sábado, 23 de outubro de 2010

A expressão da sexualidade feminina a partir da crença religiosa.

Jeane Iris de França Gentilini

A Bioética, surgida em 1970, contribui significativamente quando se procura respostas ante os conflitos da atualidade. Diante de tantos temas emergentes importantes e complexos envolvendo seres humanos, a Bioética apresenta-se possibilitando a construção de visões complexas da totalidade concreta, no qual se insere a problemática conflituosa que se pretende investigar. A partir desta visão pluridimensional, o tema “A expressão da sexualidade feminina a partir da crença religiosa”, envolve as relações entre o sentido da sexualidade, como possibilidade de realização de prazer ou reprodução, construído a partir das vivências religiosas de cada mulher. Crença, entendida como uma postura particular e personalizada, que influencia cada ser humano de forma diferenciada, conforme Albuquerque (1998, p. 34) diz: “a decisão por uma crença não se dá em função do que objetivamente aconteceu, mas do que a pessoa percebeu em função do que aconteceu”. Religião, entendida como uma forma de criação e recriação constante, inserida e construída na própria crença, um fenômeno social que possibilita ao homem conhecer e viver no mundo (Durkheim , 1912/1960, p. 494). A sexualidade historicamente determinada, se apresenta de forma diferenciada para cada indivíduo, visto que tem caráter histórico e cultural, conforme Catoné (1994, p. 7) “(...) cada sociedade inventa a sexualidade que pode inventar”. Neste contexto, a sexualidade não se restringe a um conceito meramente biológico, apesar de ser comumente referenciada e associada ao sexo ou relação sexual na sociedade de uma maneira geral. Alvo de diferentes conceitos e interpretações, a sexualidade aqui se apresenta fundamentada nos pressupostos de Weeks (2001, p. 38) “embora o corpo biológico seja o local da sexualidade [...] é mais do que simplesmente o corpo [...] tem haver com as nossas crenças [...]”. A história da sexualidade feminina é marcada pela história da humanidade, suas crenças e suas religiões. A finalidade do ato sexual, como prazer ou procriação, é marcada pela cultura vigente na sociedade e sofre influência dos valores construídos pelas vivências religiosas de cada mulher e pelo contexto social no qual estão inseridas. As escolhas são influenciadas e sofrem uma pressão da crença estabelecida, podendo gerar conflitos na prática sexual desenvolvida. Os sistemas de crença são determinantes para a manutenção do poder das religiões e para a conservação da ordem religiosa, influenciando e atuando nos meios sociais. Os meios sociais também inferem impactos sobre as religiões, trazendo para a contemporaneidade a discussão sobre as influências das crenças sobre a sexualidade num contexto mult-inter –transdisciplinar. Este tema sugere impulsionamento nas áreas de pesquisas a fim de promover uma discussão ampla sobre a influência da religião na identidade sexual feminina, para a compreensão dos comportamentos e aplicação dos valores e crenças na sexualidade.

Referências Bibliográficas:

ALBUQUERQUE, C.C.P. (1998). A crença é a diferença. Belo Horizonte: Oficina de Arte e Prosa.

CATONÉ, J-P. (1994). A sexualidade, ontem e hoje. São Paulo: Cortez.

DURKHEIM, E. (1912-1960) As formas elementares de vida religiosa – o sistema totêmico na Austrália. 2. ed. São Paulo: Paulus.

WEEKS, J. (2001). O corpo e a sexualidade. In: Louro, Guacira Lopes (Org.) O corpo educado – Pedagogia da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica.

A Bioética e a Religião

Márcia Rufino

Entende-se por elementos caracterizadores da bioética a interdisciplinaridade, o pluralismo, a humildade, a responsabilidade, a autonomia, beneficência, a justiça e o senso de humanidade, conclui-se, portanto, que ela aborda a gênese dos seres vivos de um ecossistema. A bioética equipara-se à união de sistemas viventes com os valores humanos, principalmente o que se conhece como o direito à vida. Portanto não há como separar os conceitos que regem a Bioética das crenças e religiões predominantes na sociedade, por mais que haja a divergência de opiniões, pois, sabe-se que os valores espirituais também têm relação com a moral e com a ética dos seres humanos, como por exemplo o próprio direito à vida e a liberdade de expressão estabelecido na Constituição brasileira e nas religiões predominantes do mesmo meio.

Entende-se por religião a crença na existência e manifestação de força sobrenatural, que proporciona reflexão e apoio nos momentos de dor, possibilitando a ressignificação da própria vida. A religião assume um compromisso ético social à medida que aborda ações, omissões e conseqüências de assuntos relativos ao homem. (Devens,2007).

Há um consenso na literatura, de que a religiosidade desempenha um papel fundamental para a qualidade de vida, as relações sociais e saúde dos idosos. A religiosidade e espiritualidade possibilita ao idosos lidar com sua dificuldades frente a experiências de solidão, freqüentes na velhice, e seus significados relacionados à espiritualidade.( Dalgalarrondo, 2008)

Refletir sobre a religiosidade dos idosos no campo da Psicologia implica em compreender o processo de perda gradual da resistência biológica sendo compensada por uma energia espiritualizada existente na dimensão humana. É nessa dimensão da espiritualidade humana, que o idoso elabora suas perdas e o faz perceber pertecente a algo mais amplo que o seu fisiológico. (Baldesin, 2007)

A religiosidade permite ao idoso desenvolver possibilidades psicológicas, que o preparem para uma re-siginificaçao da vida.

Dessa forma, é imperioso que o debate religioso deva estar integrado aos estudos da Bioética, não só porque as religiões influenciam diretamente nos parâmetros da sociedade, mas porque essa temática ajuda na permanência de determinados valores.

No Brasil percebe-se muito o conflito entre a medicina e as religiões, no que se diz respeito ao aborto, eutanásia e a utilização de células tronco, porém tal choque de interesses acaba por ser benéfico à medicina, pois os mesmos geram discussões e consequentemente soluções mais aceitáveis à sociedade. Assim, a discussão da Bioética é útil não só do ponto de vista religioso de defesa da vida, mas para avaliar as ações da ciência.

A bioética tem papel fundamental para a evolução da ciência, consequentemente da medicina e para a continuidade harmoniosa entre as religiões, a população integrada ao meio e a tecnologia medicinal.

Nesse sentido, a bioética e a religiosidade nos permite compreender o homem em seu processo de envelhecimento, desvelando facetas desse momento e acolhendo-os em seu envelhecer, por meio de ações que contemplem o seu sentir, suas expectativas e necessidades. Sem dúvida que esse é um novo tema que vem se impondo como de extrema necessidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BALDESSIN, A. O idoso: viver e morrer com diginidade. In: Papaleo Neto, Matheus. Tratado de Gerontologia. . 2ª Ed. , revisada e ampliada _ São Paulo: Editora Atheneu, 2007. p. 869-878.

