1 INTRODUÇÃO
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim:
esquenta e esfria,
Aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
(João Guimarães Rosa, 1965, p. 241).
Na citação acima, Guimarães Rosa, afirma que a vida corre e que durante
seu trajeto ela vai embrulhando, juntando todos os acontecimentos e que eles
vão se fazendo e perfazendo de extremos e paradoxos que são necessários para
viver e dar um sentido a vida. Pois, como seria
viver sempre as mesmas sensações? Ou como seria seguir sempre uma estrada sem
curvas? E sendo assim, onde estariam as emoções?
Envelhecer, acima de tudo, é viver e viver
com emoção dando sentido a trajetória inexplicavel e única que é a vida. E para isso, afirma Guimarães
Rosa, é preciso ter coragem. Coragem para sofre as mudanças, para aceitar o
novo, o qual está ficando velho, coragem para mudar a “casca” e coragem para
permanecer o mesmo, para não perder sua verdadeira forma, seu ítimo e sua
essência, ou seja, assumir uma capacidade única, a qual, chamamos de
resiliência.
Segundo Papaléo Netto (2007), o envelhecimento é um processo dinâmico e
progressivo, no qual as modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e
psicológicas, determinam perda da capacidade e adaptação do indivíduo ao meio
ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência dos processos
patológicos que terminam por levar o indivíduo à morte.
Estudos mostram que a capacidade de
resiliência está aliada à criatividade, a religioasidade e a espiritualidade e
estes fatores são imprescindíveis ao ser humano, para ampará-lo nos processos
de mudanças e nos percalços da vida, seja um abandono, uma patologia, ou mesmo a
aceitação de um processo biológico e natural da vida: o envelheciemnto.
Segundo, Houaiss e Villar (2001)na física
a palavra resiliência significa propriedade que alguns corpos apresentam de
retomar sua forma original, após terem sofrido uma deformação elástica.
Portanto, a resiliência é aplicada ao homem como capacidade de resistir os
obstáculos da vida, com critatividade e esperança, sem perder sua verdadeira
essência de pessoa humana.
A velhice é um fenômeno biossocial que não existe singularmente e nem de
modo tão evidente quanto se costuma enunciar. Isto é, não existe a velhice,
existem “velhices”; o que também significa que não existe velho existe velhos:
“velhos e velhos”, em pluralidade de imagens socialmente construídas e
referidas a um determinado tempo de ciclo da vida (MOTTA, 2001).
À medida que o ser humano envelhece, enfrenta uma série de
acontecimentos, como o aparecimento de doenças, a perda de amigos e familiares,
a viuvez, a aposentadoria, o isolamento, que podem acarretar uma crise ao
idoso. E esta, por sua vez, pode ser encarada de várias formas, dependendo da
pessoa que está enfrentando e do espaço em que vivi.
Algumas pessoas na terceira idade se sentem apoiadas por amigos e
parentes, e que aceitam o envelhecimento como um processo biológico natural do
ser humano, modificando-se e adaptando-se as mudanças vindas com ele,
geralmente, conseguem superficializar essa crise, ou evitar uma progressão para
gravidade. Outros, porém enxerga o envelhecimento como uma condição destruidora
e avassaladora, e sentem-se frágeis e incapazes de enfrentar essas mudanças,
instalando-se assim, uma crise mais agravante á saúde do corpo e da mente.
A resiliência passou a ser então uma nova lente, uma nova chave de
compreensão da experiência humana que, intrinsecamente, vem marcada pelo sofrimento
(SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).
Portanto, é relevante notar que a resiliência, mesmo, que pouco
percebida e reconhecida está presente em muitas pessoas, principalmente, àquelas
que estão sofrendo constantes mudanças biopsicossociais, e a estas é válido
enfatizar o processo de envelhecimento e o estado da velhice que devido às
transformações e adaptações torna o idoso um ser dotado de resiliência.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Envelhecimento
Segundo Papaléo Netto (2007), o envelhecimento é um processo dinâmico e
progressivo, no qual as modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e
psicológicas, determinam perda da capacidade e adaptação do indivíduo ao meio
ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência dos processos
patológicos que terminam por levar o indivíduo à morte.
O envelhecimento biológico pode ser considerado como a involução
morfofuncional que afeta todos os sistemas fisiológicos do corpo humano, de
forma mutável e variável. Do ponto de vista psíquico, o envelhecimento
representa a conquista da sabedoria pela experiência de vida e da compreensão
plena do sentido da vida.
Envelhecer e morrer são experiências vitais singulares, próprias de cada
ser. Contudo, são reguladas por padrões socioculturais que definem a
significação de cada uma dessas experiências humanas, na especificidade de uma
época e um lugar na história da humanidade (PY e TREIN, 2010).
De
acordo com Ly e Trein ( 2010) a velhice é um momento especial da vida , quando
se encontra em condições de vulnerabilidade diante de maiores possibilidades de
adoecer, não mais com a consciência de finitude que, simplesmente, lhe
proporcionou maturidade, mas, agora com a consciência da própria morte.
Desta forma, há de convir que o
envelhecimento traga a velhice, e esta
consigo aliada a idéia de finitude, então como aceitar o fim? De onde vem tanta
aceitação? Pois, a idéia de nascer, viver, envelhecer e morrer não cabe a
todos. No entanto, deve-se acreditar na teoria do ciclo da vida acompanhado da
capacidade de adaptação, aceitação e superação da idéia de morte como
simplesmente o fim, mas, como um novo recomeço, e daí vem a resiliência fazendo
um elo com a espiritualidade e a religiosidade para dar melhor compreensão a
existência humana.
A espiritualidade e a religiosidade caminham juntas, onde a corrente de
fé e crença que se confundem e, por muitas vezes, fundem-se numa força maior
dando credibilidade e sentido a vida e a morte. E esta última, que seria apenas
o fim, é vista como um recomeço, uma nova chance, e para muitos o encontro com
Deus e por fim a aceitação.
À medida que o envelhecimento aparece, ocorre também um maior apego e
dedicação a religião, ou seja, há uma idéia de fim (morte) e uma idéia de
recomeçar (espiritualidade), pois, a teoria de envelhecer está diretamente
proporcional a idéia de finitude e a religiosidade e espiritualidade são
componentes fundamentais à saúde do corpo e da mente que por conseqüências
estão mais vinculadas às pessoas mais velhas.
Segundo Sommerhalder e Goldstein (2010) nas últimas décadas o número de
pesquisas sobre o papel da religião e a da espiritualidade na vida das pessoas
tem aumentado. Pois, não só a psicologia tem dedicado à atenção a essa
temática, mas também a medicina tem se interessado pela relevância da
religiosidade na recuperação de doenças graves ou no enfrentamento de
intervenções significativas.
De acordo com Sommerhalder e Goldstein (2010)
ao se tratar de uma área controversa e difícil de ser submetida a investigação
empírica, torna-se necessário salientar a importância de reconhecer a
multidimensionalidade e a diversidade dos conceitos de espiritualidade e de
religiosidade, porque eles não são sinônimos. Religiosidade é uma das formas de
expressão da espiritualidade[1].
Para a psicologia, a religião pode se vista como um
recurso que pode fornecer respostas às exigências da velhice, porque facilita a
aceitação das perdas ao longo da vida, além de propiciar ferramentas
psicológicas para o enfrentamento de situações estressantes, sem desequilibrar
o indivíduo, ou seja, pode oferecer recursos para a compreensão e a aceitação
das dificuldades da vida. A religião pode fornecer um significado à vida que
transcende o sofrimento, a perda e a percepção da mortalidade (SOMMERHALDER e
GOLDSTEIN, 2010)
Segundo, Houaiss e Villar (2001) na física
a palavra resiliência significa propriedade que alguns corpos apresentam de
retomar sua forma original, após terem sofrido uma deformação elástica.
Portanto, a resiliência é aplicada ao homem como capacidade de resistir os
obstáculos da vida, com critatividade e esperança, sem perder sua verdadeira
essência de pessoa humana.
As pesquisas sobre resiliência tiveram início no hemisfério norte,
assumindo nos Estados Unidos e Inglaterra uma perspectiva comportamentalista,
pragmática, centrada no indivíduo. Estendendo-se por toda a Europa, receberam
enfoques psicanalíticos. E, chegando à América Latina, tornaram-se enfocadas na
comunidade, como uma forma de reação aos problemas sociais (MELILLO, OJEDA
& RODRÍGUEZ, apud SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).
Estudos mostram que a capacidade de
resiliência está aliada à criatividade, a religioasidade e a espiritualidade e
estes fatores são imprescindíveis ao ser humano, para ampará-lo nos processos
de mudanças e nos percalços da vida, seja um abandono, uma patologia, ou mesmo
a aceitação de um processo biológico e natural da vida: o envelhecimento.
De acordo com Ly e Trein (2010) a velhice é um momento especial da vida ,
quando se encontra em condições de vulnerabilidade diante de maiores
possibilidades de adoecer, não mais com a consciência de finitude que,
simplesmente, lhe proporcionou maturidade, mas, agora com a consciência da
própria morte.
