quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ENVELHECIMENTO E VELHICE: CAPACIDADE DE RESILIÊNCIA


1 INTRODUÇÃO

 

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria,

Aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem.

(João Guimarães Rosa, 1965, p. 241).

 

 

Na citação acima, Guimarães Rosa, afirma que a vida corre e que durante seu trajeto ela vai embrulhando, juntando todos os acontecimentos e que eles vão se fazendo e perfazendo de extremos e paradoxos que são necessários para viver e dar um sentido a vida. Pois, como seria viver sempre as mesmas sensações? Ou como seria seguir sempre uma estrada sem curvas? E sendo assim, onde estariam as emoções?

Envelhecer, acima de tudo, é viver e viver com emoção dando sentido a trajetória inexplicavel e única  que é a vida. E para isso, afirma Guimarães Rosa, é preciso ter coragem. Coragem para sofre as mudanças, para aceitar o novo, o qual está ficando velho, coragem para mudar a “casca” e coragem para permanecer o mesmo, para não perder sua verdadeira forma, seu ítimo e sua essência, ou seja, assumir uma capacidade única, a qual, chamamos de resiliência.

Segundo Papaléo Netto (2007), o envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, no qual as modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, determinam perda da capacidade e adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência dos processos patológicos que terminam por levar o indivíduo à morte.

Estudos mostram que a capacidade de resiliência está aliada à criatividade, a religioasidade e a espiritualidade e estes fatores são imprescindíveis ao ser humano, para ampará-lo nos processos de mudanças e nos percalços da vida, seja um abandono, uma patologia, ou mesmo a aceitação de um processo biológico e natural da vida: o envelheciemnto.

Segundo, Houaiss e Villar (2001)na física a palavra resiliência significa propriedade que alguns corpos apresentam de retomar sua forma original, após terem sofrido uma deformação elástica. Portanto, a resiliência é aplicada ao homem como capacidade de resistir os obstáculos da vida, com critatividade e esperança, sem perder sua verdadeira essência de pessoa humana.

A velhice é um fenômeno biossocial que não existe singularmente e nem de modo tão evidente quanto se costuma enunciar. Isto é, não existe a velhice, existem “velhices”; o que também significa que não existe velho existe velhos: “velhos e velhos”, em pluralidade de imagens socialmente construídas e referidas a um determinado tempo de ciclo da vida (MOTTA, 2001).

À medida que o ser humano envelhece, enfrenta uma série de acontecimentos, como o aparecimento de doenças, a perda de amigos e familiares, a viuvez, a aposentadoria, o isolamento, que podem acarretar uma crise ao idoso. E esta, por sua vez, pode ser encarada de várias formas, dependendo da pessoa que está enfrentando e do espaço em que vivi.

Algumas pessoas na terceira idade se sentem apoiadas por amigos e parentes, e que aceitam o envelhecimento como um processo biológico natural do ser humano, modificando-se e adaptando-se as mudanças vindas com ele, geralmente, conseguem superficializar essa crise, ou evitar uma progressão para gravidade. Outros, porém enxerga o envelhecimento como uma condição destruidora e avassaladora, e sentem-se frágeis e incapazes de enfrentar essas mudanças, instalando-se assim, uma crise mais agravante á saúde do corpo e da mente.

A resiliência passou a ser então uma nova lente, uma nova chave de compreensão da experiência humana que, intrinsecamente, vem marcada pelo sofrimento (SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).

Portanto, é relevante notar que a resiliência, mesmo, que pouco percebida e reconhecida está presente em muitas pessoas, principalmente, àquelas que estão sofrendo constantes mudanças biopsicossociais, e a estas é válido enfatizar o processo de envelhecimento e o estado da velhice que devido às transformações e adaptações torna o idoso um ser dotado de resiliência.

 

 
 

2 DESENVOLVIMENTO

 

2.1 Envelhecimento

 

Segundo Papaléo Netto (2007), o envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, no qual as modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, determinam perda da capacidade e adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência dos processos patológicos que terminam por levar o indivíduo à morte.

O envelhecimento biológico pode ser considerado como a involução morfofuncional que afeta todos os sistemas fisiológicos do corpo humano, de forma mutável e variável. Do ponto de vista psíquico, o envelhecimento representa a conquista da sabedoria pela experiência de vida e da compreensão plena do sentido da vida.

Envelhecer e morrer são experiências vitais singulares, próprias de cada ser. Contudo, são reguladas por padrões socioculturais que definem a significação de cada uma dessas experiências humanas, na especificidade de uma época e um lugar na história da humanidade (PY e TREIN, 2010).

            De acordo com Ly e Trein ( 2010) a velhice é um momento especial da vida , quando se encontra em condições de vulnerabilidade diante de maiores possibilidades de adoecer, não mais com a consciência de finitude que, simplesmente, lhe proporcionou maturidade, mas, agora com a consciência da própria morte.

            Desta forma, há de convir que o envelhecimento  traga a velhice, e esta consigo aliada a idéia de finitude, então como aceitar o fim? De onde vem tanta aceitação? Pois, a idéia de nascer, viver, envelhecer e morrer não cabe a todos. No entanto, deve-se acreditar na teoria do ciclo da vida acompanhado da capacidade de adaptação, aceitação e superação da idéia de morte como simplesmente o fim, mas, como um novo recomeço, e daí vem a resiliência fazendo um elo com a espiritualidade e a religiosidade para dar melhor compreensão a existência humana.