DALGALARRONDO, P. Religião, psicopatologia e saúde mental. Porto alegre: Artmed, 2008

DEVENS,L. Eutanásia: um ponto polêmico. In: Papaleo Neto, Matheus. Tratado de Gerontologia. . 2ª Ed. , revisada e ampliada _ São Paulo: Editora Atheneu, 2007. p. 847 – 859


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A Bioética nos Cuidados Paliativos

Viviane Suelen Pinto Campos

INTRODUÇÃO

Devido às fragilidades da saúde individual adquiridas por diversos fatores, a Promoção da Saúde (PS) visa desenvolver programas que possam auxiliar o indivíduo e o coletivo no encontro de alternativas para a conquista de uma boa Qualidade de Vida (QV), mesmo que seja no fim da vida, como nos Cuidados Paliativos (CP).
Discutir este tema não é uma das preferências gerais. Para muitos profissionais descobrir que não existem recursos capazes de reverter o prognóstico de alguns pacientes, é mais que frustrante, é uma questão de desonra. Os poucos pesquisadores que investem nesta área, buscam mostrar que é possível algo além da QV e talvez isso possa ser chamado de Qualidade de Morte.
Os CP não devem ser vistos como falta de alternativa/tratamento, muito pelo contrário, a morte é inevitável para todos (ninguém vive eternamente), este tipo de cuidado não visa prolongar e nem reduzir a vida, o objetivo é proteger e dar atenção aos pacientes que não possuem tratamentos medicinais para cura e reversão do quadro de saúde.
A morte é algo natural, porém, aceitá-la e compreendê-la depende de vários fatores, tais como: meio social, cultura, crença religiosa, entre muitos outros.
Não paramos para pensar na morte, se muito, desejamos não sofrer no final da vida. Por isso, os CP visam amenizar as dores físicas e o sofrimento emocional do paciente e de seus familiares.


CUIDADOS NO FINAL DA VIDA

O termo paliativo deriva do latim “pallium”, que significa “manto”. Desta forma, a essência dos cuidados paliativos é aliviar os efeitos das doenças incuráveis, ou prover um manto para aquecer aqueles que passam frio, uma vez que não podem mais ser ajudados pela medicina curativa. Tradicionalmente, os cuidados paliativos eram vistos como sendo aplicáveis exclusivamente no momento em que a morte era irreversível. Hoje, são oferecidos no estágio inicial do curso de uma determinada doença progressiva, avançada e incurável. (PESSINI, 2005).
No contexto do cuidados no fim da vida, o conceito de “boa morte” tem sido utilizado no sentido de morte sem dor; respeitando os desejos do paciente, permanência em domicílio; ausência de conflitos; ambiente propício para uma boa relação entre o paciente, familiares e profissionais de saúde. (EMANUEL, 1998 apud FLORIANI, 2008).
A World Health Organization (WHO) em 2002 redefiniu o conceito de cuidados paliativos da seguinte forma: “É uma abordagem que aprimora a QV, dos pacientes e famílias que enfrentam problemas associados com doenças ameaçadoras de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento, por meios de identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual”. (WHO, 2002).
Neste momento de atenção à saúde, a bioética deve estar presente em cada momento e principalmente em cada escolha. Para a Pessini (2005) a ética do cuidado enfatiza essencialmente a natureza vulnerável dos seres humanos e não diz somente respeito ao processo de decidir, mas também envolve a qualidade das relações. Os pacientes com doenças avançadas ou em estado terminal têm fundamentalmente os mesmos direitos que os outros. A recusa de tratamento deve ser mantida especialmente quando não existe reversão. Porém, esta recusa não deve influenciar na qualidade dos CP.
Segundo Siqueira (2007), deve-se comunicar a verdade a todos envolvidos, possibilitando a participação nas decisões, propiciando o início do processo de enlutamento, já que no caso do CP, a morte é iminente. Negar ao paciente e à família a sua condição de saúde é impedir que eles enfrentem seus medos.
Tratamentos considerados fúteis em doenças terminais acontecem com grande frequência, e a morte destes é muito comum em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) quando já apresentam um prognóstico reservado durante considerável tempo prévio, em especial idosos frágeis e com alta dependência. (FLORIANI & SCHRAMM, 2008). Por intervenção de profissionais que não reconhecem a importância dos CP, pacientes são privados de ter uma “boa morte”.
O apoio multidisciplinar aos envolvidos nos CP é fundamental para uma aceitação do prognóstico. Para D’Assumpção (2007) “o homem nasce e morre sozinho, pois ninguém pode nascer ou morrer pelo outro.” Talvez esta questão fosse melhor compreendida e também aceita em outros momentos da vida, e não no final dela. Por isso, não é fácil aceitar a notícia de uma doença terminal.
A capacidade da equipe organizar continuadamente todas as ações e sempre estar atenta às necessidades do paciente - fundamentadas em suas preferências –, de seu cuidador e de sua família, são entendida nos CP como “proteção”. (Schuramm, 2001 apud Shuramm, 2007). Podemos dizer que esta capacidade é uma das mais importante para a conquista de uma boa morte.
Em suma, cada profissional deve compreender os limites dos tratamentos medicinais e dos riscos da iatrogenia, além disso, é preciso estar atento, para não privar o paciente e familiares da escolhas subjetivas.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao nascer temos a certeza de apenas uma coisa: “um dia iremos morrer”. O caminho a ser percorrido até o final da vida, sempre dependerá das escolhas individuais.
Todos temos o direito de viver com dignidade e de morrer com ela também. Infelizmente ainda vivemos uma medicina curativista e por isso, muitos lançam mão de alternativas que vão contra vários códigos de ética profissionais. Para Floriani & Schramm (2008) diante da necessidade moral de se organizar um modelo de assistência adequado aos pacientes com doenças avançadas e terminais, é necessário que a disciplina de CP faça parte obrigatoriamente da graduação para os profissionais de saúde, além de aumentar o incentivo de pesquisas nesta área.
Nenhum profissional é capaz de definir o dia e horário da morte de alguém, por isso, é preciso atenção e cautela no momento de comunicar um diagnóstico de terminalidade. Mas do que isso, precisamos ter ciência que um dia podemos estar do outro lado e receber este comunicado sobre um ente querido ou até mesmo, sobre a própria vida.

REFERÊNCIAS


DRANE, James. Cuidados no final de vida. Medicina Avançada: on line, 2003. Disponível em: . Acesso em 23 set. 2010.

D’ASSUPÇÃO, Evaldo A.. Os que partem, os que ficam - a morte não é problema para os que partem, e sim para os que ficam. Belo Horizonte: FUMARC, 2007.

