terça-feira, 27 de novembro de 2012

A RELIGIOSIDADE E A BIOÉTICA NA FINITUDE DA VIDA.


INTRODUÇÃO

Uma das certezas da vida é o envelhecimento. Pode-se afirmar que o mundo hoje está sofrendo uma transformação demográfica sem precedentes na história da humanidade e esse fenômeno que é o envelhecer traz várias modificações no âmbito social, psicológico e fisiológico, sendo individual e variável ao longo da vida.
O passar dos anos, leva ao que chamamos de envelhecimento biológico, onde se tem as perdas funcionais, progressivas e consequentemente o aparecimento de doenças crônico-degenerativas que aumentam-se as possibilidades da morte.
A finitude é algo de difícil compreensão pelos idosos, pois a cada dia que passa, o que se permanece são  apenas as lembranças do vivido, o apego às crenças e os valores morais e espirituais, que são valorizados, entendidos e respeitados.
A religiosidade é um fator que contribui para o enfrentamento dos desafios da vida, das frustrações e dos sofrimentos, além de estudos mostrarem que a crença pode melhorar de forma considerável a saúde e a qualidade de vida dos indivíduos.
De acordo com Floriano e Dalgalarrondo (2007), a religiosidade é um fator importante nas condições relacionadas aos agravos na saúde física e mental, diminuindo a gravidade e o surgimento das condições que podem ocasionar possíveis enfermidades, contribuindo para o bem estar na velhice.
Por ser considerado algo subjetivo, a religiosidade e a fé dependem da percepção de cada indivíduo, e podem ser abordados como uma forma de esperança para os enfermos e para os idosos, como uma razão de viver.
O tema da religiosidade pode ser discutido como um fator bioético, pois existe a relação entre os fatores biológicos e a razão humana. Segundo Pessini (2006), Van Rensselaer Potter, “pai da bioética”, representou o termo bioética como o conhecimento biológico, a ciência dos seres vivos e a ética associado aos valores humanos.

DESENVOLVIMENTO

Como ensinam as ciências da vida, da saúde e as reflexões fisiológicas e religiosas, o processo de finitude, morte e vulnerabilidade, são características intrínsecas ou ontológicas, dos sistemas vivos, submetidos a um processo irreversível que inclui o nascer, o crescer, o decair e o morrer (SCHRAMM, 2002). Por está exposto aos riscos da vida, os idosos ao longo da sua existência passam a ser potencial da vulnerabilidade à medida que se submete aos riscos e danos da sua própria existência.
No que diz respeito à Bioética, a qual aborda os aspectos morais envolvidos pelos problemas comuns às ciências da saúde, a finitude está ancorada a práticas de cura e/ou cuidados, graças aos avanços da biomedicina (SCHRAMM, 2012).
Porém, uma das consequências principais no aspecto da bioética, relaciona-se as crescentes intervenções nos processos vitais, onde devemos acrescentar as mudanças nas condições de morrer. Cada vez mais as pessoas querem conhecer o diagnóstico que lhe diz respeito e assim, decidir as estratégias que cabem para o processo do fim.
Atualmente, os cuidados paliativos vêm justamente para preencher este espaço existente entre a competência técnica da medicina, da cura e a cultura do respeito da autonomia do ser humano (paciente) às suas decisões (SCHRAMM, 2002).
No campo da religiosidade podemos dizer que, para a população idosa é de extrema importância o apego à espiritualidade, sendo considerada vital para os países onde há a crença pela fé em Deus ou há uma dimensão transcendente, ou seja, uma “força”, uma “energia”, que está relacionada às preocupações da vida que vai além do que é concreto. A espiritualidade assim como a religião, podem ser facilitadores na resolução de problemas, diminuindo as preocupações e os pensamentos negativos a cerca do fim (BARBOSA E FREITAS,2009).
Na análise cristã, o anseio da dor e das perdas dos entes queridos, pode ser amenizado pela expectativa de um novo encontro com os que já partiram da vida. As concepções entre morte e morrer, é o ponto de encontro da existência humana e que comumente gera tristeza e sofrimento. Na história da Idade Média, é onde surgiram as interpretações sobre vida e morte e ainda sobre a vida eterna e ressurreição (DINIZ e AQUINO, 2009).
Para Carvalho (2007), a religiosidade para os indivíduos convém como um apoio indispensável para as perdas ao longo da existência, servindo como indispensável para a compreensão dos acontecimentos da vida que advém de uma força superior e estão relacionados com as crenças de cada pessoa e a sua sabedoria e equilíbrio diante do enfrentamento dos problemas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desafio atual no campo da bioética e da religiosidade está em pensar junto com as novas possibilidades trazidas pelos avanços, ainda que limitados, a ciência da saúde e em particular pela biomedicina, em evitar ou retardar o fim. Aliamos a isso a expectativa que se têm de que não estamos diante do fim, mas frente a uma nova realidade que vai além da existência humana.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA,K. A.; FREITAS, M. H. Religiosidade e atitude diante da morte em idosos sob cuidados paliativos. Revista Kairós, São Paulo, 12(1), pp. 113-134, jan. 2009.
CÁTIA DANIELA RODRIGUES CARVALHO. Luto e relisiosidade. Disponível em: WWW.psicologia.com.pt. Acessado: 27/11/2012.
DINIZ, A. C.; AQUINO, T. A. A. A relação da religiosidade com as visões de morte. Religare – revista de ciências das religiões, nº 6, 09/2009.
FLORIANO, P.J.; DALGALARRONDO P. Saúde mental, qualidade de vida e religião em idosos de um Programa de Saúde da Família. J Bras Psiquiatr, 56(3): 162-170, 2007.
PESSINI, L. Bioética, envelhecimento humano e dignidade no adeus à vida. Em: FREITAS, E.V. Tratado de geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2ª Ed., PP. 154-163, 2006.
SCHRAMM, F. R. Finitude e bioética do fim da vida. Revista Brasileira de Cancerologia, 58(1):73-78, 2012..
SCHRAMM, F. R. Morte e finitude em nossa sociedade: implicações no ensino dos cuidados paliativos. Revista Brasileira de Cancerologia; 48(1):17-20, 2002..


Nenhum comentário: