sábado, 24 de novembro de 2012

A HUMANIZAÇÃO COMO PRINCÍPIO ÉTICO NO CUIDADO PALIATIVO AO IDOSO HOSPITALIZADO


A HUMANIZAÇÃO COMO PRINCÍPIO ÉTICO NO CUIDADO PALIATIVO AO IDOSO HOSPITALIZADO
 

1 INTRODUÇÃO

1.1 CENÁRIO E MOTIVAÇÕES

Segundo Carvalho (2011), “a ética é um ramo da filosofia e resulta na filosofia moral ou pensar filosófico acerca da moralidade, dos problemas morais e dos juízos morais”.

O agir na conduta hospitalar apresenta um contexto complexo que se fragmenta em diversos segmentos. Hodiernamente com inúmeras tecnologias e com a busca por especializações cada vez mais específicas, confecciona-se um cenário mais frio e menos humanístico. Valores altruístas do cuidado, práticas holísticas com caráter individual, se contrapõem com o comportamento ambicioso, egoísta e restrito de alguns profissionais, o que provoca uma transformação na qualidade do atendimento das instituições de saúde, podendo alterar a resposta do indivíduo na sua recuperação e reinserção social.

Humanizar é garantir à palavra sua dignidade ética. Ou seja, para que o sofrimento humano e as percepções de dor ou de prazer sejam humanizados, é preciso que as palavras que o sujeito expressa sejam reconhecidas pelo outro (PESSINI e BERTACHINI, 2004). Ter uma entidade de saúde humanizada requer o envolvimento do profissional e do paciente, onde a troca de carinho seja mútua.

Os problemas correferidos a higidez no final da vida, requerem atenção ainda maior por parte dos profissionais que constituem a equipe de cuidados em saúde, pois as necessidades do paciente nesta fase, o fragiliza ainda mais, pela dor e pelo sofrimento, carecendo cuidado continuado, não apenas medicamentoso como também psicológico.

Algumas patologias determinam que o fim esteja se aproximando, então, além das limitações da senescência, o idoso encontra-se com as imposições da senilidade, imposições estas que retiram ainda mais o poder e o autocontrole do ser, destarte, fazem-se necessários cuidados específicos para bem viver no fim da vida.

Burlá (2007) observa-se que:


Os cuidados paliativos constituem uma resposta indispensável aos problemas do final da vida. Em nome da ética, da dignidade e do bem-estar de cada ser humano, é preciso torná-los cada vez mais uma realidade. Os médicos jamais devem perder o foco de atuação: a pessoa doente no final da vida, um processo que pode levar dias, semanas ou meses. A doença terminal atravessa todas as faixas etárias, do recém-nascido ao idoso frágil. Assim, dezenas de milhares de pessoas poderão ser beneficiadas quando o sistema de saúde incorporar essa modalidade de atendimento.


2. DESENVOLVIMENTO

2.1 A ÉTICA E O CUIDADO PALIATIVO

A longevidade é um adjetivo usual para os idosos no Brasil e no mundo, mas algumas adequações ainda são necessárias no contexto social e psicobioespiritual, pelas perdas fisiológicas, que acabam dificultando a fluência espiritual e social, as quais se vinculam a diminuição do poder manter-se autônomo, o que gera uma ameaça para o paciente com relação ao sentido de vida, perda de controle, enfraquecimento da relação com os outros, uma vez que o processo do morrer intensifica o isolamento e interrompe as formas de contato com os outros.

Neste contexto, os valores éticos e humanos permeiam os cuidados paliativos, já que se apresenta como critério nobre na realização de um atendimento hospitalar com caráter de fato promotor da qualidade de vida, mesmo que esta vida se aproxime do fim.

Semelhante ao que relata Candia, (2009), o cuidado humano é exercitado, vivido e sentido no interior de cada um, envolvendo atos, valores e ética que devem fazer parte do nosso cotidiano. O cuidado ético é fazer com que a ação de cuidar, seja moralmente correta. Um dos maiores desafios para os profissionais da saúde é buscar desenvolver uma prática humanizada, em que possamos continuadamente refletir sobre o sentido das nossas ações, reações e atitudes com os pacientes.

O sofrimento na fase terminal da doença é muito mais que físico. Ele afeta não somente o conceito de si próprio, mas também o senso global de sentir-se conectado com os outros e com o mundo. Este sofrimento pode ser sentido como uma ameaça para o paciente com relação ao sentido da vida, perda de controle, enfraquecimento da relação com os outros, uma vez que o processo do morrer intensifica o isolamento e interrompe as formas ordinárias de contato com os outros (PESSINI, s/d).