FLORIANI, Ciro A. Cuidados paliativos no domicílio: desafios aos cuidados de crianças dependentes de tecnologia. J. Pediatr. (Rio J.) [online]. 2010, vol.86, n.1, pp. 15-19. ISSN 0021-7557.

FLORIANI, Ciro A..SCHRAMM, Fermin Roland. Cuidados paliativos: interfaces, conflitos e necessidades. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2008, vol.13, suppl.2, pp. 2123-2132. ISSN 1413-8123.

KIPPER, Délio José. A presença de cuidadores familiares nas instituições: questão de dignidade humana. Revista Bioética: 2007. Disponível em: . Acesso em 23 set. 2010.

PESSINI, Leo. Cuidados paliativos alguns aspectos conceituais, biográficos e éticos. 2005. Disponível em: . Acesso em 23 set. 2010.

SCHRAMM, Fermin Roland; FLORIANI, Ciro Augusto. Desafios morais e operacionais da inclusão dos cuidados paliativos na rede de atenção básica. Cad. Saúde Pública [online]. 2007, vol.23, n.9, pp. 2072-2080. ISSN 0102-311X.

SIQUEIRA, Karyn Albrecht; MASSAROLI, Aline; LICHESKI, Ana Paula; GIORGI Maria Denise Mesadri, Bioética e cuidados paliativos: um desafio para enfermagem. 2007. Disponível em: . Acesso em 22 set. 2010.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. National cancer control programmes: policies and managerial guidelines. 2nd Ed. Geneva: World Health Organization, 2002.

CUIDADOS PALIATIVOS E NUTRIÇÃO

Débora Mesquita Guimarães Fazzio

A ciência médica moderna contribuiu para o aumento da expectativa e qualidade de vida do ser humano, porém, como conseqüência, criou situações envolvendo dilemas éticos, como a transformação da fase final da vida em um sofrido processo de morrer (FERRAI, 2008).
Atualmente os cuidados paliativos são compreendidos como um ramo da medicina que enfatiza o cuidar global do paciente, quando este não apresenta mais resposta aos tratamentos considerados curativos, visando propiciar melhor qualidade de vida ao indivíduo e sua família, por meio de técnicas que aumentem o conforto, mas sem interferirem na sua sobrevida. O enfoque maior é dado ao controle da dor, sofrimento e melhora dos sintomas, e não em restabelecer a saúde integralmente, o que consistiria na "cura" da doença (CORRÊA; SHIBUYA, 2007).
Numa perspectiva integradora, os cuidados paliativos e os valores fundamentais da geriatria coincidem: o paciente está no centro dos cuidados, a perspectiva é de uma abordagem interdisciplinar, holística e compreensiva, além de paciente e família serem vistos como uma única unidade de cuidados. Uma prioridade é garantir na medida do possível a independência funcional e qualidade de vida, avaliação regular e formal que assegure a identificação e tratamento das intercorrências no momento certo (PESSINI; LUCIANA, 2005).
Os cuidados paliativos tratam freqüentemente o tema bioética, porquanto lidam com a dor, a perda, o sofrimento e a morte. Nessa concepção, o paciente, como sujeito biopsicossocial e espiritual, demanda cuidado integral e humanizado na assistência, devendo ser tratado com dignidade, ainda que sem possibilidade de cura ou em fase terminal (BENARROZ; FAILLACE; BARBOSA, 2009).
No que diz respeito a assuntos relacionados à alimentação e nutrição é comum enfrentar dilemas bioéticos, pois a alimentação está relacionada ao estilo de vida e bem-estar, a valores culturais, ao prazer e a vida, envolvendo relações sociais e familiares, estando, ainda, inserida na cultura como símbolo de vitalidade (BENARROZ; FAILLACE; BARBOSA, 2009).
Em cuidado paliativo, é comum o paciente apresentar inapetência, desinteresse pelos alimentos e recusa àqueles de maior preferência. Conseqüentemente, podem ocorrer: baixa ingestão alimentar; perda ponderal com freqüências que podem variar de 31% a 87%; depleção de tecido magro e adiposo; e caquexia. Em contrapartida, os efeitos colaterais dos tratamentos medicamentosos podem causar náuseas, vômitos, diarréia, saciedade precoce, má absorção, obstipação intestinal, xerostomia, disgeusia, disfagia, entre outros (CORRÊA; SHIBUYA, 2007).
O objetivo do cuidado nutricional é assegurar a ingestão alimentar, conforme as necessidades e recomendações nutricionais, por meio da orientação da dieta, da avaliação e monitoramento do estado nutricional. Quando se trata de cuidados paliativos, no entanto, o foco principal é melhorar a qualidade de vida, através do controle de sintomas associados ao consumo de alimentos, adiando a perda de autonomia e qualidade de vida (BENARROZ; FAILLACE; BARBOSA, 2009).
O nutricionista é um dos profissionais que pode auxiliar na evolução favorável do paciente. Freqüentemente, depara-se com verdadeiros impasses em relação à conduta dietoterápica. A discussão envolve questões de comunicação com os familiares e o paciente, valores morais e ética profissional, afinal, existe a dúvida se instituir uma modalidade de terapia nutricional consiste em um cuidado básico ou um tratamento médico (CORRÊA; SHIBUYA, 2007).
A decisão de manter ou suspender a alimentação e a hidratação de pacientes que estão em cuidados paliativos deve ser discutida com a equipe técnica multiprofissional, com o paciente e com seus familiares. Em alguns casos, o próprio paciente decide não mais se alimentar, e esta postura deveria ser respeitada, do ponto de vista moral e ético, pelo médico, considerando os princípios da autonomia. Porém, nem sempre essa decisão é acatada. Há situações em que a recusa voluntária de alimentos e água pelo paciente está relacionada à intenção de apressar a morte, em decorrência de depressão, que se tratada, pode reverter esse quadro. Da perspectiva ética, os princípios da autonomia, beneficência e não-maleficência apóiam os direitos do paciente em refutar ou questionar a retirada de algum tipo de terapia. Todavia, apesar das opiniões éticas e legais do assunto, alguns autores alegam que a retirada do tratamento nutricional é insustentável e deveria ser evitada (BENARROZ; FAILLACE; BARBOSA, 2009).
A decisão entre reutilizar, suspender ou retirar completamente a nutrição é sempre difícil e controversa. Deveriam, pois, os profissionais da saúde aplicar terapia nutricional a todo paciente que o requeira, independentemente do fato de que ele possa vir a morrer? Essa abordagem (nutrição para todos sem se importar com a condição ou preferência do paciente) é indefensável, contra-intuitiva e não ética, e assinalaria a última transformação da medicina de uma arte baseada na discrição clínica, para um sistema burocrático frio e sem razão (ARENAS; ANAYA-PRADO; BARREIRA-ZEPEDA, 2000).
Refletir sobre questões de alimentação relacionadas à finitude sempre provoca polêmica e opiniões discrepantes entre profissionais de saúde, familiares e o próprio paciente. Em algumas situações, o paciente não se encontra apto a tomar decisões, ficando dependente da decisão dos familiares acerca do plano de cuidados propostos (BENARROZ; FAILLACE; BARBOSA, 2009).
Observa-se, portanto, que os pacientes com doenças avançadas ou em estado terminal têm fundamentalmente os mesmos direitos que os outros pacientes, tais como o direito de receber cuidados médicos apropriados, apoio pessoal, direito de ser informados, mas também o direito de recusar procedimentos diagnósticos e/ou tratamentos quando estes simplesmente nada acrescentam diante da morte prevista (PESSINI; LUCIANA, 2005).
Desta forma, deve-se considerar que no cenário da terminalidade da vida, na tentativa de “salvar vidas”, tem-se buscado prolongar um penoso processo de agonia e retardamento da morte, apontando a necessidade de que haja um melhor preparo dos profissionais da área de saúde para que, de maneira competente e comprometida, sejam capazes de estar ao lado das pessoas nesse momento que pode representar dor, sofrimento ou fim, mas também cuidado, conforto e paz (FERRAI, 2008).

REFERÊNCIAS

ARENAS, H; ANAYA-PRADO, R; BARREIRA-ZEPEDA L. M. Bioética em Nutrição. In: WAITZBERG, D. L. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 3. Ed. São Paulo; Atheneu, 2000.

BENARROZ, M. O.; FAILLACE, G. B. D.; BARBOSA, L. A. Bioética e nutrição em cuidados paliativos oncológicos em adultos. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2009; 25(9): 1875-1882.

CORRÊA, P.H.; SHIBUYA, E. Administração da Terapia Nutricional em Cuidados Paliativos. Revista Brasileira de Cancerologia 2007; 53(3): 317-323.

FERRAI, C. L. M. et al. Uma leitura bioética sobre cuidados paliativos: caracterização da produção científica sobre o tema. Centro Universitário São Camilo - 2008;2(1):99-104.

PESSINI, L.; LUCIANA, B. Novas perspectivas em cuidados paliativos: ética, geriatria, gerontologia, comunicação e espiritualidade. O MUNDO DA SAÚDE — São Paulo, 2005; 29(4): 491-509.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

EPILEPSIA: ESCLARECENDO ALGUNS PRECONCEITOS

EPILEPSIA: ESCLARECENDO ALGUNS PRECONCEITOS
Nádia Cristina Lima

1. Introdução

1.1. Epilepsia – histórico e causas

Na antiguidade clássica, as epilepsias eram vistas, do ponto de vista religioso, como doenças demoníacas. Naquela época, os pacientes já eram sacrificados porque se julgava que estivessem possuídos pelo demônio. No século XVII, acreditava-se que as epilepsias eram devidas ao excesso de atividade sexual e a castração era considerada um tratamento. 1
As epilepsias ocorrem em cerca de 0,5 a 1,0% da população mundial e incluem transtornos da função cerebral caracterizados pela ocorrência periódica e imprevisível de convulsões. 2
O acidente vascular encefálico (AVE), os tumores cerebrais, a toxoplasmose, a neurocisticercose, os traumatismos cranianos e a má formação no desenvolvimento do córtex cerebral podem ser causas de epilepsias, além do uso de bebidas alcoólicas. 2, 4

2. Desenvolvimento

2.1 Esclarecendo alguns mitos sobre a epilepsia e seus sintomas

Várias pessoas vêem as epilepsias como um conjunto de doenças contagiosas e relacionadas com “entidades demoníacas”, o que não são verdades. As epilepsias representam um conjunto de doenças neurológicas em que as células do cérebro, denominadas neurônios, tornam-se muito excitáveis e isso leva às convulsões. Por causa disso, são necessários cuidados importantes para prevenir, isto é, para evitar a manifestação clínica, que são as convulsões e, em decorrência delas, salivação, perda de consciência, corpo enrijecido, dentre outras. Em alguns casos, é comum a incontinência urinária e fecal; após a crise (poucos minutos), o paciente pode apresentar sonolência, podendo acordar com vômitos, dor de cabeça e dores musculares. 1
Muitos são os pacientes portadores de doenças epilépticas que têm receio de comentar sobre a doença que têm, uma vez que, há ainda, na sociedade, preconceitos e pré-julgamentos que provocam nos pacientes diversos constrangimentos. Isso, com certeza, é resultado do baixo nível de instrução de alguns segmentos da sociedade. O importante é que, todos os pacientes portadores de doenças, inclusive as doenças epilépticas, devem ser tratados dentro dos princípios da ética e do respeito; não existe, por exemplo, nenhum paciente que é epiléptico porque está possuído por entidades demoníacas; epilepsias não são doenças transmissíveis (não se transmite epilepsia através do contato com a saliva). No entanto, é preciso esclarecer que, o uso de bebidas alcoólicas (quaisquer que sejam elas - cerveja, vodca, vinho, conhaque, etc.) pode induzir crises convulsivas, além de reduzir muito a eficácia dos medicamentos usados para o tratamento. 4,5
As doenças epilépticas têm apresentado um aumento da incidência na infância e na terceira idade. Nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, tem-se observado um aumento da população com idade igual ou superior a 65 anos e, isso se deve à melhoria da qualidade de vida, ao uso otimizado de medicamentos e aos diagnósticos mais precisos e precoces. 3
Outra questão extremamente importante é a respeito dos medicamentos. Epilepsia não é loucura, pacientes portadores de epilepsia não são “doidos” – infelizmente, esse estigma existe, mas não é verdadeiro. Então, o uso de medicamentos como Gardenal (fenobarbital), Tegretol (carbamazepina) não é para tratamento de loucuras, muito menos podem ser considerados “remédios para doidos”, pelo contrário, os chamados medicamentos anticonvulsivantes são extremamente eficazes para o tratamento das epilepsias, não curam definitivamente, mas previnem a manifestação de novas crises epilépticas e estabilizam o quadro clínico do paciente. É fundamental que o paciente com epilepsia utilize o medicamento prescrito pelo médico (geralmente o neurologista). 1
Atualmente, têm sido muito comum o uso de medicamentos anticonvulsivantes para o tratamento de outras doenças, tais como enxaqueca, dor neuropática, transtorno do humor bipolar, dentre outras. Deste modo, é imperioso saber que nem todo indivíduo que está usando, por exemplo, Tegretol (carbamazepina), tem necessariamente epilepsia. Essa informação é importante, pois existem vários indivíduos que desistem de usar os medicamentos por julgar que lhes foi prescritos erroneamente ou algo parecido. 3,4 Finalmente é preciso lembrar que a maioria dos medicamentos anticonvulsivantes tem efeito teratogênico e, portanto, são contra-indicados em grávidas.