Segundo Silveira e Mahfoud (2008) a crise e a dor, que perpassam a
subjetividade, tornam-se foco de interesse das ciências, em especial a
psicologia, que busca, por meio de estudos e pesquisas, compreender e dar
respostas ao ser humano. Este reflete e se pergunta: por que existe a dor? Ela
é meramente destrutiva, ou é possível transformá-la em oportunidade de
crescimento?
Para Viktor Frankl, o homem religioso é aquele que foi capaz de
completar a sua dinâmica ontológica. É responsável e consciente, vive sua vida
como uma missão a ser cumprida. Então, na busca de sentido, coloca-se a
experiência religiosa. A pessoa que busca uma religiosidade sadia encontra
tradições e valores que a direcionam a um relacionamento com o que ela
considera ser “o criador”, e isto, portanto, torna-a aberta ao outro e à
transcendência (Coelho Junior & Mahfoud, 2001).
A existência em si é espiritual, enquanto a “facticidade” é formada
“tanto de elementos psicológicos quanto fisiológicos; contém ‘fatos’ tanto
psíquicos como corporais”. Há possibilidade de todo ser humano assumir uma
atitude diante dos condicionamentos, diante da “facticidade”, atitude esta que
pode configurar a chamada força de resistência do espírito (Frankl, apud SILVEIRA
e MAHFOUD, 2008).
A resiliência passou a ser então uma nova lente, uma nova chave de
compreensão da experiência humana que, intrinsecamente, vem marcada pelo sofrimento
(SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).
No entanto, é fato traçar um paralelo entre o processo de envelhecer e o
fato da existência do sofrimento, seja ele físico, social, biopatológico ou
espiritual. E desta forma, há uma lógica percepção de vinculação entre
envelhecer a religiosidade e a espiritualidade e a capacidade do homem em
tornar-se resiliente ao longo do tempo.
3 Considerações Finais
Portanto, é relevante fazer um elo entre o processo de envelhecimento à
capacidade, de ao longo dos anos o homem adquirir a qualidade de resiliente,
pois Victor Emil Frankl faz uma alusão ao envelhecer e ser resiliente, quando
afirma:
Ao olhar para o passado, a pessoa pode encontrar o sentido e a
realização naqueles momentos que foram bem vividos (nos quais se realizou o
sentido). O passado torna-se, então, um “celeiro” onde se armazenam momentos
cheios de sentido e que não podem ser retirados da pessoa, pois já é realidade
consumada (Frankl, apud SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).
E ainda, como nos apresenta Silveira e Mahfoud (2008), o sentido da
resiliência, então, é a busca de sentido da vida, que se traduz em
criatividade, aprendizado, superação e crescimento. Dizer e viver um grande SIM
à vida, apesar de tudo.
REFERÊNCIAS
COELHO JUNIOR,
Achilles Gonçalves; MAHFOUD, Miguel. As dimensões espiritual e religiosa da
experiência humana: distinções e inter-relações na obra de Viktor Frankl.
Psicol. USP, São Paulo, v. 12, n. 2, 2001. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642001000200006&lng=en&nrm=iso
Acesso e 05 de Mai. 2012.
MOTTA Ribeiro, Dulcinéia
Da. Afetividade e Intimidade. In: FREITAS, Elizabete Viana de , et. al.Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e Koogan, 2010, p. 28-29.
NETTO, Matheus Ppaléo. O Estudo da Velhice: Histórico,
Definição do Campo e Termos Básicos.In:
FREITAS, Elizabete Viana de , et. al.
Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e
Koogan, 2010, p. 4-5.
PY, Ligia. TREIN, Franklin.
Finitude e Infinitude: Dimensão do Tempo na Experiência do Envelhecimento. In:
Elizabete Viana de. et. al. Tratado de
Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e Koogan, 2010,
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ROSA, J. G. (1965). Grande sertão: veredas. Rio de
Janeiro, José. Olympio.
SOMMERHALDER, Cinara e GOLDSTEIN,
Lucila l.O Papel da Espiritualidade e da Religiosidade na Vida Adulta e na
Velhice. In: Elizabete Viana de. et. al.
Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e
Koogan, 2010, p. 1308-1310.
SILVEIRA, Daniel Rocha and MAHFOUD, Miguel. Contribuições de Viktor
Emil Frankl ao conceito de resiliência. Estud. psicol. (Campinas)
[online]. 2008, vol.25, n.4, pp. 567-576. ISSN 0103-166X.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2008000400011.
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