1. Introdução
A
morte ainda é vista como um tabu na sociedade brasileira. É um tema sempre
presente na saúde pública. Diferentemente
de outras culturas, em que chega a ser celebrada, a morte é evitada e o
advento de terapias alternativas na Medicina como a anti-aging (que levou à proibição recente do Conselho Federal de
Medicina) tornam o debate ainda mais polêmico e acirrado.
Como maior país da América Latina e sexta economia mundial, o Brasil ainda carece de legislação a respeito do assunto e encontra-se atrás de algumas nações ao redor do mundo. O envelhecimento populacional quebra paradigmas e exige posicionamento das lideranças brasileiras.
Como maior país da América Latina e sexta economia mundial, o Brasil ainda carece de legislação a respeito do assunto e encontra-se atrás de algumas nações ao redor do mundo. O envelhecimento populacional quebra paradigmas e exige posicionamento das lideranças brasileiras.
2. Religiosidade e a finitude humana
Como um país de maioria cristã, o Brasil, de uma maneira geral possui a crença na continuidade espiritual após a morte. Paradoxalmente há toda uma cultura em se evitar falar dela, bem como o sentimento de sofrimento extremado quando esta ocorre (REGO, PALÁCIOS, 2006).
Realizar um novo conceito de humanização da morte tendo como base a evolução tecnocientífica também leva a repensar a Bioética como antes conhecida. O advento de novos meios para manutenção da vida em condições adversas leva à essa reflexão (SCHRAMM, 2005).
Esse
comportamento é observado não raramente entre famílias em situações em que o
idoso encontra-se em estado grave em unidade de terapia intensiva, sem chance
de recuperação, porém mantido por um aparato sem fim de máquinas e fios. Ele
muitas vezes já se encontra inconsciente, não mais contactuando com os parentes
ou o mundo exterior. Mas é mantido “vivo” (SCRAMM, 2005).
O
que deveria ser utilizado para aumentar a qualidade de vida e dignidade do ser
humano torna-se um instrumento totalmente oposto ao que se propôs, já que não
leva em consideração o desejo do ente principal envolvido no processo e a morte
é tida como a derrota e não o rito de passagem para a verdadeira vida plena (SCHRAMM, SIQUEIRA BATISTA, 2003).
Morte e vida são potências ambíguas de um mesmo processo como: Vida e morte, vigília e sono, juventude e velhice; pois quando não é uma é a outra (apud KIRK et al. 1994).
Morte e vida são potências ambíguas de um mesmo processo como: Vida e morte, vigília e sono, juventude e velhice; pois quando não é uma é a outra (apud KIRK et al. 1994).
O
mesmo se dá com a morte em vida – ou seja o caráter de invalidez a que o indivíduo
vai sendo incorporado à medida em que envelhece. Ele vai sendo negligenciado, o
seu conhecimento e sabedoria parece não terem valor, pois ele se encontra em um
corpo sem o vigor da juventude. É então ignorado e deixado de lado, sozinho,
muitas vezes à mercê de sua própria sorte (SCHRAMM, 2004).
Em
uma sociedade como a nossa, volúvel, em que tudo parece ser feito de plástico –
desde os relacionamentos amorosos e interpessoais à questão de como é tratada a
morte – é complicado convocar à uma reflexão mais profunda e verdadeira, em que
tem-se que aqueles que não possuem determinadas marcas de roupa de uma numeração
específica ou com o rosto impecavelmente sem rugas são discriminados e vistos
como mal-sucedidos (KOVACS, 2003).
3. Conclusão
A
cultura da sociedade brasileira deve ser repensada, de maneira mais racional, e
trabalhada em seus medos e angústias. Se é declaradamente cristã, deve seguir
os preceitos a que se propõe, aceitando e abraçando a velhice com a sua
realidade física e psíquica, preparando-se para a morte e a vida eterna da
alma. Se é a única certeza que temos ao nascer, qual seria o sentido de tentar
inúmeros artifícios para uma busca incessante pela juventude em vida?
Políticas em educação poderiam ser desenvolvidas para a desmistificação e tratamento da morte como um processo natural e presente na vida de todos aqueles que nasceram e existiram.
Políticas em educação poderiam ser desenvolvidas para a desmistificação e tratamento da morte como um processo natural e presente na vida de todos aqueles que nasceram e existiram.
Referências:
Floriani CA, Schramm FR. Atendimento domiciliar ao idoso: problema ou solução? Cad Saúde Pública 2004; 20:986-94.
Kirk GS, Raven JE & Schofield M 1994. Os filósofos pré- socráticos: história crítica com seleção de textos. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
Kovács M J, Bioética nas Questões da Vida e da Morte; Psicologia USP, 2003, 14(2), 115-167.
Rego S, Palácios M. A finitude humana e a saúde pública; Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1755-1760, ago, 2006.
Kirk GS, Raven JE & Schofield M 1994. Os filósofos pré- socráticos: história crítica com seleção de textos. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
Kovács M J, Bioética nas Questões da Vida e da Morte;
Rego S, Palácios M. A finitude humana e a saúde pública; Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1755-1760, ago, 2006.
Siqueira Batista R, Schramm F R, Eutanásia;
Pelas veredas da morte e da autonomia; Ciência & Saúde Coletiva, 9(1):31-41, 2004.
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