3. Considerações finais

A epilepsia é uma doença neurológica que exige tratamento adequado e sob supervisão de um médico neurologista. Apesar dos preconceitos e mitos que giram em torno desta doença, os pacientes portadores da mesma devem receber tratamento medicamentoso, psicoterapêutico e serem esclarecidos sobre a importância do convívio social e no ambiente de trabalho normalmente, até porque, o uso correto e a adesão aos medicamentos e demais tratamentos tornam possível uma vida normal e saudável, na qual as convulsões passam a ser controladas e evitadas.

São medicamentos anticonvulsivantes:
Controlados (tarja vermelha):
Fenobarbital (Gardenal) Fenitoína (Hidantal)
Carbamazepina (Tegretol) Oxcarbazepina (Trileptal)
Topiramato (Topamax) Valproato de sódio (Depakene)
Divalproato de sódio (Depakote) Lamotrigina (Lamictal)
Gabapentina (Neurontin)
Controlados (tarja preta):
Clonazepam (Rivotril)
Diazepam (Valium)
Lorazepam (Lorax)


Referências Bibliográficas

1- Celmo Porto. Semiologia Médica. 5ª. edição.
2- Goodman & Gilman. As bases farmacológicas da terapêutica. 11ª. edição.
3- http://www.epilepsia.org.br/epi2002/show_livro1.asp?cap=48 (acesso em 18/10/10, 11:00h).
4- Lenita Wanmacher. Farmacologia Clínica: Fundamentos da Terapêutica Racional. 3ª. edição.
5- Penildon Silva. Farmacologia. 7ª. edição.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Diálogos entre bioética, religião, morte e fim da vida




As questões da bioética, especialmente no tocante a decisões que resultam em manutenção ou interrupção da vida humana e a limites biomédicos relacionados à melhoria da saúde, abrem espaço para argumentos de fundo religioso contra e a favor dos procedimentos. A divergência de opiniões, fundamentadas em concepções diferentes sobre início da vida, limites das ciências, direitos humanos, papel do Estado e autonomia em decisões que dizem respeito ao corpo e vida do indivíduo, não é algo negativo, visto que, segundo Pessini (2008), o “diálogo com as diferentes tradições de pensamento, sejam elas de vertente secular ou religiosa,” reflete a diversidade da esfera pública e contribui para aprimorar a Bioética.
Nesse sentido, é pertinente partir das concepções que fundamentam posturas pessoais e públicas no tocante às questões de Bioética, focar as situações concretas, vistas por diferentes prismas, e oferecer elementos para o necessário discernimento, visto que o bem individual e coletivo do ser humano está no centro de toda a reflexão ética. Faremos este percurso pontuando questões relacionadas ao prolongamento artificial da vida e/ou intervenções para abreviar o sofrimento do doente terminal, como a eutanásia.

Vida e morte como eixo da discussão sobre a eutanásia
Situações que colocam em pauta a morte do ser humano, como o caso da eutanásia, implicam necessariamente uma reflexão sobre quando começa e quando termina a vida humana, assim como o poder da medicina sobre sua manutenção ou interrupção. Anteriormente, um indivíduo era considerado morto quando seu corpo apresentava ausência de batimentos cardíacos e de respiração. Atualmente, visto que o ser humano à beira da morte pode ter coração e pulmão estimulados artificialmente, as ciências médicas relacionam a morte à ausência de estímulos elétricos no encéfalo durante, pelo menos, um período de 24 horas ininterruptas.
Na tradição da filosofia, morte é ausência de consciência: se o ser humano não está consciente da sua existência, não pode ser considerado vivo. Esta afirmação finca raízes na filosofia cartesiana, que concebe o ser humano a partir da razão – “penso, logo existo” –, mas aponta um primeiro questionamento sobre o tênue limite entre a vida e a morte: não ter domínio das faculdades da consciência, em situações terminais, significa estar vivo, ainda que as funções mecânicas do corpo continuem em curso? Ou, como bem sintetizado por Sousa e Galuppo , se a vida resumidamente é o contínuo metabolismo de um dado organismo (ponto de vista biomédico), a evolução da mente em direção a outro estágio (filosofia) ou o retorno da alma à divindade que a gerou (tradições religiosas), o que vem a ser a “vida quando cessa” ou, melhor dizendo, “a morte”?
Do ponto de vista religioso – e focando especificamente o cristianismo –, o homem não tem direito a interromper sua vida, nem a de outras pessoas, porque a origem da vida é divina. Como a vida é dom de Deus, não cabe ao homem deliberar sobre sua continuidade ou finitude. O ser humano provém de Deus e a ele retornará ao final da sua jornada terrestre – e a decisão entre início e fim desse percurso está para além da compreensão humana, situando-se nos domínios do Transcendente. Mesmo para tradições religiosas que acreditam em transmigração da alma ou reencarnação, a morte não é prerrogativa humana: cabe à divindade decidir quando o ser humano deve encerrar sua trajetória na terra.
Também devem ser consideradas as implicações jurídicas destes procedimentos. O biodireito, ramo do Direito que se ocupa dos ordenamentos jurídicos relativos ao bem da vida na conduta humana , considera as implicações jurídicas das decisões que envolvem questões de Bioética. Aborto e eutanásia são as questões mais conhecidas, mas o biodireito se estende a decisões sobre manipulação genética e pesquisas que supõem intervenção no organismo humano, entre outras. No Brasil, a Constituição considera a vida um direito alienável, ou seja, nem a própria pessoa pode dispor ou abrir mão dela, assim como de sua integridade física, também um direito fundamental. Nesse sentido, a eutanásia, não sendo regulamentada pela lei, pode ser considerada crime contra a vida.
Estas questões, bastante teóricas, ganham dimensão de concretude na situação específica de terminalidade de um paciente. Aparecem o ponto de vista médico – não há sinais elétricos no encéfalo – e a concepção filosófica – a pessoa perdeu consciência de si mesma. E aí entram outras questões: se a família cultiva a pertença a uma tradição religiosa, aparece a fundamentação doutrinal sobre o poder humano de interromper a vida – já que sua origem e destinação é Deus. E se colocam também as questões jurídicas: a família tem o direito de escolher se o parente deve viver ou morrer, e a equipe médica será criminalizada caso tome os procedimentos devidos para que isso aconteça?

