terça-feira, 27 de novembro de 2012

A RELIGIOSIDADE E A BIOÉTICA NA FINITUDE DA VIDA.


INTRODUÇÃO

Uma das certezas da vida é o envelhecimento. Pode-se afirmar que o mundo hoje está sofrendo uma transformação demográfica sem precedentes na história da humanidade e esse fenômeno que é o envelhecer traz várias modificações no âmbito social, psicológico e fisiológico, sendo individual e variável ao longo da vida.
O passar dos anos, leva ao que chamamos de envelhecimento biológico, onde se tem as perdas funcionais, progressivas e consequentemente o aparecimento de doenças crônico-degenerativas que aumentam-se as possibilidades da morte.
A finitude é algo de difícil compreensão pelos idosos, pois a cada dia que passa, o que se permanece são  apenas as lembranças do vivido, o apego às crenças e os valores morais e espirituais, que são valorizados, entendidos e respeitados.
A religiosidade é um fator que contribui para o enfrentamento dos desafios da vida, das frustrações e dos sofrimentos, além de estudos mostrarem que a crença pode melhorar de forma considerável a saúde e a qualidade de vida dos indivíduos.
De acordo com Floriano e Dalgalarrondo (2007), a religiosidade é um fator importante nas condições relacionadas aos agravos na saúde física e mental, diminuindo a gravidade e o surgimento das condições que podem ocasionar possíveis enfermidades, contribuindo para o bem estar na velhice.
Por ser considerado algo subjetivo, a religiosidade e a fé dependem da percepção de cada indivíduo, e podem ser abordados como uma forma de esperança para os enfermos e para os idosos, como uma razão de viver.
O tema da religiosidade pode ser discutido como um fator bioético, pois existe a relação entre os fatores biológicos e a razão humana. Segundo Pessini (2006), Van Rensselaer Potter, “pai da bioética”, representou o termo bioética como o conhecimento biológico, a ciência dos seres vivos e a ética associado aos valores humanos.

DESENVOLVIMENTO

Como ensinam as ciências da vida, da saúde e as reflexões fisiológicas e religiosas, o processo de finitude, morte e vulnerabilidade, são características intrínsecas ou ontológicas, dos sistemas vivos, submetidos a um processo irreversível que inclui o nascer, o crescer, o decair e o morrer (SCHRAMM, 2002). Por está exposto aos riscos da vida, os idosos ao longo da sua existência passam a ser potencial da vulnerabilidade à medida que se submete aos riscos e danos da sua própria existência.
No que diz respeito à Bioética, a qual aborda os aspectos morais envolvidos pelos problemas comuns às ciências da saúde, a finitude está ancorada a práticas de cura e/ou cuidados, graças aos avanços da biomedicina (SCHRAMM, 2012).
Porém, uma das consequências principais no aspecto da bioética, relaciona-se as crescentes intervenções nos processos vitais, onde devemos acrescentar as mudanças nas condições de morrer. Cada vez mais as pessoas querem conhecer o diagnóstico que lhe diz respeito e assim, decidir as estratégias que cabem para o processo do fim.
Atualmente, os cuidados paliativos vêm justamente para preencher este espaço existente entre a competência técnica da medicina, da cura e a cultura do respeito da autonomia do ser humano (paciente) às suas decisões (SCHRAMM, 2002).
No campo da religiosidade podemos dizer que, para a população idosa é de extrema importância o apego à espiritualidade, sendo considerada vital para os países onde há a crença pela fé em Deus ou há uma dimensão transcendente, ou seja, uma “força”, uma “energia”, que está relacionada às preocupações da vida que vai além do que é concreto. A espiritualidade assim como a religião, podem ser facilitadores na resolução de problemas, diminuindo as preocupações e os pensamentos negativos a cerca do fim (BARBOSA E FREITAS,2009).
Na análise cristã, o anseio da dor e das perdas dos entes queridos, pode ser amenizado pela expectativa de um novo encontro com os que já partiram da vida. As concepções entre morte e morrer, é o ponto de encontro da existência humana e que comumente gera tristeza e sofrimento. Na história da Idade Média, é onde surgiram as interpretações sobre vida e morte e ainda sobre a vida eterna e ressurreição (DINIZ e AQUINO, 2009).
Para Carvalho (2007), a religiosidade para os indivíduos convém como um apoio indispensável para as perdas ao longo da existência, servindo como indispensável para a compreensão dos acontecimentos da vida que advém de uma força superior e estão relacionados com as crenças de cada pessoa e a sua sabedoria e equilíbrio diante do enfrentamento dos problemas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desafio atual no campo da bioética e da religiosidade está em pensar junto com as novas possibilidades trazidas pelos avanços, ainda que limitados, a ciência da saúde e em particular pela biomedicina, em evitar ou retardar o fim. Aliamos a isso a expectativa que se têm de que não estamos diante do fim, mas frente a uma nova realidade que vai além da existência humana.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA,K. A.; FREITAS, M. H. Religiosidade e atitude diante da morte em idosos sob cuidados paliativos. Revista Kairós, São Paulo, 12(1), pp. 113-134, jan. 2009.
CÁTIA DANIELA RODRIGUES CARVALHO. Luto e relisiosidade. Disponível em: WWW.psicologia.com.pt. Acessado: 27/11/2012.
DINIZ, A. C.; AQUINO, T. A. A. A relação da religiosidade com as visões de morte. Religare – revista de ciências das religiões, nº 6, 09/2009.
FLORIANO, P.J.; DALGALARRONDO P. Saúde mental, qualidade de vida e religião em idosos de um Programa de Saúde da Família. J Bras Psiquiatr, 56(3): 162-170, 2007.
PESSINI, L. Bioética, envelhecimento humano e dignidade no adeus à vida. Em: FREITAS, E.V. Tratado de geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2ª Ed., PP. 154-163, 2006.
SCHRAMM, F. R. Finitude e bioética do fim da vida. Revista Brasileira de Cancerologia, 58(1):73-78, 2012..
SCHRAMM, F. R. Morte e finitude em nossa sociedade: implicações no ensino dos cuidados paliativos. Revista Brasileira de Cancerologia; 48(1):17-20, 2002..


domingo, 25 de novembro de 2012

O papel da religiosidade e espiritualidade na Saúde Mental


O papel da religiosidade e espiritualidade na Saúde Mental



Laíse Franco de Sousa Brandão

Introdução


Nos últimos anos, um crescente corpo de literatura tem explorado as implicações da religião e da espiritualidade no campo da saúde mental. A partir de 1988, A Organização Mundial de Saúde passou a considerar espiritualidade, religião e crenças pessoais como uma área importante na avaliação da saúde e qualidade de vida (MOHR; HUGUELET, 2004).

O efeito da religião sobre a saúde mental tem sido debatido e continua a ser controverso, apesar de alguns resultados positivos em avaliações da pesquisa empírica. A explicação mais plausível para estes resultados mistos é que a relação entre religião e saúde mental não é sensível às diferentes definições adotadas por indivíduos de várias crenças e religiões (JONG-IK et al., 2012).

Desenvolvimento


A maioria dos psiquiatras e outros profissionais de saúde mental, cientificamente treinados, acredita em uma visão de mundo secular,científica. Durante anos permaneceu uma visão negativa da religião no campo da saúde mental. As pessoas religiosas eram retratadas exemplos de doenças psiquiátricas em manuais de diagnóstico (KOENIG, 2007).

Da mesma maneira que os profissionais de saúde mental não têm valorizado o papel da religião nas vidas das pessoas, com e sem doença mental, as comunidades religiosas também têm desenvolvido atitudes negativas em relação aos psicólogos e psiquiatras que são vistos, freqüentemente, como inúteis, ou ameaçando as convicções profundamente arraigadas que são centrais à sua visão de mundo (KOENIG, 2007).

O tratamento habitual dos transtornos psíquicos, basedo no modelo biopsicossocial, envolve a prescrição de medicamentos, intervenções psicológicas e suporte familiar e social. Este modelo não leva em conta a dimensão religiosa do indivíduo, no sentido de uma definição ampla de religiosidade e espiritualidade, ou seja, preocupação com o transcendente, abordando as questões fundamentais sobre o sentido da vida (MOHR; HUGUELET, 2004).

