheirismo, segurança, sexo, felicidade. E só pode ser expressa na terceira idade se, durante a adolescência, a juventude e a vida adulta, tais sentimentos foram vivenciados de forma a dar prazer, alegria e satisfação às pessoas ( COPODIECI, 2000).

Vascocelos ( 1994, p. 84) afirma que “ o sucesso conjugal na velhice está ligado à intimidades, à companhia e à capacidade de expressar sentimentos verdadeiros um para o outro, numa atmosfera de segurança, carinho e reciprocidade”.

Ainda Vascocelos (1994), considera que a relação sexual entre pessoas com 60 anos ou mais, está ligada ao processo de intimidade que há entre o casal. Dificilmente a intimidade e o sexo acontecem de forma separadas, principalmente nesta idade. A sexualidade na terceira idade pode ser vivenciada das mais diversas maneiras, mas sempre seguidas com sentimento os quais não se perdem como tempo.

Para os idosos o amor e o sexo podem significar muitas coisas como: Oportunidade de expressar afeto, admiração e amor; afirmação do corpo e seu funcionamento; sentir-se feminina ou viril; proteção contra ansiedade; prazer de ser tocado ou acariciado ( COPODIECI, 2000).

A sexualidade da pessoa da terceira idade torna-se reprimida, uma vez que, a casa é composta por pessoas que vão além do casal, o que dificulta a privacidade. Dificilmente os cônjuges conseguirão exprimir os sentimentos de maneira desejada pela falta de liberdade (COPODIECI, 2000).

Ferricgla (1992), em sua literatura , comprova que os adultos são um dos principais fatores que atuam na repressão da sexualidade das pessoas idosas.

Ribeiro (1999, p.125) salienta que “ em família, os filhos são geralmente os primeiros a negar a sexualidade dos pais. Interpretam a necessidade sexual dos pais, isto quando admitem que ela existe como algo depreciativo, como sinal de segunda infância ou como sinal de demência” .

Outro aspecto que causa temor nas pessoas de terceira idade, principalmente entre as mulheres, é o abuso financeiro. Há o desejo e a necessidade de buscar novos relacionamentos, mas também, existe o medo em relação a nova pessoa ( COPODIECI, 2000).

A religião, ao contrário do que se pensa, é um incentivador do amor.

Pensar em espiritualidade e sexualidade, inicialmente pode parecer difícil e, até incoerente. “Essa desagregação traduz um pensamento fragmentado, fruto de um legado secular: o paradigma cartesiano-newtoniano e a visão judaico-cristã, típico de nossa cultura ocidental.” (TEIXEIRA, 2006).

O que vem a ser o órgão sexual se não um órgão como outro qualquer? Por que tantos medos, preconceitos e culpas? No final tudo vira pó. O que importa é a intenção com que se faz. É com amor? É com respeito? É com carinho? Viver a sexualidade não é algo contra a natureza humana, muito pelo contrário. Faz bem, melhora nossa auto-estima, nossa saúde física e mental (TEIXEIRA, 2006).

Corpo e espírito estão separados? Temos que refletir sobre a sexualidade, corporalidade e espiritualidade.

João Paulo II escreveu:

“Justamente por meio da profundidade dessa solidão originária, o homem emerge agora na dimensão do dom recíproco, cuja expressão – que por isso mesmo é expressão de sua existência como pessoa – é o corpo humano com toda a verdade originária de sua masculinidade e feminilidade. O corpo, que exprime a feminilidade ‘para’ a masculinidade e, vice-versa, a masculinidade ‘para’ a feminilidade, manifesta a reciprocidade e a comunhão das pessoas. Exprime-a por meio do dom, como característica fundamental da existência pessoal” (Merecki, 2006)”

Romper com mitos, tabus e preconceitos no que tange `a sexualidade das pessoas de terceira idade é importantíssimo, para que estas possam axerce-las se assim sentirem necessidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BULLA, LEONIA CAPAVERDE; SANTOS, GERALDINE ALVES DOS; PADILHA, LENI. Participação em atividades grupais. In: DORNELLES, BEATRIZ; COSTA, GILBERTO JOSÉ CORREA DA ( Orgs). Investimento no envelhecimento saudável, Porto Alegre: Edipucrs, 2003.

CAPODIECI, SALVATORE. A idade dos sentimentos: amor e sexualidade após os 60 anos. Tradução de Antonio Angonese. Bauru, São Paulo: Edusc, 2000.

FERICGLA, JOSEP M. Sexo y afectividad la ancinidad.In: Envejecer. Una antropología de la ancinidad. Barcelona: Antropos, 1992.

LIMENTANI A. Creativity ande the Thirde Age. International Journal of Psychoanalysis 1995; 76: 825-833.

MEDIONDO, MARISA SILVANA ZAZZETTA; BULLA, LEONIACAPAVERDE. Suporte social para idosos. In: DORNELLES, BEATRIZ; COSTA, GILBERTO JOSÉ CORÊA (Orgs.). Investindo no envelhecimento saudável. Porto Alegre: EDIPICRUS, 2003.

MERECKI, JAROSLAW. Dualismo antropológico e sexualidade.,2006.

MONTEIRO D. Afetividade e intimidade. IN: FREITAS EV, Py L, CANÇADO FAX, GORZONI ML, organizadores. Tratado de geriatria e gerontologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 1296-1301.

MOTTA AB. Envelhecimento e sentimento do corpo. In: MINAYO MC, COIMBRA JÚNIOR CE, CAVALHEIRO BC, SANTOS SSC Dos. organizadores. Antropologia, saúde e envelhecimento. FIOCRUZ; 2002.p.37-50

RIBEIRO, ALDA. Sexualidade na Terceira Idade. In: NETTO, MATHEUS PAPELEO. Gerontologia. A velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo, Athenen, 1999.

SANTOS SS. Sexualidade e a velhice: uma abordagem psicanalítica. In: FREITAS EV, PY L, CANÇADO FAX, GORZONI ML, organizadores. Tratado de geriatria e gerontologia . 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 1302-1306.

SCHIAVI RC, REHMAM J. Sexuality and Aging. Impotence 1995; 22(4): 711-725.

SILVA RB. A mulher de 40 anos, sua sexualidade e seus afetos. Belo Horizonte: Gutenberg; 2006.

TEIXEIRA, IRACEMA. Espiritualidade e sexualidade. www.saudenainternet.com.br/.../espiritualidade-e-sexualidade.php

VASCONCELOOS, MARIA DE FÁTIMA. Sexualidade na 3 idade. In: Sociedade Brasileira de Geriatria e gerontologia. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter, 1994