Religião, morte e fim da vida
A postura das religiões tem sido, tradicionalmente, a de reserva aos avanços científicos, bem como de resistência à laicização dos preceitos legais. A Igreja Católica tem manifestado inquietação a respeito de algumas características do mundo contemporâneo, dentre as quais “o vazio ético e o individualismo que reduzem a fundamentação dos valores a meros consensos sociais subjetivos” . Ou seja, há resistência em relação às mudanças na legislação e nas práticas que desconsideram os preceitos religiosos. A predominância do debate em torno de questões morais e religiosas neste segundo turno das eleições presidenciais – marcadamente aborto e união civil entre homossexuais – é uma evidência do quanto a dimensão religiosa mantém sua influência sobre os espaços sociais.
À parte o fundamentalismo religioso, que desconsidera a laicidade constitucional do Estado e mistura debate sobre direitos humanos com doutrina religiosa, as pontuações de fundo religioso questionam o risco do fundamentalismo científico, tendência que coloca na ciência a primazia de decisão sobre questões ligadas ao fim da vida. A ciência teria um fim nela mesma, e não nos benefícios que traria à humanidade. Esta postura traz o risco de se esvaziar a “unidade substancial humana” e “pôr em perigo sua especificidade antropológica” , ou seja, enxergar o ser humano apenas pelo prisma biofisiológico, sem considerar os aspectos culturais, metafísicos e religiosos, no enfrentamento de situações-limite da vida humana.
No caso de pacientes terminais, as situações geralmente se referem a casos de doença incurável, de sofrimento intenso e/ou de tratamento inútil, quando os recursos farmacológicos atuam no sentido de minimizar os sintomas, visto que não há possibilidade de cura. Nestes casos, são três as possibilidades:
• A eutanásia, também chamada benemortásia ou sanicídio, é a antecipação deliberada da morte de doentes terminais; geralmente é um procedimento indolor de supressão da vida;
• A ortotanásia, conhecida como eutanásia passiva ou paraeutanásia, consiste no auxílio médico ao processo natural da morte, quando o paciente ou sua família exigem a supressão dos medicamentos, meios artificias ou procedimentos necessários para a manutenção da vida do paciente;
• A distanásia, também chamada de obstinação terapêutica ou futilidade médica, se refere ao prolongamento exagerado da morte de um paciente terminal ou do tratamento inútil para a doença; costuma implicar muito sofrimento, visto que os procedimentos terapêuticos são mais invasivos do que a própria doença.
Também se pode citar a mistanásia, ou eutanásia social, a morte miserável fora e antes da hora, como no caso do extermínio de pessoas tidas como defeituosas ou indesejáveis, conflitos de xenofobia, holocaustos ou, ainda, pela omissão médica em casos de insuficiência hospitalar em relação à demanda. Não é, entretanto, o foco deste texto.
Nas situações que envolvem vida e morte humanas, há que se levar em conta que os princípios da bioética – beneficência, não-maleficência, autonomia e justiça –, assinados em 1978, nos Estados Unidos, e publicados pela Comissão Nacional para Proteção dos Seres Humanos em Pesquisa Biomédica e Comportamental, delineiam a complexidade das situações onde o que está em jogo é a vida ou a morte de uma pessoa. Estes princípios questionam tanto as ciências biomédicas quanto a filosofia, a legislação e as religiões, porque dão foco ao que deve fundamentar as decisões no caso de optar pela vida ou pela morte. Para além das posturas doutrinais, das crenças pessoais ou dos conflitos de interesse numa dada situação, o que deve estar no centro é a vida humana e o bem da pessoa, em toda a sua complexidade. Portanto, decisões que incidem sobre ela nunca poderão ser simplistas.

Considerações finais
As situações extremas, que envolvem decisões sobre prolongar ou interromper a vida humana, costumam gerar discussões também extremas, pois envolvem crenças, interesses e fundamentos muitas vezes contraditórios, porque oriundos de diversas fontes ou baseados em diferentes pressupostos. Daí a importância de adotar uma postura dialógica, que considere, de forma respeitosa, os vários pontos de vista imbricados na situação. É pelo processo dialético que se poderão construir consensos.
Também é importante relacionar os fundamentos teóricos e institucionais com as pessoas e fatores específicos da situação em que se cogita optar pelo prolongamento ou pelo encerramento da vida do paciente. Questões médicas, filosóficas, religiosas e jurídicas terão maior ou menor peso de acordo com a trajetória de vida das pessoas envolvidas na decisão. E elas é que darão foco específico às considerações entre o limite que separa o prolongamento artificial da vida e o momento em que o ser humano, visto na sua totalidade, deixou realmente de existir.

Referências bibliográficas
BENTO, Luis Antonio. Bioética: desafios éticos no debate contemporâneo. São Paulo, Paulinas, 2008.
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. INSTITUTO NACIONAL DE PASTORAL. A dignidade da vida humana e as biotecnologias. Brasília, Edições CNBB, 2006.
CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO. Documento de Aparecida. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Brasília, Edições CNBB; São Paulo, Paulinas; Paulus, 2008.
JUNGES, José Roque. Desafios das biotecnologias à teologia moral. In TRANSFERETTI, José. ZACHARIAS, Ronaldo. Ser e viver. Bioética, biotecnologias e sexualidade. Aparecida/SP, Editora Santuário; São Paulo, Centro Universitário São Camilo, 2008.
PESSINI, Leo. Bioética: das origens aos desafios contemporâneos. In TRANSFERETTI, José. ZACHARIAS, Ronaldo. Ser e viver. Bioética, biotecnologias e sexualidade. Aparecida/SP, Editora Santuário; São Paulo, Centro Universitário São Camilo, 2008.
SOUSA, Paulo Roberto de. GALUPPO, Fernando Furlanetto. A morte, a bioética e o biodireito: uma abordagem panorâmica. In TRANSFERETTI, José. ZACHARIAS, Ronaldo. Ser e viver. Bioética, biotecnologias e sexualidade. Aparecida/SP, Editora Santuário; São Paulo, Centro Universitário São Camilo, 2008.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Entrevista Rádio Câmera

Olá,alunos e alunas,
Saiu hoje mais uma entrevista que dei sobre nossa pesquisa para a Rádio Câmera. Os links são:
1) Parte 1
2) Parte 2