Atualmente, há na literatura crescentes evidências de que a espiritualidade implica fator de proteção, tanto em questões de ordem médica, quanto em problemas da área psicológica, bem como em situações relativas ao campo da educação.

Espiritualidade pode ser definida como uma busca pessoal para entender as respostas às perguntas fundamentais sobre a vida, o significado e a relação com o sagrado. Como as práticas religiosas e rituais diferentes, a espiritualidade pode ser associada com saúde mental, independentemente do tipo de religião (JONG-IK et al., 2012).

A afirmação de que a espiritualidade possa ser uma fonte rica para encontrar propósitos de vida, assim como para formular orientações cognitivas e avaliações de situações vitais, evidencia seu potencial como função mental de buscar sentidos para viver e, em conseqüência, ter, por esse caminho, uma capacidade preventiva nos transtornos mentais (SOUSA et al., 2001).


Conclusão


A religião e a espiritualidade não podem ser reduzidas a mecanismos biológicos, psicológicos, sociais ou a ferramenta terapêutica para as pessoas que sofrem transtornos mentais. Trabalhadores de saúde mental e os que desejam entrar neste campo precisam tolerar a diversidade, entender a importância e respeitar as crenças dos outros mesmo tendo conhecimento de sua própria identidade religiosa e espiritual.

Referências

KOENIG, H.G. Religião, espiritualidade e transtornos psicóticos. Rev. Psiq. Clín. v. 34, supl. 1; p. 95-104, 2007.

JONG-IK, P. et al. The Relationship between Religion and Mental Disorders in a Korean Population. Psychiatry Investig. March; 9(1): 29–35, 2012.

MOHR S.; HUGUELET P. The relationship between schizophrenia and religion and its implications for care. Swiss Med Wkly., v. 26, p. 369-76, jun. 2004.

SOUSA, P. L. R. et al. A religiosidade e suas interfaces com a medicina, a psicologia e a educação: o estado de arte. Rev. Psiq Prat Med., v.34, n. 4, p. 112-17, 2001.

sábado, 24 de novembro de 2012

A HUMANIZAÇÃO COMO PRINCÍPIO ÉTICO NO CUIDADO PALIATIVO AO IDOSO HOSPITALIZADO


A HUMANIZAÇÃO COMO PRINCÍPIO ÉTICO NO CUIDADO PALIATIVO AO IDOSO HOSPITALIZADO
 

1 INTRODUÇÃO

1.1 CENÁRIO E MOTIVAÇÕES

Segundo Carvalho (2011), “a ética é um ramo da filosofia e resulta na filosofia moral ou pensar filosófico acerca da moralidade, dos problemas morais e dos juízos morais”.

O agir na conduta hospitalar apresenta um contexto complexo que se fragmenta em diversos segmentos. Hodiernamente com inúmeras tecnologias e com a busca por especializações cada vez mais específicas, confecciona-se um cenário mais frio e menos humanístico. Valores altruístas do cuidado, práticas holísticas com caráter individual, se contrapõem com o comportamento ambicioso, egoísta e restrito de alguns profissionais, o que provoca uma transformação na qualidade do atendimento das instituições de saúde, podendo alterar a resposta do indivíduo na sua recuperação e reinserção social.

Humanizar é garantir à palavra sua dignidade ética. Ou seja, para que o sofrimento humano e as percepções de dor ou de prazer sejam humanizados, é preciso que as palavras que o sujeito expressa sejam reconhecidas pelo outro (PESSINI e BERTACHINI, 2004). Ter uma entidade de saúde humanizada requer o envolvimento do profissional e do paciente, onde a troca de carinho seja mútua.

Os problemas correferidos a higidez no final da vida, requerem atenção ainda maior por parte dos profissionais que constituem a equipe de cuidados em saúde, pois as necessidades do paciente nesta fase, o fragiliza ainda mais, pela dor e pelo sofrimento, carecendo cuidado continuado, não apenas medicamentoso como também psicológico.

Algumas patologias determinam que o fim esteja se aproximando, então, além das limitações da senescência, o idoso encontra-se com as imposições da senilidade, imposições estas que retiram ainda mais o poder e o autocontrole do ser, destarte, fazem-se necessários cuidados específicos para bem viver no fim da vida.

Burlá (2007) observa-se que:


Os cuidados paliativos constituem uma resposta indispensável aos problemas do final da vida. Em nome da ética, da dignidade e do bem-estar de cada ser humano, é preciso torná-los cada vez mais uma realidade. Os médicos jamais devem perder o foco de atuação: a pessoa doente no final da vida, um processo que pode levar dias, semanas ou meses. A doença terminal atravessa todas as faixas etárias, do recém-nascido ao idoso frágil. Assim, dezenas de milhares de pessoas poderão ser beneficiadas quando o sistema de saúde incorporar essa modalidade de atendimento.


2. DESENVOLVIMENTO

2.1 A ÉTICA E O CUIDADO PALIATIVO

A longevidade é um adjetivo usual para os idosos no Brasil e no mundo, mas algumas adequações ainda são necessárias no contexto social e psicobioespiritual, pelas perdas fisiológicas, que acabam dificultando a fluência espiritual e social, as quais se vinculam a diminuição do poder manter-se autônomo, o que gera uma ameaça para o paciente com relação ao sentido de vida, perda de controle, enfraquecimento da relação com os outros, uma vez que o processo do morrer intensifica o isolamento e interrompe as formas de contato com os outros.

Neste contexto, os valores éticos e humanos permeiam os cuidados paliativos, já que se apresenta como critério nobre na realização de um atendimento hospitalar com caráter de fato promotor da qualidade de vida, mesmo que esta vida se aproxime do fim.

Semelhante ao que relata Candia, (2009), o cuidado humano é exercitado, vivido e sentido no interior de cada um, envolvendo atos, valores e ética que devem fazer parte do nosso cotidiano. O cuidado ético é fazer com que a ação de cuidar, seja moralmente correta. Um dos maiores desafios para os profissionais da saúde é buscar desenvolver uma prática humanizada, em que possamos continuadamente refletir sobre o sentido das nossas ações, reações e atitudes com os pacientes.

O sofrimento na fase terminal da doença é muito mais que físico. Ele afeta não somente o conceito de si próprio, mas também o senso global de sentir-se conectado com os outros e com o mundo. Este sofrimento pode ser sentido como uma ameaça para o paciente com relação ao sentido da vida, perda de controle, enfraquecimento da relação com os outros, uma vez que o processo do morrer intensifica o isolamento e interrompe as formas ordinárias de contato com os outros (PESSINI, s/d).

Corroborando, Gutierrez, Ciampone, (2006) relatam que:


Os profissionais de saúde devem criar possibilidades para que o indivíduo compreenda a sua doença, ao invés de focalizar somente a sua saúde, pois essa conscientização pode ajudá-lo a enfrentar a enfermidade, e até mesmo facilitar a conscientização da aproximação da sua morte. A visão relacionada ao ato de morrer tem se modificado com o decorrer do processo de transformação das sociedades, e estão diretamente ligadas ao estágio de desenvolvimento dessa sociedade, assim como as suas especificidades, valores e ritos. Cabe destacar que, em relação à morte e ao processo de morrer, cada sociedade tem seus próprios comportamentos, hábitos, crenças e atitudes, que oferecem aos indivíduos uma orientação de como devem se comportar e o que devem ou não fazer, refletindo a cultura própria de cada região e, também, diferenciando-a de outros.


            Portanto, em consonância ao que dizem Floriani, Schramn (2008), os cuidados paliativos constituem uma modalidade emergente da assistência no fim da vida, construídos dentro de um modelo de cuidados totais, ativos e integrais oferecidos ao paciente com doença avançada e terminal, e à sua família, legitimados pelo direito do paciente de morrer com dignidade.

