A HUMANIZAÇÃO COMO
PRINCÍPIO ÉTICO NO CUIDADO PALIATIVO AO IDOSO HOSPITALIZADO
1 INTRODUÇÃO
1.1 CENÁRIO E MOTIVAÇÕES
Segundo Carvalho (2011), “a ética é um ramo da filosofia e resulta na
filosofia moral ou pensar filosófico acerca da moralidade, dos problemas morais
e dos juízos morais”.
O agir na conduta hospitalar apresenta um contexto complexo que se fragmenta
em diversos segmentos. Hodiernamente com inúmeras tecnologias e com a busca por
especializações cada vez mais específicas, confecciona-se um cenário mais frio
e menos humanístico. Valores altruístas do cuidado, práticas holísticas com
caráter individual, se contrapõem com o comportamento ambicioso, egoísta e restrito
de alguns profissionais, o que provoca uma transformação na qualidade do
atendimento das instituições de saúde, podendo alterar a resposta do indivíduo na
sua recuperação e reinserção social.
Humanizar é garantir à palavra sua dignidade ética. Ou seja, para que o
sofrimento humano e as percepções de dor ou de prazer sejam humanizados, é
preciso que as palavras que o sujeito expressa sejam reconhecidas pelo outro
(PESSINI e BERTACHINI, 2004). Ter uma entidade de saúde humanizada requer o
envolvimento do profissional e do paciente, onde a troca de carinho seja mútua.
Os problemas correferidos a higidez no final da vida, requerem atenção ainda
maior por parte dos profissionais que constituem a equipe de cuidados em saúde,
pois as necessidades do paciente nesta fase, o fragiliza
ainda mais, pela dor e pelo sofrimento, carecendo cuidado continuado, não
apenas medicamentoso como também psicológico.
Algumas patologias determinam que o fim esteja
se aproximando, então, além das limitações da senescência, o idoso encontra-se com
as imposições da senilidade, imposições estas que retiram ainda mais o poder e
o autocontrole do ser, destarte, fazem-se necessários cuidados específicos para
bem viver no fim da vida.
Burlá (2007) observa-se que:
Os cuidados
paliativos constituem uma resposta indispensável aos problemas do final da
vida. Em nome da ética, da dignidade e do bem-estar de cada ser humano, é
preciso torná-los cada vez mais uma realidade. Os médicos jamais devem perder o
foco de atuação: a pessoa doente no final da vida, um processo que pode levar
dias, semanas ou meses. A doença terminal atravessa todas as faixas etárias, do
recém-nascido ao idoso frágil. Assim, dezenas de milhares de pessoas poderão
ser beneficiadas quando o sistema de saúde incorporar essa modalidade de
atendimento.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 A ÉTICA E O
CUIDADO PALIATIVO
A longevidade é um adjetivo usual para os idosos no Brasil e no mundo,
mas algumas adequações ainda são necessárias no contexto social e psicobioespiritual,
pelas perdas fisiológicas, que acabam dificultando a fluência espiritual e social,
as quais se vinculam a diminuição do poder manter-se autônomo, o que gera uma ameaça para o paciente com relação ao sentido de
vida, perda de controle, enfraquecimento da relação com os outros, uma vez que
o processo do morrer intensifica o isolamento e interrompe as formas de contato
com os outros.
Neste contexto, os valores éticos e humanos permeiam os cuidados
paliativos, já que se apresenta como critério nobre na realização de um
atendimento hospitalar com caráter de fato promotor da qualidade de vida, mesmo
que esta vida se aproxime do fim.
Semelhante ao que relata Candia, (2009), o cuidado
humano é exercitado, vivido e sentido no interior de cada um, envolvendo atos,
valores e ética que devem fazer parte do nosso cotidiano. O cuidado ético é
fazer com que a ação de cuidar, seja moralmente correta. Um dos maiores
desafios para os profissionais da saúde é buscar desenvolver uma prática
humanizada, em que possamos continuadamente refletir sobre o sentido das nossas
ações, reações e atitudes com os pacientes.
O sofrimento na fase terminal da doença é muito
mais que físico. Ele afeta não somente o conceito de si próprio, mas também o
senso global de sentir-se conectado com os outros e com o mundo. Este sofrimento
pode ser sentido como uma ameaça para o paciente com relação ao sentido da
vida, perda de controle, enfraquecimento da relação com os outros, uma vez que
o processo do morrer intensifica o isolamento e interrompe as formas ordinárias
de contato com os outros (PESSINI, s/d).