Um grande abraço.
prof.Vicente

terça-feira, 12 de outubro de 2010

VELHICE E DIGNIDADE: O SUOR DA CONQUISTA

       O envelhecimento populacional no mundo é fato inquestionável e está relacionado diretamente ao avanço tecnológico e à melhoria da qualidade e da expectativa de vida. Em acréscimo, a percepção do acréscimo de idosos tende a ser mais evidente, quando a taxa de natalidade de alguns países, principalmente da Europa, passa a ser negativa. No Brasil, segundo dados do IBGE, num passado recente a população era formada por uma maioria absoluta de jovens, porém, nas últimas pesquisas, houve um crescimento significativo no número de idosos.
       O aumento populacional do efetivo da terceira idade a primeira vista pode soar animador, porém, do ponto de vista social revela-se um sério problema para os governantes, pois torna-se dificultoso as questões previdenciárias e da assistência médica para uma estrutura quase sempre deficitária ou limitada do Estado.
       Como agravante, a sociedade, por seu turno, tende a se afastar das pessoas idosas na mesma proporção em que os anciões também se afastam da sociedade. Já a economia, num processo natural de renovação, acaba descartando o idoso do mercado de trabalho e abre espaço para o público de jovens empreendedores.
       Pode-se ter a idéia, aparente, que o idoso é um paciente terminal, com mão-de-obra desqualificada o qual não compensa mais investir. Todavia, em alguns países desenvolvidos em que esse conceito está sendo superado, tendo em vista ser um público com grande experiência profissional e consumidor em potencial, com expectativa de vida cada vez mais elevada, estão, dessa forma, ganhando maior atenção do mercado e da mídia.
       No Brasil, a grande maioria dos idosos interrompe sua vida de trabalho com uma aposentadoria irrisória, e, não raro, sem aposentadoria alguma, fato que acaba tornando-se dependentes de familiares também carentes. Isso quando o idoso, sem condições financeiras e sem auxílios mínimos, tornam-se indivíduos solitários, vivendo sem dignidade.
       Diante desse contexto, observa-se que o mundo que envolve o idoso torna-se comprometido por uma série de fatores como tais como: a perda de sua autoridade, a falta de autonomia para tomada de decisões, a carência econômica e afetiva, dentre outros.
       A Constituição Federal de 1988, formada em pensamentos democráticos, teve como fundamento basilar a cidadania e a dignidade da pessoa humana. Em seu texto, compromete-se com a garantia de mínimas condições para o exercício da cidadania em prol da dignidade do próximo.

“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”


       No Estatuto do Idoso de 2003, Título I, Disposições Preliminares, tem-se:

“Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.”


       Já no Capítulo II, do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade, encontra-se:

“Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.

§ 3º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.”


       Há no país, segundo a Secretaria Especial de Direitos Humanos, um elevado contingente de idosos que desempenha importante papel na família, na economia e na sociedade, dependente de amparo e da proteção social e legal do Estado.
       Por intermédio da Constituição Federal e do Estatuto do Idoso, observa-se que a base das políticas públicas de assistência social não são de assistencialismo, pois apenas descrevem direitos e deveres que a terceira idade e o ser humano em si possuem mas não relatam de que maneira isso se torna viável.
       Segundo Alexandre de Moraes, dignidade conceitua-se da seguinte forma:

“A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.”


       O processo de envelhecimento envolve diferentes percepções, tendo-se inclusive dificuldade de definir quem é realmente velho, ou seja, trata-se de conceito abstrato, que envolve a visão que o próprio ser tem de si mesmo e a observação das demais pessoas que ainda não chegaram a essa faixa etária.
       Assim, existe aquele indivíduo que se sente velho, excluído das relações sociais e familiares e o idoso que não se sente velho por ser economicamente ativo, realizando suas atividades na sociedade inclusive com poder de decisão no trabalho e na família.
       Fatores como a rejeição à idéia de morte, a perda de autoridade e o aparecimento degenerativo de alterações fisiológicas e psicológicas, tornam ruim o aspecto do envelhecimento, dificultando a reversão do conceito erroneamente difundido que se tem de que a velhice é uma doença.
       O próprio indivíduo se vê muitas vezes inútil diante de uma sociedade cada vez mais dinâmica e exigente, necessitando primeiramente da mudança de sua própria imagem de alguém dependente para um ser capacitado a realizar as atividades normais exigidas em todos os ambientes, respeitando, é claro, as naturais limitações impostas pelo tempo, as quais não devem interferir em sua auto-estima, confiança e capacidade individuais.
       Tem-se ainda muito preconceito em relação ao envelhecimento, a velhice e o idoso. Uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo, realizada em 2006, em todo o Brasil, revelou que 80% dos idosos reconhecem sofrer algum tipo de preconceito. O descaso com serviços primários e desrespeito são fatores que agravam o sofrimento das pessoas que ingressam nessa fase da vida.
       Um jargão popular, o qual também é citado em alguns estudos menciona que: "Respeitar o idoso é respeitar a si mesmo”, essas palavras bem compreendida poderiam tornar a convivência, entre idosos e demais segmentos etários, bastante humanizada, porém, trata-se de uma utopia ainda não valorizada pelas gerações de hoje.
       Diria ser até “normal” não se ter a devida preocupação com o envelhecimento. Pensa-se, ainda jovem que a velhice está distante e quando essa fase chegar, tudo será resolvido de maneira diferente de hoje. Por tratar-se de um acontecimento longínquo, chega-se até a questionar: “Quando eu for velho / quando eu for velhinho / bem velhinho / como seremos / como serei / como será?” (versos de Caetano Veloso), porém, pouco se busca realizar enquanto se está na juventude para que a valoração do idoso passe a ser questão prioritária.
       Também não resolve o problema preocupando-se somente com a “minha” velhice. O Estado, como um todo, tem a obrigação de cuidar para melhorar o padrão de envelhecimento da população do país, assim, deve preocupar-se com idosos que estão, paulatinamente, conquistando maior longevidade.
       É importante que a sociedade modifique a maneira de enfocar o envelhecimento, modificando rótulos e mitos existentes sobre a velhice, tendo como meta atingir a melhoria da qualidade de vida. Assim, o primeiro passo compete aos educadores quanto à inclusão na educação, desde criança, da preparação dos profissionais, dos idosos e das famílias numa perspectiva social, deve ser de forma permanente para que se rompam barreiras e elimine vulnerabilidades sociais de todos os segmentos da população nessa fase da vida que é um processo natural que se inicia com o nascimento.... Nascer, crescer, reproduzir e morrer, eis o ditado bíblico o qual todos estamos irremediavelmente subjugados.
       A atuação conjunta da família, da sociedade e do Estado, será decisiva para que juntos possam dividir responsabilidades compartilhadas de proteção e amparo à pessoa idosa, em observância a ditames constitucionais e a princípios de solidariedade humana, de forma pró ativa, visando reverter o atual quadro e poder, no futuro, colher bons frutos dessa semeadura.

              TATIANA MANGETTI GONÇALVES MÜENZER
              Fisioterapeuta – Mestranda em Gerontologia - UCB

Referências:




AFONSO, I.; FARIA, S. Dignidade é o primeiro passo para a valorização do idoso. Disponível em: http://www.mds.gov.br/noticias/dignidade-e-o-primeiro-passo-para-a-valorizacao/.


Espaço Cidadania - Universidade Metodista de São Paulo. Envelhecer com dignidade e qualidade é desafio no Brasil. Disponível em: http://www.metodista.br/cidadania/numero-42/envelhecer-com-dignidade-e-qualidade-e-desafio-no-brasil/.