            Nesta perspectiva, é importante assinalar que a ética não se preocupa tanto com as coisas como são, mas com as coisas como podem ser, e, especialmente como devem ser (PESSINI e BERTACHINI, 2004). À luz dessas observações como relata Burlá in FREITAS (2011, p.1229), o enfoque da humanização ética no cuidado paliativo é o alívio dos sintomas que comprometem a qualidade de vida, integrando ações médicas em conjunto com as de enfermagem, psicológicas, nutricionais, sociais, espirituais, de reabilitação e assistência aos familiares. Ressaltando que tais medidas não têm caráter curativo, mas pretendem dar conforto ao paciente.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, foi possível constatar que a prática correta do cuidado ao ser humano, perpassa pela conduta ética e humanizada. No que tange a paliação desses cuidados, o cenário apresentado tem o idoso como seu receptor principal, então, uma gama de peculiaridades devem ser consideradas quanto à forma do desenvolvimento do cuidado, não só da doença terminal, como principalmente, contemplar o decréscimo fisiológico inerente ao idoso.

A equipe responsável pela manutenção dos cuidados na instituição hospitalar deverá estar a par do processo do envelhecimento e suas consequências, viabilizando a confecção de uma assistência pertinente ao idoso e suas condições patológicas.

Portanto, o estudo do processo do envelhecimento, dentro da gerontologia, apresenta uma concepção repleta de novos horizontes, vislumbrando circunstâncias mais seguras, éticas e científicas sobre a construção de uma assistência à saúde, o que possibilita dignidade a finitude do ser dentro de seu preceito mais absoluto, ou seja, viabiliza a arquitetura de um atendimento paliativo contemplando a humanização hospitalar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BURLÁ, L. Claudia. Paliação: cuidados ao fim da vida. In: FREITAS, E. V. de; PY, L. CANÇADO, F. A. X.; DOLL, J. & GORZONI, M. (orgs.) Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 3 ed., pag. 1226 – 1241.

BURLÁ, Claudia. Cuidados Paliativos e fim de vida. São Paulo, 2010. Disponível na Internet em: http://www.paliativo.org.br/dl.php?bid=94. Acessado em 16/011/2012.

CANDIA, Maria Aparecida Borlatto de. Enfermagem e o Cuidado Humanizado. São Paulo, 2009. Disponível na Internet em: http://www.webartigos.com/articles/18713/1/Enfermagem-e-o-Cuidado-Humanizado/pagina1.html. Acessado em 12/09/2012.

CARVALHO, Vilma de.  Ética e valores na prática profissional em saúde: considerações filosóficas, pedagógicas e políticas. Revista da Escola de enfermagem da USP vol.45 nº 2 São Paulo Dez. 2011.

FLORIANI, Ciro Augusto; SCHRAMM, Fermin Roland. Cuidados Paliativos: Interfaces, Conflitos e Necessidades. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.13, n.2, 2008. Disponível na Internet em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232008000900017. Acessado em: 18/11/2012.

GUTIERREZ, Beatriz Aparecida Ozello; CIAMPONE, Maria Helena Trench. O Processo de Morrer e a Morte no Enfoque dos Profissionais de Enfermagem de UTIs. Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, v.41, n.4, 2006. Dispinível na Internet em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v41n4/16.pdf. Acessado em 18/010/2012.

JUNQUEIRA, Maria Hercília Rodrigues; KOVÁCS, Maria Júlia. Alunos de Psicologia e a educação para a morte. Psicologia: ciência e profissão. Brasília, v.28, n.3, 2008. Disponível na Internet em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98932008000300006&script=sci_arttext. Acessado em: 20/10/2012.

PESSINI, Leo. Humanização da dor e sofrimento humanos no contexto hospitalar. http://www.redadultosmayores.com.ar/buscador/files/BIOET004.pdf. Acessado em: 24/11/2012.

PESSINI, Leo; BERTACHINI, Luciana. Humanização e Cuidados Paliativos, São Paulo, Loyola, 2004.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Reflexões da Religiosidade no Envelhecimento


O envelhecimento abrange problemas biológicos, fisiológicos e psicológicos que produzem crises existenciais, no entanto, trata-se de um fenômeno normal na vida. Como em todos os momentos do desenvolvimento vital, ao chegar à última etapa da vida, o ancião sente ainda surgir em si algumas perguntas inevitáveis: Quem eu sou? Por que estou neste mundo? Que sentido tem a minha vida? Para onde vou? Como tenho vivido os anos que passaram? Como posso viver bem os próximos anos? Como em toda crise existencial, também essa, a da última etapa, não pode ser superada de modo válido senão por meio da renovação da interioridade. A espiritualidade evidencia a existência de “potenciais forças escondidas no homem que o envelhecer faz desabrochar” (Baldessin, 2002, p. 496).
De acordo com Goldstein e Sommerhalder (2005), por causa das mudanças físicas, psicológicas e sociais que são comuns aos idosos, eles enfrentam mais situações de perdas, declínio da saúde, afastamento do mercado de trabalho e eventos não controláveis, em que seu enfrentamento de um modo efetivo pode ser alcançado através das crenças espirituais e religiosas. Isso porque a religião satisfaz a necessidade de sentido da vida, mais do que qualquer outra coisa.
Questões religiosas e espirituais foram negligenciadas pela ciência e pela gerontologia por muito tempo. Os pesquisadores evitavam estudar a associação entre ciência e religião, pois consideravam que talvez o tema não fosse compatível com o indispensável rigor cientifico. O envelhecimento populacional e o consequente aumento das pesquisas com os idosos levaram os cientistas a perceber que a religiosidade e a espiritualidade são fenômenos importantes nessa faixa etária, que não deve ser ignorados.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) - (World Health Organization - WHO), saúde era definida como “um estado de bem-estar físico, mental, social e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade”. Mas esta definição, na prática, não contempla as necessidades emergidas do homem, fazendo com que muitos teóricos e pesquisadores discutam saúde também como a constituição de valores, da personalidade e estilo de vida. (POTTER & PERRY, 2005)
Para Sousa, Tillmann e Oliveira (2002), atualmente, afirmar que a religiosidade de uma pessoa afeta seu corpo, sua mente, sua interação com os outros, além de seu espírito, soa menos estranho, apesar de que no meio científico ainda é motivo para desconfiança e inquietação.
Porem, cada vez mais se reconhece a importância dos aspectos psíquicos, sociais e também espirituais dos indivíduos. Dentro desse contexto de interceder esses outros aspectos do ser humano, a espiritualidade tem entrado também. E, atualmente, a resistência é muito menor.
Desse modo, podemos ver que o entendimento mundial acerca de saúde tem se modificado. Então, desde a Assembléia Mundial de Saúde de 1983, a inclusão de uma dimensão “não material” ou “espiritual” de saúde vem sendo discutida extensamente, a ponto de existir uma proposta para modificação do conceito clássico de “saúde” da Organização Mundial de Saúde para “um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social e não meramente a ausência de doença”.
Cabe, então, expressar os entendimentos descritos acerca da religiosidade. Acima relatado. Religião é uma palavra que se origina do latim – religare. Seu significado é o restabelecimento da ligação entre Deus e o homem. A função da religião na sua essência é manter e desenvolver a relação do indivíduo com o sagrado. Sua proposta é dar um significado à vida. Dessa maneira, ela pode fornecer subsídios para que o indivíduo transcenda o sofrimento, perdas e a percepção da morte (GOLDSTEIN & SOMMERHALDER, 2002)

Referências

Baldessin, Anísio. O idoso: viver e morrer com dignidade. Netto, Matheus Papaléo. (Org.). In: Gerontologia: a velhice e o Envelhecimento em Visão Globalizada. São Paulo: Atheneu, 2002, p. 496.
GOLDDTEIN, L. L.; SOMMERHALDER, C. Religiosidade, espiritualidade e significado existencial na vida adulta e velhice. In: Freitas e colaboradores: Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
POTTER, P. A.; PERRY, A.G. Fundamentos de enfermagem. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2005.
SOUSA, Paulo L. R; TILLMANN, Ieda A.; HORTA, Cristina L; OLIVEIRA, Flávio M. A. religiosidade e suas interfaces com a medicina, a psicologia e a educação. Psiquiatria na Prática Médica. Centro de Estudos - Departamento de Psiquiatria - UNIFESP/EPM. v. 34, n.4, 2001/ 2002. Disponível em: http://www.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/index.htm. Acesso em: 05 set. 2005.


