segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Religiosidade e a finitude humana


                  1. Introdução

A morte ainda é vista como um tabu na sociedade brasileira. É um tema sempre presente na saúde pública. Diferentemente  de outras culturas, em que chega a ser celebrada, a morte é evitada e o advento de terapias alternativas na Medicina como a anti-aging (que levou à proibição recente do Conselho Federal de Medicina) tornam o debate ainda mais polêmico e acirrado.
Como maior país da América Latina e sexta economia mundial, o Brasil ainda carece de legislação a respeito do assunto e encontra-se atrás de algumas nações ao redor do mundo. O envelhecimento populacional quebra paradigmas e exige posicionamento das lideranças brasileiras. 



            2. Religiosidade e a finitude humana

Como um país de maioria cristã, o Brasil, de uma maneira geral possui a crença na continuidade espiritual após a morte. Paradoxalmente há toda uma cultura em se evitar falar dela, bem como o sentimento de sofrimento extremado quando esta ocorre (REGO, PALÁCIOS, 2006).

          Realizar um novo conceito de humanização da morte tendo como base a evolução tecnocientífica também leva a repensar a Bioética como antes conhecida. O advento de novos meios para manutenção da vida em condições adversas leva à essa reflexão (SCHRAMM, 2005).

Esse comportamento é observado não raramente entre famílias em situações em que o idoso encontra-se em estado grave em unidade de terapia intensiva, sem chance de recuperação, porém mantido por um aparato sem fim de máquinas e fios. Ele muitas vezes já se encontra inconsciente, não mais contactuando com os parentes ou o mundo exterior. Mas é mantido “vivo” (SCRAMM, 2005).

O que deveria ser utilizado para aumentar a qualidade de vida e dignidade do ser humano torna-se um instrumento totalmente oposto ao que se propôs, já que não leva em consideração o desejo do ente principal envolvido no processo e a morte é tida como a derrota e não o rito de passagem para a verdadeira vida plena (SCHRAMM, SIQUEIRA BATISTA, 2003).

Morte e vida são potências ambíguas de um mesmo processo como: Vida e morte, vigília e sono, juventude e velhice; pois quando não é uma é a outra (apud KIRK et al. 1994).

O mesmo se dá com a morte em vida – ou seja o caráter de invalidez a que o indivíduo vai sendo incorporado à medida em que envelhece. Ele vai sendo negligenciado, o seu conhecimento e sabedoria parece não terem valor, pois ele se encontra em um corpo sem o vigor da juventude. É então ignorado e deixado de lado, sozinho, muitas vezes à mercê de sua própria sorte (SCHRAMM, 2004).

Em uma sociedade como a nossa, volúvel, em que tudo parece ser feito de plástico – desde os relacionamentos amorosos e interpessoais à questão de como é tratada a morte – é complicado convocar à uma reflexão mais profunda e verdadeira, em que tem-se que aqueles que não possuem determinadas marcas de roupa de uma numeração específica ou com o rosto impecavelmente sem rugas são discriminados e vistos como mal-sucedidos (KOVACS, 2003).


                 3. Conclusão

A cultura da sociedade brasileira deve ser repensada, de maneira mais racional, e trabalhada em seus medos e angústias. Se é declaradamente cristã, deve seguir os preceitos a que se propõe, aceitando e abraçando a velhice com a sua realidade física e psíquica, preparando-se para a morte e a vida eterna da alma. Se é a única certeza que temos ao nascer, qual seria o sentido de tentar inúmeros artifícios para uma busca incessante pela juventude em vida?
Políticas em educação poderiam ser desenvolvidas para a desmistificação e tratamento da morte como um processo natural e presente na vida de todos aqueles que nasceram e existiram.



Referências:

Floriani CA, Schramm FR. Atendimento domiciliar ao idoso: problema ou solução? Cad Saúde Pública 2004; 20:986-94.
 Kirk GS, Raven JE & Schofield M 1994. Os filósofos pré- socráticos: história crítica com seleção de textos. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. 
 Kovács M J, Bioética nas Questões da Vida e da Morte; Psicologia USP, 2003, 14(2), 115-167.
 Rego S, Palácios M. A finitude humana e a saúde pública; Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1755-1760, ago, 2006.
Siqueira Batista R, Schramm F R, Eutanásia; Pelas veredas da morte e da autonomia; Ciência & Saúde Coletiva, 9(1):31-41, 2004.


          

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