Corroborando, Gutierrez, Ciampone, (2006) relatam que:
Os profissionais
de saúde devem criar possibilidades para que o indivíduo compreenda a sua
doença, ao invés de focalizar somente a sua saúde, pois essa conscientização
pode ajudá-lo a enfrentar a enfermidade, e até mesmo facilitar a
conscientização da aproximação da sua morte. A visão relacionada ao ato de
morrer tem se modificado com o decorrer do processo de transformação das
sociedades, e estão diretamente ligadas ao estágio de desenvolvimento dessa
sociedade, assim como as suas especificidades, valores e ritos. Cabe destacar
que, em relação à morte e ao processo de morrer, cada sociedade tem seus
próprios comportamentos, hábitos, crenças e atitudes, que oferecem aos
indivíduos uma orientação de como devem se comportar e o que devem ou não
fazer, refletindo a cultura própria de cada região e, também, diferenciando-a
de outros.
Portanto, em
consonância ao que dizem Floriani, Schramn (2008), os cuidados paliativos
constituem uma modalidade emergente da assistência no fim da vida, construídos
dentro de um modelo de cuidados totais, ativos e integrais oferecidos ao
paciente com doença avançada e terminal, e à sua família, legitimados pelo
direito do paciente de morrer com dignidade.
Nesta perspectiva,
é importante assinalar que a ética não se preocupa tanto com as coisas como são,
mas com as coisas como podem ser, e, especialmente como devem ser (PESSINI
e BERTACHINI, 2004). À luz dessas observações como relata Burlá in FREITAS
(2011, p.1229), o enfoque da humanização ética no cuidado paliativo é o alívio
dos sintomas que comprometem a qualidade de vida, integrando ações médicas em
conjunto com as de enfermagem, psicológicas, nutricionais, sociais,
espirituais, de reabilitação e assistência aos familiares. Ressaltando que tais
medidas não têm caráter curativo, mas pretendem dar conforto ao paciente.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, foi possível constatar que a
prática correta do cuidado ao ser humano, perpassa pela conduta ética e
humanizada. No que tange a paliação desses cuidados, o cenário apresentado tem
o idoso como seu receptor principal, então, uma gama de peculiaridades devem
ser consideradas quanto à forma do desenvolvimento do cuidado, não só da doença
terminal, como principalmente, contemplar o decréscimo fisiológico inerente ao
idoso.
A equipe responsável pela manutenção dos
cuidados na instituição hospitalar deverá estar a par do processo do
envelhecimento e suas consequências, viabilizando a confecção de uma assistência
pertinente ao idoso e suas condições patológicas.
Portanto, o estudo do processo do envelhecimento,
dentro da gerontologia, apresenta uma concepção repleta de novos horizontes,
vislumbrando circunstâncias mais seguras, éticas e científicas sobre a construção
de uma assistência à saúde, o que possibilita dignidade a finitude do ser
dentro de seu preceito mais absoluto, ou seja, viabiliza a arquitetura de um
atendimento paliativo contemplando a humanização hospitalar.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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V. de; PY, L. CANÇADO, F. A. X.; DOLL, J. & GORZONI, M. (orgs.) Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 3 ed., pag. 1226 – 1241.
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CANDIA, Maria Aparecida Borlatto de. Enfermagem e o Cuidado Humanizado. São
Paulo, 2009. Disponível na Internet em: http://www.webartigos.com/articles/18713/1/Enfermagem-e-o-Cuidado-Humanizado/pagina1.html.
Acessado em 12/09/2012.
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e valores na prática profissional em saúde: considerações filosóficas,
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FLORIANI,
Ciro Augusto; SCHRAMM, Fermin Roland. Cuidados
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Acessado em: 18/11/2012.
GUTIERREZ, Beatriz Aparecida Ozello; CIAMPONE, Maria Helena Trench. O Processo de Morrer e a Morte no Enfoque
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Acessado em 18/010/2012.
JUNQUEIRA, Maria Hercília Rodrigues; KOVÁCS, Maria
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Acessado em: 20/10/2012.
PESSINI, Leo.
Humanização da dor e sofrimento humanos no contexto hospitalar. http://www.redadultosmayores.com.ar/buscador/files/BIOET004.pdf. Acessado em: 24/11/2012.
PESSINI, Leo; BERTACHINI, Luciana. Humanização e Cuidados Paliativos, São Paulo, Loyola, 2004.
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