Correção em breve

Olá, alunos e alunas,
em breve darei retorno a todos(as) vocês da avaliação do blog.
at.
prof.Vicente

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ciclo de vida: as entrelinhas do processo de nascer, viver, envelhecer e morrer. - Rosemeire



1 - Introdução
Se formos analisar do ponto de vista cronológico, uma pessoa é considerada idosa a partir dos 60 anos. Porém se isso for visto com base em outros fatores ainda é possível encontrar idades além desta, uma vez que nos países desenvolvidos, as condições de vida propiciam uma maior longevidade com maior qualidade, o que acaba por retardar o processo de envelhecimento.
Biologicamente falando a senilidade começa a partir do declínio de certas características físicas. Este declínio está relacionado ao desgaste do organismo como um todo, desde o sistema imune até a estrutura óssea, muscular, a capacidade de se processar determinadas substâncias, e a própria função cerebral pode ficar diminuída. O que é importante destacar é que ser idoso não significa ser doente. Quando dizemos que poderá eventualmente culminar em determinada doença, queremos dizer que isso pode demorar mais ou menos para acontecer, e que não acontece necessariamente com todos os indivíduos.
Mesmo que envelhecer e morrer seja experiências vitais e comuns de cada ser, são peculiares a cada época, cultura e lugar na história da humanidade. O envelhecimento hoje é tema de interesse mundial tendo em vista o aumento de idosos, já que as expectativas de vida hoje são bem maiores que na antiguidade devido aos recursos tecnológicos utilizados pela medicina nas suas terapias contra as patologias.
A religiosidade e a espiritualidade são temas de destaque com esta nova realidade, pois, observa-se uma valorização das crenças e dos ofícios espirituais por parte do público idoso que sentem a necessidade de se manterem inseridos neste contexto. É como se a religião os mantivesse vivos e socialmente ativos.
Apesar de ser novo, o termo bioético se instalou nos campos de estudos e das ciências envolvidas com bastante força, porém, é bom salientar de sua importância nos processos de pesquisa, uma vez que é necessário ter discernimento ético para escolhermos este ou aquele método que não firam a dignidade do ser humano no processo de aquisição de mais conhecimento e que lhes proporcionem sempre mais perspectivas de qualidade de vida e felicidade de viver.
O processo de envelhecimento é algo que acompanha a todos desde o nascimento. O que torna a velhice tão difícil de ser aceita é que esta é a fase em que a vida mais se aproxima do seu final, chegando a ser vista como sinônimo de morte para algumas pessoas. Mas devemos lembrar que a morte não é privilégio dos idosos. É preciso compreender a velhice, sem eufemismos, como qualquer outra fase da vida – parte de um processo natural e próprio de cada ser.
2 – Desenvolvimento
A finitude é inerente à condição de um ser vivo. Pode ser aplicada a um ser inanimado. Quanto mais se vive a senilidade se manifesta nos indivíduos, o tempo não perdoa quem quer que seja. Por sermos finitos nossas ações se esgotam na morte biológica do ser. Isso causa angustia, uma vê que de forma consciente e ou inconsciente temos em nos o desejo e as expectativas na infinidade, isso se dar devido nossa criação ser à imagem e semelhança de um Deus divino e eterno.
O tempo acompanha a humanidade de muitas formas. A arqueologia revela que o homem, ainda nas suas formas as mais primitivas, já buscava um entendimento do tempo, enquanto desenvolvia a consciência de que se encontrava sob os feitos do próprio tempo. A compreensão do tempo tornou-se assim uma tarefa permanente para a humanidade, que até hoje não foi concluída” (Py e Trein pag. 1353)
Em termos simples podemos definir a finitude como algo que está fixada no corpo físico, ou seja, na cotidianidade da aventura humana e a infinitude como algo que atravessa o imaginário, nas ilusões do desejo humano de ser eterno. Isso se dar devido ao fato de amarmos a terra e suas maravilhas, nossa prole, amigos e tudo que nos rodeia em forma de natureza. A espiritualidade também nos deixa marcas de um universo infinito, e que todo tempo que se vive ainda é pouco para tantas maravilhas e bênçãos de um criador que é eterno.
O tema da finitude, articulado ao envelhecimento, nos convida a uma profunda reflexão, pois esse estudo nos leva até as fronteiras da vida, ao encontro dos nossos velhos e dos nossos mortos; à recusa da nossa velhice e da nossa própria morte. Aguça-nos a interpelação mais íntima, enquanto sujeitos desejantes e sempre frustrados na satisfação imaginada. Oscilando na incerteza, e mergulhados na dúvida, somos impelidos a procurar, em nossos estudos, uma compreensão desses fenômenos vitais que pautam nossa existência.” (Py e Trein pag. 1353)
Os idosos acumulam anos e isso é parte concreta de sua existência no tempo é no espaço. Ser alguém é você se colocar na vida num processo dinâmico. È por isso que nascemos, crescemos, criamos consciência de nossa existência, casamos, procriamos, temos netos, e nesta face da somos idosos, com uma bagagem imensa de experiências. E todos os acontecimentos que fomos acumulando ao longo nos anos, nos fazem gente, nos faz existir para nos e para os outros, assim, passamos a ter uma melhor compreensão de nos mesmos e da vida e do ele representa de fato para nós. Desta maneira encaramos de forma saudosa e positiva o nosso processo de envelhecimento e vemos que as coisas valem a pena, que somos importantes e que mesmo fragilizados ainda se pode ter dignidade na vida. Todo o sentido da vida está na questão do futuro que nos aguarda: se não sabemos o que queremos, então não podemos saber o que somos.
[...], envelhecer requer autopossessão e integração, como qualquer outro estágio da vida, tal como a adolescência, a juventude ou a idade adulta. A velhice terá um sentido no fim somente se a vida tiver um sentido no seu todo. O inevitável é que, nos últimos anos, existe uma perda, diminuição dos talentos e das capacidades. Deve-se encontrar um novo sentido para de vida que sustente tal experiência, uma ressignificação. Frequentemente entendemos a velhice como direcionada para a morte, mas não devemos esquecer que ela é também direcionada para o crescimento” (Pessini, pag. 154)
A vida pode e deve ser contemplada em todo o seu ciclo e não nos martirizarmos com o fato de que um dia iremos envelhecer, pois, isso acontecerá de fato com todos. Cada estágio que a vida nos apresenta tem suas glórias, batalhas, superações e recuos, e não é diferente na velhice, é apenas mais uma jornada a ser vivida e termos consciência disso nos ajudará a enfrentar seus dilemas e desafios com a cabeça erguida de sempre.
Na era contemporânea em que vivemos, onde um arsenal de tecnologia nos dão conforto e ocupações jamais vistas em décadas passadas, o homem se ver muitas fezes ocupado demais para dedicar tempo em cuidar de uma população envelhecida que só aumenta dia a dia. Sendo assim ver-se muitos idosos sem amparo familiar adequado no suprimento de suas necessidades muitas vezes tidas como básicas. Ai surge uma pergunta reflexiva: Será que não mais conseguimos nos enxergar nossa semelhança nestes idosos? Amanha seremos um deles e certamente não queremos menos do que vamos necessitar. É urgente que nos enxerguemos na pessoa idosa, por termos visão e prática de solidariedade, humanizando-nos sempre neste sentido, e por assim agirmos estaremos mostrando madureza, respeito e dignidade para com estes que tanto já fizeram por nós.
No mundo ocupado com a complexidade e a sofisticação do quantitativo de questões em ascensão e urgência contínuas, a concretização do alongamento da vida se contrapõe à carência das condições de qualidade de vida e da valorização simbólica da velhice. Esse contexto acirra a resposta defensiva do ser humano, expressa numa recusa a identificar-se e reconhecer-se na sua atualidade de homem velho ou de mulher velha. Sobressaem os mecanismos de negação da realidade da velhice, que se revelam nos níveis pessoal e social. Essa situação demonstra a origem e o produto, a um, só tempo, do medo da velhice fundido no medo da morte. Medo lincado no horror e na repulsa, sentimentos de que o meio sociocultural se utiliza para forjar, no indivíduo, o trabalho psíquico de representação negativa da velhice, ao longo do seu processo de identificação.” (Py e Trein pag. 1355)
Muitas emoções se colocam a flor da pele para estes que agora entram num contexto de mudanças significativas. De repente a pessoa se ver entrar num processo de degeneração física, social, emocional, familiar, psíquica e espiritual e tudo isso lhe traz saudosas lembranças dos feitos e a temida expectativa do desconhecido e cheia de mitos que é a velhice propriamente dita, é como se de uma hora para outra o cordão umbilical da chamada “vida” se rompesse para sempre e que agora sim, a morte será uma triste companheira.