JORGE, R. Velhice e Dignidade: um desafio para todos. Disponível em: http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo542.shtml.


LIMA, RF. Princípio da dignidade humana, Direitos Humanos, sociedade. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/14076/1/PRINCIPIO-DA-DIGNIDADE-DA-PESSOA-HUMANA-/pagina1.html#ixzz10s6sfj9u.

PEREIRA, CB. A cidadania e a dignidade da pessoa humana na Constituição Brasileira vigente. Disponível em:
http://www.memesjuridico.com.br/jportal/portal.jsf?post=4377.


SALGADO, JM. Envelhecer com dignidade: nossos pais e avós merecem cuidados especiais. Disponível em: http://www.nutraceutica.com.br/saudenamaturidade/Bemestar_envelhecer.htm.


SENA, ECA.; CHACON, PEF. Tutela constitucional da terceira idade: o resgate da dignidade humana da pessoa idosa Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7970.

domingo, 3 de outubro de 2010

Acepção existencial da espiritualidade[1] na velhice


Ao destacar sobre o aspecto da velhice é preciso antes de tudo caracterizar a mesma, observa-se que, todo organismo multicelular possui um tempo limitado de vida e sofre mudanças fisiológicas com o passar do tempo. A vida costuma ser dividida em três fases: a fase do crescimento e desenvolvimento, a fase reprodutiva e a fase da senescência, ou envelhecimento. Na primeira fase ocorre o crescimento e desenvolvimento dos órgãos especializados, o organismo cresce e adquire capacidades funcionais que o tornam apto a se reproduzir. A segunda fase é caracterizada pela capacidade reprodutiva dos indivíduos, que garante a sobrevivência, perpetuação e evolução da espécie. Por isso que se fala que o homem distingue-se dos outros seres vivos pela capacidade de adaptação. A terceira fase, a senescência, é caracterizada pelo declínio da capacidade funcional do organismo.

O interessante é que a grande maioria das pessoas vive intensamente sua vida, na busca sentido e não aceitam a fase do envelhecimento; parece ser algo distante e que não faz parte da realidade cotidiana das pessoas, e, é na fase da senescência que observamos a necessidade da busca pelo sentido de vida em muitos que já não tem a que procurar.

Nesse sentido, o processo de envelhecimento traz consigo muitas questões existenciais que, tradicionalmente, a religião tem tentado responder. O ser humano colocado no mundo vivencia um estado inicial e final de desamparo. Ele tem intrinsecamente a necessidade de sustentação, de proteção e explicação. Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Questões essas, inaugurais do ser humano.

Vale considerar ainda que palavra religião vem do latim, religare, que significa religar, restabelecer a ligação entre Deus e os homens. Já espiritualidade vem do latim, spiritus, que significa “sopro”, referindo-se ao sopro da vida. E envolve a capacidade de se maravilhar, de reverência e gratidão pela vida. É a habilidade de ver o sagrado nos fatos comuns, de sentir a pujança da vida, de ter consciência de uma dimensão transcendente (Elkins,1999).

O que ocorre com muitos idosos, nesta fase da vida como destaca Jung, muitos lutam contra o sentido da vida, surge então a crise existencial, a partir da qual o homem se tornaria menos impulsivo e extrovertido, emergiria na meia idade. A partir de então, ele estaria habilitado a conquistar, para além do conhecimento, a sabedoria, reconhecendo sua própria finitude e fazendo uma revisão de sua vida: “O que foi grande na manhã, será pequeno ao anoitecer e o que de manhã era verdade irá tornar-se mentira ao anoitecer” (Jung, 1987, p.198).

Ou seja, assim como a primeira metade da vida seria marcada pela introdução na realidade externa, a segunda seria caracterizada pela iniciação na realidade interna. O inicial vazio da crise da meia-idade seria indicativo do deslocamento da energia psíquica, o começo de uma transformação. Transformação esta que muitos precisam reaprender a encontrar o sentido da vida, e, um dos elementos que contribui para essa retomada de sentido é a religiosidade e a espiritualidade. Destaca Alves (2004, p. 45) “O homem é um ser inacabado e por isso encontra sua ligação com o Criador. (...) A religião, como a educação, não é para apaziguar os seres humanos, mas para que possa ajudar no estabelecimento de um diálogo entre as pessoas”.

Em nosso atual período, os indivíduos estão ligados para além de crenças e fronteiras, estão cheios, mas de coisas vazias, paradoxalmente, desligados de seus próximos. Os referenciais já não são locais nem particulares como no passado: a família, a comunidade, a cidade, nem sequer a pátria.

A sociedade complexa desenvolve-se de forma descontínua, a era tecnológica, cientificista e impessoal torna passível transformar a experiência acumulada em algo cujo objetivo está voltado totalmente ao lado oposto.

E, portanto, num vazio de sentido diante das novas formas de mal-estar contemporâneo, onde as certezas se evaporam, os paradigmas se deslocam circunstancialmente e as redes de relações e seus significados se diluem e se transformam, sem cessar. A espiritualidade pode representar, assim, uma resposta aos impasses da atualidade em qualquer idade, diante deste cenário de fluidez, fragmentação e impessoalidade.

Referências

ALVES, Vicente Paulo. A religião e seu ensino: prática de ensino e relação interpessoal com alunos. Brasília: Universa, 2004.

ELKINS, David E. Além da religião. São Paulo: Pensamento, 1999.

Jung, C. G. Psicologia e religião. Petrópolis, RJ: Vozes, 1984

GOLDSTEIN, L. L., & SOMMERHALDER, C. (2002). Religiosidade, espiritualidade e significado existencial na vida adulta e velhice. In E. Freitas, & L. Py (Orgs.). Tratado de geriatria e gerontologia (950-955). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

LELOUP, Jean-Yves, et. al. O espírito na saúde. Petrópolis: Vozes, 1997.


[1] A palavra Espírito está representada pela palavra médio-oriental e hebraica Ruah, pela palavra grega Pneuma e pela palavra latina Spiritus. Ela remete para uma experiência mais fundamental que o sopro, a experiência de que a respiração, a vida, o Espírito estão ligados a uma fonte da qual bebem todos os que vivem e respiram. É importante destacar ainda a concepção antiga e moderna de Espírito. O conceito antigo coloca o Espírito como uma parte do ser humano que é transcendente, divina, eterna e que se compõe com o lado terreno e mortal que é o corpo. A morte os separa, o corpo fica aqui e o Espírito vai para a eternidade. Já o conceito moderno, da fenomenologia do Espírito, aparece depois de Kant e Hegel. Diz-se que o Espírito não é alguma coisa mas um modo de ser. O modo de ser da liberdade. Quem é portador do espírito singular e único é o ser humano. (...) (LELOUP, 1997, p.21-22).