Corroborando, Gutierrez, Ciampone, (2006) relatam que:


Os profissionais de saúde devem criar possibilidades para que o indivíduo compreenda a sua doença, ao invés de focalizar somente a sua saúde, pois essa conscientização pode ajudá-lo a enfrentar a enfermidade, e até mesmo facilitar a conscientização da aproximação da sua morte. A visão relacionada ao ato de morrer tem se modificado com o decorrer do processo de transformação das sociedades, e estão diretamente ligadas ao estágio de desenvolvimento dessa sociedade, assim como as suas especificidades, valores e ritos. Cabe destacar que, em relação à morte e ao processo de morrer, cada sociedade tem seus próprios comportamentos, hábitos, crenças e atitudes, que oferecem aos indivíduos uma orientação de como devem se comportar e o que devem ou não fazer, refletindo a cultura própria de cada região e, também, diferenciando-a de outros.


            Portanto, em consonância ao que dizem Floriani, Schramn (2008), os cuidados paliativos constituem uma modalidade emergente da assistência no fim da vida, construídos dentro de um modelo de cuidados totais, ativos e integrais oferecidos ao paciente com doença avançada e terminal, e à sua família, legitimados pelo direito do paciente de morrer com dignidade.

            Nesta perspectiva, é importante assinalar que a ética não se preocupa tanto com as coisas como são, mas com as coisas como podem ser, e, especialmente como devem ser (PESSINI e BERTACHINI, 2004). À luz dessas observações como relata Burlá in FREITAS (2011, p.1229), o enfoque da humanização ética no cuidado paliativo é o alívio dos sintomas que comprometem a qualidade de vida, integrando ações médicas em conjunto com as de enfermagem, psicológicas, nutricionais, sociais, espirituais, de reabilitação e assistência aos familiares. Ressaltando que tais medidas não têm caráter curativo, mas pretendem dar conforto ao paciente.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, foi possível constatar que a prática correta do cuidado ao ser humano, perpassa pela conduta ética e humanizada. No que tange a paliação desses cuidados, o cenário apresentado tem o idoso como seu receptor principal, então, uma gama de peculiaridades devem ser consideradas quanto à forma do desenvolvimento do cuidado, não só da doença terminal, como principalmente, contemplar o decréscimo fisiológico inerente ao idoso.

A equipe responsável pela manutenção dos cuidados na instituição hospitalar deverá estar a par do processo do envelhecimento e suas consequências, viabilizando a confecção de uma assistência pertinente ao idoso e suas condições patológicas.

Portanto, o estudo do processo do envelhecimento, dentro da gerontologia, apresenta uma concepção repleta de novos horizontes, vislumbrando circunstâncias mais seguras, éticas e científicas sobre a construção de uma assistência à saúde, o que possibilita dignidade a finitude do ser dentro de seu preceito mais absoluto, ou seja, viabiliza a arquitetura de um atendimento paliativo contemplando a humanização hospitalar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BURLÁ, L. Claudia. Paliação: cuidados ao fim da vida. In: FREITAS, E. V. de; PY, L. CANÇADO, F. A. X.; DOLL, J. & GORZONI, M. (orgs.) Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 3 ed., pag. 1226 – 1241.

BURLÁ, Claudia. Cuidados Paliativos e fim de vida. São Paulo, 2010. Disponível na Internet em: http://www.paliativo.org.br/dl.php?bid=94. Acessado em 16/011/2012.

CANDIA, Maria Aparecida Borlatto de. Enfermagem e o Cuidado Humanizado. São Paulo, 2009. Disponível na Internet em: http://www.webartigos.com/articles/18713/1/Enfermagem-e-o-Cuidado-Humanizado/pagina1.html. Acessado em 12/09/2012.

CARVALHO, Vilma de.  Ética e valores na prática profissional em saúde: considerações filosóficas, pedagógicas e políticas. Revista da Escola de enfermagem da USP vol.45 nº 2 São Paulo Dez. 2011.

FLORIANI, Ciro Augusto; SCHRAMM, Fermin Roland. Cuidados Paliativos: Interfaces, Conflitos e Necessidades. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.13, n.2, 2008. Disponível na Internet em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232008000900017. Acessado em: 18/11/2012.

GUTIERREZ, Beatriz Aparecida Ozello; CIAMPONE, Maria Helena Trench. O Processo de Morrer e a Morte no Enfoque dos Profissionais de Enfermagem de UTIs. Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, v.41, n.4, 2006. Dispinível na Internet em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v41n4/16.pdf. Acessado em 18/010/2012.

JUNQUEIRA, Maria Hercília Rodrigues; KOVÁCS, Maria Júlia. Alunos de Psicologia e a educação para a morte. Psicologia: ciência e profissão. Brasília, v.28, n.3, 2008. Disponível na Internet em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98932008000300006&script=sci_arttext. Acessado em: 20/10/2012.

PESSINI, Leo. Humanização da dor e sofrimento humanos no contexto hospitalar. http://www.redadultosmayores.com.ar/buscador/files/BIOET004.pdf. Acessado em: 24/11/2012.

PESSINI, Leo; BERTACHINI, Luciana. Humanização e Cuidados Paliativos, São Paulo, Loyola, 2004.

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