Para pensar a finitude e a infinitude na perspectiva do envelhecimento humano, fomos buscar fundamentos para o tempo e encontramos a ruptura do tempo. Em meio às crises que vivemos, triunfa a transição entre o desmoronamento da realidade e o desmoronamento de uma outra, vivida no dilaceramento e no alívio pelo que vamos perdendo, contrapondo-se à ameaça e a esperança no novo que nos vem invadindo. A ruptura do tempo é de outrora da supremacia do homem sobre o mundo físico, a biologia e a história, supremacia que rege o processo de transição para um tempo que é outro.” (Py e Trein, pag. 1357)
Ter conhecimento e consciência que a vida possui seus estágios pré-determinados que iniciam com o nascimento e culmina com a velhice e morte, nos dão suporte necessário para enfrentar estes desafios condicionados ao organismo humano. Morte e vida são companheiros que não se separam, mas isso não significa que devemos ser escravos na morte e não vivermos plenamente. Na verdade entender isso de fato é que nos proporciona vivermos mais e melhor nos preparando por assim dizer para morrer com dignidade.
A realidade nos vai escapando, na negação advinda da manipulação do tempo que provoca os sinais de envelhecimento do corpo. A ação do tempo já é passível de ser aplacada pela engenhosidade da tecnologia virtual; e não conseguimos imaginar até onde podemos chegar, embaladas pelo arsenal de protelação da velhice e, por extensão, da morte.” (Py e Trein, pag. 1357)
É importante reconhecermos os idosos como nossos mestres e diz que, para que isso aconteça de fato é preciso ter sabedoria. É preciso não ser negantes do nosso próprio processo de envelhecer que dar-se início no nosso nascimento e que muitas vezes em nome de um orgulho que se mostrará fraco no futuro, viramos as costas para aqueles que nos pedem auxílio e no futuro será nós a assumir este papel de apelação.
O processo de envelhecer é a gradual plenificação do ciclo da vida. Ele não precisa ser escondido ou negado, mas deve ser compreendido, afirmado e experimentado como um processo de crescimento pelo qual o mistério da vida lentamente nos revela. Sem a presença dos idosos poderíamos esquecer que estamos envelhecendo. Eles são os nossos profetas, eles nos lembram de que o que vemos tão claramente neles é um processo do qual todos, sem exceção, participamos. Muito já se escreveu sobre o idoso, sobre seus problemas físicos, mentais, afetivos, espirituais.” (Pessini, pag. 159)
Portanto, é nossa a tarefa em ajudar os idosos a assumirem seu papel na sociedade que é o que ser nossos mestres, já que estes possuem experiências que não temos, restaurando assim os laços de comunicação muitas vezes distanciados entre as gerações. E também sermos seladores de sua integridade moral e física.
Cuidar dos idosos significa, antes de tudo, entrar em contato com o nosso próprio processo de envelhecimento: sentir a dimensão do tempo, realidade nos constituindo como ser, e estar consciente dos movimentos do ciclo da vida.” (Pessini, pg. 160)
Para entendermos a respeito da discussão sobre a religião, religiosidade e espiritualidade, vejamos os conceitos básicos destes termos: Religião é o sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos designados para facilitar o acesso ao sagrado, ao transcendente (Deus, força maior, verdade suprema ...). Religiosidade é o quanto um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião. Pode ser organizacional (participação na igreja ou templo religioso) ou não-organizacional (rezar, ler livros, assistir programas religiosos na televisão) e a espiritualidade é uma busca pessoal para entender questões relacionadas à vida, ao seu sentido, sobre as relações com o sagrado ou transcendente que podem ou não levar ao desenvolvimento de práticas religiosas ou formações de comunidades religiosas.
Religiosidade é uma das formas de expressão da espiritualidade. Espiritualidade vem do latim spiritus, que significa “sopro”, em referência ao sopro da vida. [...]. Também tem sido caracterizado como a capacidade de ter fé, amar e perdoar, adorar, ver além das circunstâncias e de transcender o sofrimento [...]. Espiritualidade é uma reflexão sobre o significado da vida. Religiosidade e espiritualidade são conceitos diferentes, mas apenas recentemente os pesquisadores começaram a considerar as dimensões da espiritualidade separadamente das crenças e dos comportamentos religiosos, criando instrumentos diferentes para avaliá-las. Embora ter uma religião não seja unanimidade entre as pessoas, é grande o número de indivíduos que têm espiritualidade [...]. Enquanto a espiritualidade remete a uma reflexão sobre, a religiosidade, a religiosidade remete a uma relação com. Essa relação pode ser com Deus ou com uma entidade ou um ser superior diferentemente nomedo.” (Sommerhalder e Goldstein, pag. 1307)
As necessidades espirituais são próprias dos seres humanos e pelo que se observa existe uma tendência de se manifestar em alguns casos à medida que se aproxima a finitude. O bem-estar espiritual protegeu as pessoas do desespero do fim da vida e em algumas situações agem como paliativos depressivos ou patologias físicas. Por isso a abordagem espiritual não dever ser negligenciada, pois, ela tem se mostrado auxiliadora no processo de envelhecimento e morte.
A epidemiologia da religião tem demonstrado a validade da religiosidade e da espiritualidade como tópicos de pesquisa. Os estudiosos estão questionando o motivo, tentando identificar os caminhos biocomportamentais ou psicossociais mediante os quais as práticas religiosas e espirituais promovem a saúde ou evitam doenças. Entre os mecanismos explanatórios que as pesquisas procuram investigar, estão:
  1. Promoção de comportamentos e estilos de vida relacionados à saúde quando por exemplo as religiões proíbem ou desencorajam o consumo de álcool e fumo, o que diminuiria o risco de doenças e aumentaria o bem-estar.
  2. Provimento de suporte social – e, muitas vezes, instrumental – por parte das comunidades religiosas, estimulando o sentimento de irmandade, de auxílio mútuo, de amor fraterno, o que proporcionaria mais relacionamentos interpessoais e sensação de pertencimento a um grupo. Isso ajudaria a diminuir o estresse a atuaria como um recurso de enfrentamento eficaz, uma vez que indivíduos com menos contatos sociais e maior instabilidade emocional têm maiores probabilidades de contrair doenças e de mortalidade [...].
  3. Satisfação da necessidade fundamental de percepção de que a vida tem significado, de que é algo mais do que simplesmente estar um instante fugaz no universo, modificando a percepção de situações estressantes ou eventos traumáticos. Além disso, a religião promove a esperança de que, no fim, tudo estará bem.” (Sommerhalder e Goldstein, pag. 1312)
3 – Considerações
Como foi pontuado no decorrer deste trabalho, a discussão e reflexão sobre bioética nos traz a tona ideias relacionadas a um resgate da vida humana e de seus valores que engloba todo seu ciclo de vida, em especial na face de senilidade aonde muitas vezes vem sendo deixado de lado. Fala também sobre o respeito fúnebre, pois todos têm direto de uma morte digna e os momentos pré-morte devem ser bem assistidos, longe de dor e constrangimento. Isso vai além da dimensão física-biológica, inclui também as dimensões sociais, relacionais, cósmicas e ecológicas, uma vez entendendo que o ser humano é parte de um todo universal.
Sendo o indivíduo um ser finito, que passa por estágios que culmina no envelhecimento e morte, ele deve ser poupado de dor e sofrimento. Os métodos paliativos devem ser empregados assegurando assim conforto permanente. Jamais negar a este ser as relações interpessoais no qual inclui o apoio familiar, o de profissionais e dele próprio, pois a sua condição moribunda não lhe tira o direito de estar a par de tudo que esta acontecendo ao seu redor e consigo mesmo.
Não permitir que as questões modernas da contemporaneidade faça uma ruptura das relações humanas, físicas, biológicas e histórica pela ação do homem. Humanizarmos e sermos sensíveis ao ser finito que se despede na vida são os recados mais forte que bioética nos traz neste trabalho.
Hoje como se sabe, a gerontologia possui maior condição de enxergar os assuntos pertinentes ao processo de envelhecimento. Neste aspecto inclui-se a religiosidade e a espiritualidade que muito tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida dos idosos. Entender isso é uma forma de emancipação, já que os envolvidos no processo passam a ter uma maior e significativa participação da vida social em suas comunidades, o que repercute de forma saudável na vida da pessoa senil.
Mesmo que ainda haja um longo caminho a percorrer, estudos como este vêm a somar na luta sobre o resgate da dignidade humana na terceira idade como muito se praga no campo da bioética.
4 – Referencias
Pessini , Leo, Bioética, Envelhecimento Humano e Dignidade no Adeus à Vida – capitulo: 15
Py, Ligia e Trein, Franklin Finitude e Infinitude: Dimensões do Tempo na Experiência do Envelhecimento - capitulo: 144
Sommerhalder, Ginara e Goldstein Lucila L., O Papel da Espiritualidade e da Religiosidade na Vida Adulta e na Velhice – capitulo: 139.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

INTRODUÇÃO
Partindo do princípio de que o ser humano crê na existência de um ser divino que nos
concede a vida, o envolvimento com a espiritualidade é um fator constante em nossas vidas.
Seja em menor ou maior intensidade, o fato é que todos reconhecem a importância de se
buscar a Deus por meio de uma religião, almejando a espiritualidade necessária para sentir-
se bem.
No que consiste aos idosos em que a fragilidade – cujas vidas são menos controláveis,
mais ameaçadoras, com perigos iminentes e imprevisíveis – é uma tônica entre os membros,
Negreiros (2003) afirma que a espiritualidade possui uma conotação ainda maior: constituiu-
se em poderoso fator de suporte para enfrentar desafios, frustrações e sofrimentos, além de
melhorar consideravelmente a saúde e a qualidade de vida destes membros.
O que se extrai de inúmeras pesquisas neste sentido é o benefício alcançado neste
binômio espiritualidade-envelhecimento, embora, reconheça-se, ambos os termos são de
difícil conceituação, pois eivados de certos preconceitos. De qualquer forma, uma vez que
a espiritualidade possa proporcionar ao idoso melhoria de condições de vida e de saúde
(por meio do autoconhecimento, da prática de virtudes, adaptação a condições adversas,
interação social, devoção religiosa, etc.), perpassando pela aceitação e preparação para
a morte (crença na manutenção do espírito, transcendência a si próprio, ao tempo e
ao espaço; desapego, etc.), isso, por si só, já oferece os benefícios necessários para um
envelhecimento mais “aceitável” e menos penoso.

DESENVOLVIMENTO
Na compreensão de envelhecimento e espiritualidade no campo de aplicação aos
idosos, importante contribuição trouxeram e Moberg e Brusek (1978). Os citados
pesquisadores destacam duas dimensões de espiritualidade: a horizontal, representada
como um recurso interno e subjetivo, mobilizado pela experiência de doação de si, de
fraternidade, através do contato mais íntimo consigo próprio, com a natureza, arte, poesia,
ou quaisquer ideais visando ao bem-estar social, a solidariedade, o cuidado, a tolerância,
entre outros. E a vertente vertical que caracterizaria um movimento em direção a Deus, a
um Ente Superior, ao grande Senhor. De acordo com os autores, de qualquer modo, ambas
as dimensões não seriam excludentes entre si e cada uma, a seu modo, estaria ligada a
alteridade.
A religiosidade e a espiritualidade sempre possuíram pouca importância no campo
científico, obtendo maior aceitação em anos recentes. Estudiosos passaram a compreender
que o bem-estar espiritual passou a ser compreendido como um importante vetor de
avaliação do estado de saúde do paciente em conjunto com as demais características, como
as corporais, psíquicas e sociais.
Duarte et all. (2008) asseveram que os idosos veem a religião como algo
fundamentalmente importante. Tal fato pode ser facilmente compreendido se levar em
consideração que o idoso enxerga o término de sua existência como uma busca de respostas
que, invariavelmente, é encontrada nas religiões e/ou crenças. De fato, com o avançar da
idade, a importância atribuída à religião aumenta exponencialmente.
Conquanto não haja uma relação direta entre a religião e a saúde, é verdadeiro que
indivíduos que se importam firmemente com a espiritualidade denotam uma maior
orientação coletiva, mais altruísta e menos egoísta. Assim ocorrendo, tais indivíduos passam
a evitar condutas extremadas, tais como: embriagar-se, dirigir em alta velocidade e/ou
promiscuir-se em relações íntimas. Ademais, buscam associar-se a uma rede de relações
sociais mais ativa e de larga amplitude.

CONCLUSÃO
Professar alguma fé e viver a espiritualidade parece ser a chave da solução de muitos
problemas enfrentados pelos idosos no dia a dia, permitindo maior satisfação e menores
sentimentos de desesperança. Religiosidade e espiritualidade possuem fundamental
importância na saúde dos indivíduos, embora a relação envelhecimento-espiritualidade
exista somente na teoria.
Com o avançar dos anos é natural a procura por um núcleo de estabilidade, na
esfera íntima. Neste sentido, o indivíduo olha para a própria vida sob uma nova perspectiva,
buscando dar-lhe um sentido, uma integração do longo passado com o fugaz presente e com
um incerto e mais curto futuro.
Ademais, através da consciência de que o próprio tempo de vida não é tão vasto
quanto os ideais, e pela tentativa de aproximação da vastidão das idealizações com
as possibilidades das realizações, opera-se uma mudança na direção desses ideais na
expectativa de cumpri-los: valorizar cada momento, tentar viver mais e melhor, perdoar,
orar, meditar, doar algo, deixar obras, mensagens e legados para as futuras gerações, etc.
Enfim, praticar virtudes e aspirar à transcendência, ambas melhor obtidas se combinadas
por meio da relação entre envelhecimento e espiritualidade.

Referências: DUARTE, Y.A.O.; LEBRÃO, M.L.; TUONO, V.L.; LAURENTI. (2008). Religiosidade e envelhecimento: uma análise do perfil de idosos do município de São Paulo. Saúde Coletiva,
año/vo. 5, nº 024. Disponível em <http://redalyc.uaemex.mx/pdf/842/84252404.pdf>;
NEGREIROS, T. C. G. M. (2003). Espiritualidade: desejo de eternidade ou sinal de maturidade?
Revista Mal-Estar e Subjetividade. Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/pdf/malestar/
v3n2/03.pdf>; Moberg, D. O., & Brusek, P. M. (1978). Spiritual well being: A neglected subject in
quality of life research. Social Indicator Research, 5, 303-323

Religiosidade e a finitude humana


                  1. Introdução

A morte ainda é vista como um tabu na sociedade brasileira. É um tema sempre presente na saúde pública. Diferentemente  de outras culturas, em que chega a ser celebrada, a morte é evitada e o advento de terapias alternativas na Medicina como a anti-aging (que levou à proibição recente do Conselho Federal de Medicina) tornam o debate ainda mais polêmico e acirrado.
Como maior país da América Latina e sexta economia mundial, o Brasil ainda carece de legislação a respeito do assunto e encontra-se atrás de algumas nações ao redor do mundo. O envelhecimento populacional quebra paradigmas e exige posicionamento das lideranças brasileiras. 



            2. Religiosidade e a finitude humana

Como um país de maioria cristã, o Brasil, de uma maneira geral possui a crença na continuidade espiritual após a morte. Paradoxalmente há toda uma cultura em se evitar falar dela, bem como o sentimento de sofrimento extremado quando esta ocorre (REGO, PALÁCIOS, 2006).

          Realizar um novo conceito de humanização da morte tendo como base a evolução tecnocientífica também leva a repensar a Bioética como antes conhecida. O advento de novos meios para manutenção da vida em condições adversas leva à essa reflexão (SCHRAMM, 2005).

Esse comportamento é observado não raramente entre famílias em situações em que o idoso encontra-se em estado grave em unidade de terapia intensiva, sem chance de recuperação, porém mantido por um aparato sem fim de máquinas e fios. Ele muitas vezes já se encontra inconsciente, não mais contactuando com os parentes ou o mundo exterior. Mas é mantido “vivo” (SCRAMM, 2005).

O que deveria ser utilizado para aumentar a qualidade de vida e dignidade do ser humano torna-se um instrumento totalmente oposto ao que se propôs, já que não leva em consideração o desejo do ente principal envolvido no processo e a morte é tida como a derrota e não o rito de passagem para a verdadeira vida plena (SCHRAMM, SIQUEIRA BATISTA, 2003).

Morte e vida são potências ambíguas de um mesmo processo como: Vida e morte, vigília e sono, juventude e velhice; pois quando não é uma é a outra (apud KIRK et al. 1994).

O mesmo se dá com a morte em vida – ou seja o caráter de invalidez a que o indivíduo vai sendo incorporado à medida em que envelhece. Ele vai sendo negligenciado, o seu conhecimento e sabedoria parece não terem valor, pois ele se encontra em um corpo sem o vigor da juventude. É então ignorado e deixado de lado, sozinho, muitas vezes à mercê de sua própria sorte (SCHRAMM, 2004).

Em uma sociedade como a nossa, volúvel, em que tudo parece ser feito de plástico – desde os relacionamentos amorosos e interpessoais à questão de como é tratada a morte – é complicado convocar à uma reflexão mais profunda e verdadeira, em que tem-se que aqueles que não possuem determinadas marcas de roupa de uma numeração específica ou com o rosto impecavelmente sem rugas são discriminados e vistos como mal-sucedidos (KOVACS, 2003).


                 3. Conclusão

A cultura da sociedade brasileira deve ser repensada, de maneira mais racional, e trabalhada em seus medos e angústias. Se é declaradamente cristã, deve seguir os preceitos a que se propõe, aceitando e abraçando a velhice com a sua realidade física e psíquica, preparando-se para a morte e a vida eterna da alma. Se é a única certeza que temos ao nascer, qual seria o sentido de tentar inúmeros artifícios para uma busca incessante pela juventude em vida?
Políticas em educação poderiam ser desenvolvidas para a desmistificação e tratamento da morte como um processo natural e presente na vida de todos aqueles que nasceram e existiram.



Referências:

Floriani CA, Schramm FR. Atendimento domiciliar ao idoso: problema ou solução? Cad Saúde Pública 2004; 20:986-94.
 Kirk GS, Raven JE & Schofield M 1994. Os filósofos pré- socráticos: história crítica com seleção de textos. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. 
 Kovács M J, Bioética nas Questões da Vida e da Morte; Psicologia USP, 2003, 14(2), 115-167.
 Rego S, Palácios M. A finitude humana e a saúde pública; Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1755-1760, ago, 2006.
Siqueira Batista R, Schramm F R, Eutanásia; Pelas veredas da morte e da autonomia; Ciência & Saúde Coletiva, 9(1):31-41, 2004.


          

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ENVELHECIMENTO E VELHICE: CAPACIDADE DE RESILIÊNCIA


1 INTRODUÇÃO

 

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria,

Aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem.

(João Guimarães Rosa, 1965, p. 241).

 

 

Na citação acima, Guimarães Rosa, afirma que a vida corre e que durante seu trajeto ela vai embrulhando, juntando todos os acontecimentos e que eles vão se fazendo e perfazendo de extremos e paradoxos que são necessários para viver e dar um sentido a vida. Pois, como seria viver sempre as mesmas sensações? Ou como seria seguir sempre uma estrada sem curvas? E sendo assim, onde estariam as emoções?

Envelhecer, acima de tudo, é viver e viver com emoção dando sentido a trajetória inexplicavel e única  que é a vida. E para isso, afirma Guimarães Rosa, é preciso ter coragem. Coragem para sofre as mudanças, para aceitar o novo, o qual está ficando velho, coragem para mudar a “casca” e coragem para permanecer o mesmo, para não perder sua verdadeira forma, seu ítimo e sua essência, ou seja, assumir uma capacidade única, a qual, chamamos de resiliência.

Segundo Papaléo Netto (2007), o envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, no qual as modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, determinam perda da capacidade e adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência dos processos patológicos que terminam por levar o indivíduo à morte.

Estudos mostram que a capacidade de resiliência está aliada à criatividade, a religioasidade e a espiritualidade e estes fatores são imprescindíveis ao ser humano, para ampará-lo nos processos de mudanças e nos percalços da vida, seja um abandono, uma patologia, ou mesmo a aceitação de um processo biológico e natural da vida: o envelheciemnto.

Segundo, Houaiss e Villar (2001)na física a palavra resiliência significa propriedade que alguns corpos apresentam de retomar sua forma original, após terem sofrido uma deformação elástica. Portanto, a resiliência é aplicada ao homem como capacidade de resistir os obstáculos da vida, com critatividade e esperança, sem perder sua verdadeira essência de pessoa humana.

A velhice é um fenômeno biossocial que não existe singularmente e nem de modo tão evidente quanto se costuma enunciar. Isto é, não existe a velhice, existem “velhices”; o que também significa que não existe velho existe velhos: “velhos e velhos”, em pluralidade de imagens socialmente construídas e referidas a um determinado tempo de ciclo da vida (MOTTA, 2001).

À medida que o ser humano envelhece, enfrenta uma série de acontecimentos, como o aparecimento de doenças, a perda de amigos e familiares, a viuvez, a aposentadoria, o isolamento, que podem acarretar uma crise ao idoso. E esta, por sua vez, pode ser encarada de várias formas, dependendo da pessoa que está enfrentando e do espaço em que vivi.

Algumas pessoas na terceira idade se sentem apoiadas por amigos e parentes, e que aceitam o envelhecimento como um processo biológico natural do ser humano, modificando-se e adaptando-se as mudanças vindas com ele, geralmente, conseguem superficializar essa crise, ou evitar uma progressão para gravidade. Outros, porém enxerga o envelhecimento como uma condição destruidora e avassaladora, e sentem-se frágeis e incapazes de enfrentar essas mudanças, instalando-se assim, uma crise mais agravante á saúde do corpo e da mente.

A resiliência passou a ser então uma nova lente, uma nova chave de compreensão da experiência humana que, intrinsecamente, vem marcada pelo sofrimento (SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).

Portanto, é relevante notar que a resiliência, mesmo, que pouco percebida e reconhecida está presente em muitas pessoas, principalmente, àquelas que estão sofrendo constantes mudanças biopsicossociais, e a estas é válido enfatizar o processo de envelhecimento e o estado da velhice que devido às transformações e adaptações torna o idoso um ser dotado de resiliência.

 

 
 

2 DESENVOLVIMENTO

 

2.1 Envelhecimento

 

Segundo Papaléo Netto (2007), o envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, no qual as modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, determinam perda da capacidade e adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência dos processos patológicos que terminam por levar o indivíduo à morte.

O envelhecimento biológico pode ser considerado como a involução morfofuncional que afeta todos os sistemas fisiológicos do corpo humano, de forma mutável e variável. Do ponto de vista psíquico, o envelhecimento representa a conquista da sabedoria pela experiência de vida e da compreensão plena do sentido da vida.

Envelhecer e morrer são experiências vitais singulares, próprias de cada ser. Contudo, são reguladas por padrões socioculturais que definem a significação de cada uma dessas experiências humanas, na especificidade de uma época e um lugar na história da humanidade (PY e TREIN, 2010).

            De acordo com Ly e Trein ( 2010) a velhice é um momento especial da vida , quando se encontra em condições de vulnerabilidade diante de maiores possibilidades de adoecer, não mais com a consciência de finitude que, simplesmente, lhe proporcionou maturidade, mas, agora com a consciência da própria morte.

            Desta forma, há de convir que o envelhecimento  traga a velhice, e esta consigo aliada a idéia de finitude, então como aceitar o fim? De onde vem tanta aceitação? Pois, a idéia de nascer, viver, envelhecer e morrer não cabe a todos. No entanto, deve-se acreditar na teoria do ciclo da vida acompanhado da capacidade de adaptação, aceitação e superação da idéia de morte como simplesmente o fim, mas, como um novo recomeço, e daí vem a resiliência fazendo um elo com a espiritualidade e a religiosidade para dar melhor compreensão a existência humana.

 
2.2 Espiritualidade e Religiosidade

 

A espiritualidade e a religiosidade caminham juntas, onde a corrente de fé e crença que se confundem e, por muitas vezes, fundem-se numa força maior dando credibilidade e sentido a vida e a morte. E esta última, que seria apenas o fim, é vista como um recomeço, uma nova chance, e para muitos o encontro com Deus e por fim a aceitação.

À medida que o envelhecimento aparece, ocorre também um maior apego e dedicação a religião, ou seja, há uma idéia de fim (morte) e uma idéia de recomeçar (espiritualidade), pois, a teoria de envelhecer está diretamente proporcional a idéia de finitude e a religiosidade e espiritualidade são componentes fundamentais à saúde do corpo e da mente que por conseqüências estão mais vinculadas às pessoas mais velhas.

Segundo Sommerhalder e Goldstein (2010) nas últimas décadas o número de pesquisas sobre o papel da religião e a da espiritualidade na vida das pessoas tem aumentado. Pois, não só a psicologia tem dedicado à atenção a essa temática, mas também a medicina tem se interessado pela relevância da religiosidade na recuperação de doenças graves ou no enfrentamento de intervenções significativas.

             De acordo com Sommerhalder e Goldstein (2010) ao se tratar de uma área controversa e difícil de ser submetida a investigação empírica, torna-se necessário salientar a importância de reconhecer a multidimensionalidade e a diversidade dos conceitos de espiritualidade e de religiosidade, porque eles não são sinônimos. Religiosidade é uma das formas de expressão da espiritualidade[1].

Para a psicologia, a religião pode se vista como um recurso que pode fornecer respostas às exigências da velhice, porque facilita a aceitação das perdas ao longo da vida, além de propiciar ferramentas psicológicas para o enfrentamento de situações estressantes, sem desequilibrar o indivíduo, ou seja, pode oferecer recursos para a compreensão e a aceitação das dificuldades da vida. A religião pode fornecer um significado à vida que transcende o sofrimento, a perda e a percepção da mortalidade (SOMMERHALDER e GOLDSTEIN, 2010)


[1] Espiritualidade vem do Latim spiritus, que significa“sopro”, em referência ao sopro da vida (ELKINS, 1999).
Religião vem do Latim religare, que significa religar, restabelecer a ligação entre Deus e os homens (ROUSSEAU, 2003).[1]
 

 
2.3 Resiliência

 

Segundo, Houaiss e Villar (2001) na física a palavra resiliência significa propriedade que alguns corpos apresentam de retomar sua forma original, após terem sofrido uma deformação elástica. Portanto, a resiliência é aplicada ao homem como capacidade de resistir os obstáculos da vida, com critatividade e esperança, sem perder sua verdadeira essência de pessoa humana.

As pesquisas sobre resiliência tiveram início no hemisfério norte, assumindo nos Estados Unidos e Inglaterra uma perspectiva comportamentalista, pragmática, centrada no indivíduo. Estendendo-se por toda a Europa, receberam enfoques psicanalíticos. E, chegando à América Latina, tornaram-se enfocadas na comunidade, como uma forma de reação aos problemas sociais (MELILLO, OJEDA  & RODRÍGUEZ, apud SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).

 

Estudos mostram que a capacidade de resiliência está aliada à criatividade, a religioasidade e a espiritualidade e estes fatores são imprescindíveis ao ser humano, para ampará-lo nos processos de mudanças e nos percalços da vida, seja um abandono, uma patologia, ou mesmo a aceitação de um processo biológico e natural da vida: o envelhecimento.

De acordo com Ly e Trein (2010) a velhice é um momento especial da vida , quando se encontra em condições de vulnerabilidade diante de maiores possibilidades de adoecer, não mais com a consciência de finitude que, simplesmente, lhe proporcionou maturidade, mas, agora com a consciência da própria morte.

Segundo Silveira e Mahfoud (2008) a crise e a dor, que perpassam a subjetividade, tornam-se foco de interesse das ciências, em especial a psicologia, que busca, por meio de estudos e pesquisas, compreender e dar respostas ao ser humano. Este reflete e se pergunta: por que existe a dor? Ela é meramente destrutiva, ou é possível transformá-la em oportunidade de crescimento?

Para Viktor Frankl, o homem religioso é aquele que foi capaz de completar a sua dinâmica ontológica. É responsável e consciente, vive sua vida como uma missão a ser cumprida. Então, na busca de sentido, coloca-se a experiência religiosa. A pessoa que busca uma religiosidade sadia encontra tradições e valores que a direcionam a um relacionamento com o que ela considera ser “o criador”, e isto, portanto, torna-a aberta ao outro e à transcendência (Coelho Junior & Mahfoud, 2001).

A existência em si é espiritual, enquanto a “facticidade” é formada “tanto de elementos psicológicos quanto fisiológicos; contém ‘fatos’ tanto psíquicos como corporais”. Há possibilidade de todo ser humano assumir uma atitude diante dos condicionamentos, diante da “facticidade”, atitude esta que pode configurar a chamada força de resistência do espírito (Frankl, apud SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).

 

A resiliência passou a ser então uma nova lente, uma nova chave de compreensão da experiência humana que, intrinsecamente, vem marcada pelo sofrimento (SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).

No entanto, é fato traçar um paralelo entre o processo de envelhecer e o fato da existência do sofrimento, seja ele físico, social, biopatológico ou espiritual. E desta forma, há uma lógica percepção de vinculação entre envelhecer a religiosidade e a espiritualidade e a capacidade do homem em tornar-se resiliente ao longo do tempo.

 

3 Considerações Finais

 

Portanto, é relevante fazer um elo entre o processo de envelhecimento à capacidade, de ao longo dos anos o homem adquirir a qualidade de resiliente, pois Victor Emil Frankl faz uma alusão ao envelhecer e ser resiliente, quando afirma:

Ao olhar para o passado, a pessoa pode encontrar o sentido e a realização naqueles momentos que foram bem vividos (nos quais se realizou o sentido). O passado torna-se, então, um “celeiro” onde se armazenam momentos cheios de sentido e que não podem ser retirados da pessoa, pois já é realidade consumada (Frankl, apud SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).

 

                E ainda, como nos apresenta Silveira e Mahfoud (2008), o sentido da resiliência, então, é a busca de sentido da vida, que se traduz em criatividade, aprendizado, superação e crescimento. Dizer e viver um grande SIM à vida, apesar de tudo.

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

COELHO JUNIOR, Achilles Gonçalves; MAHFOUD, Miguel. As dimensões espiritual e religiosa da experiência humana: distinções e inter-relações na obra de Viktor Frankl. Psicol. USP, São Paulo, v. 12, n. 2, 2001. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642001000200006&lng=en&nrm=iso Acesso e 05 de Mai. 2012.

 

MOTTA Ribeiro, Dulcinéia Da. Afetividade e Intimidade. In: FREITAS, Elizabete Viana de , et. al.Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e Koogan, 2010, p. 28-29.

 

NETTO, Matheus Ppaléo. O Estudo da Velhice: Histórico, Definição do Campo e Termos Básicos.In: FREITAS, Elizabete Viana de , et. al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e Koogan, 2010, p. 4-5.

 

PY, Ligia. TREIN, Franklin. Finitude e Infinitude: Dimensão do Tempo na Experiência do Envelhecimento. In: Elizabete Viana de. et. al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e Koogan, 2010, p. 1354-1359.

 

ROSA, J. G. (1965). Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro, José. Olympio.

 

SOMMERHALDER, Cinara e GOLDSTEIN, Lucila l.O Papel da Espiritualidade e da Religiosidade na Vida Adulta e na Velhice. In: Elizabete Viana de. et. al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e Koogan, 2010, p. 1308-1310.

 

SILVEIRA, Daniel Rocha and MAHFOUD, Miguel. Contribuições de Viktor Emil Frankl ao conceito de resiliência. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2008, vol.25, n.4, pp. 567-576. ISSN 0103-166X. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2008000400011.



[1] Espiritualidade vem do Latim spiritus, que significa “sopro”, em referência ao sopro da vida (ELKINS, 1999).
Religião vem do Latim religare, que significa religar, restabelecer a ligação entre Deus e os homens (ROUSSEAU, 2003).[1]