 
2.2 Espiritualidade e Religiosidade

 

A espiritualidade e a religiosidade caminham juntas, onde a corrente de fé e crença que se confundem e, por muitas vezes, fundem-se numa força maior dando credibilidade e sentido a vida e a morte. E esta última, que seria apenas o fim, é vista como um recomeço, uma nova chance, e para muitos o encontro com Deus e por fim a aceitação.

À medida que o envelhecimento aparece, ocorre também um maior apego e dedicação a religião, ou seja, há uma idéia de fim (morte) e uma idéia de recomeçar (espiritualidade), pois, a teoria de envelhecer está diretamente proporcional a idéia de finitude e a religiosidade e espiritualidade são componentes fundamentais à saúde do corpo e da mente que por conseqüências estão mais vinculadas às pessoas mais velhas.

Segundo Sommerhalder e Goldstein (2010) nas últimas décadas o número de pesquisas sobre o papel da religião e a da espiritualidade na vida das pessoas tem aumentado. Pois, não só a psicologia tem dedicado à atenção a essa temática, mas também a medicina tem se interessado pela relevância da religiosidade na recuperação de doenças graves ou no enfrentamento de intervenções significativas.

             De acordo com Sommerhalder e Goldstein (2010) ao se tratar de uma área controversa e difícil de ser submetida a investigação empírica, torna-se necessário salientar a importância de reconhecer a multidimensionalidade e a diversidade dos conceitos de espiritualidade e de religiosidade, porque eles não são sinônimos. Religiosidade é uma das formas de expressão da espiritualidade[1].

Para a psicologia, a religião pode se vista como um recurso que pode fornecer respostas às exigências da velhice, porque facilita a aceitação das perdas ao longo da vida, além de propiciar ferramentas psicológicas para o enfrentamento de situações estressantes, sem desequilibrar o indivíduo, ou seja, pode oferecer recursos para a compreensão e a aceitação das dificuldades da vida. A religião pode fornecer um significado à vida que transcende o sofrimento, a perda e a percepção da mortalidade (SOMMERHALDER e GOLDSTEIN, 2010)


[1] Espiritualidade vem do Latim spiritus, que significa“sopro”, em referência ao sopro da vida (ELKINS, 1999).
Religião vem do Latim religare, que significa religar, restabelecer a ligação entre Deus e os homens (ROUSSEAU, 2003).[1]
 

 
2.3 Resiliência

 

Segundo, Houaiss e Villar (2001) na física a palavra resiliência significa propriedade que alguns corpos apresentam de retomar sua forma original, após terem sofrido uma deformação elástica. Portanto, a resiliência é aplicada ao homem como capacidade de resistir os obstáculos da vida, com critatividade e esperança, sem perder sua verdadeira essência de pessoa humana.

As pesquisas sobre resiliência tiveram início no hemisfério norte, assumindo nos Estados Unidos e Inglaterra uma perspectiva comportamentalista, pragmática, centrada no indivíduo. Estendendo-se por toda a Europa, receberam enfoques psicanalíticos. E, chegando à América Latina, tornaram-se enfocadas na comunidade, como uma forma de reação aos problemas sociais (MELILLO, OJEDA  & RODRÍGUEZ, apud SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).

 

Estudos mostram que a capacidade de resiliência está aliada à criatividade, a religioasidade e a espiritualidade e estes fatores são imprescindíveis ao ser humano, para ampará-lo nos processos de mudanças e nos percalços da vida, seja um abandono, uma patologia, ou mesmo a aceitação de um processo biológico e natural da vida: o envelhecimento.

De acordo com Ly e Trein (2010) a velhice é um momento especial da vida , quando se encontra em condições de vulnerabilidade diante de maiores possibilidades de adoecer, não mais com a consciência de finitude que, simplesmente, lhe proporcionou maturidade, mas, agora com a consciência da própria morte.

Segundo Silveira e Mahfoud (2008) a crise e a dor, que perpassam a subjetividade, tornam-se foco de interesse das ciências, em especial a psicologia, que busca, por meio de estudos e pesquisas, compreender e dar respostas ao ser humano. Este reflete e se pergunta: por que existe a dor? Ela é meramente destrutiva, ou é possível transformá-la em oportunidade de crescimento?

Para Viktor Frankl, o homem religioso é aquele que foi capaz de completar a sua dinâmica ontológica. É responsável e consciente, vive sua vida como uma missão a ser cumprida. Então, na busca de sentido, coloca-se a experiência religiosa. A pessoa que busca uma religiosidade sadia encontra tradições e valores que a direcionam a um relacionamento com o que ela considera ser “o criador”, e isto, portanto, torna-a aberta ao outro e à transcendência (Coelho Junior & Mahfoud, 2001).

A existência em si é espiritual, enquanto a “facticidade” é formada “tanto de elementos psicológicos quanto fisiológicos; contém ‘fatos’ tanto psíquicos como corporais”. Há possibilidade de todo ser humano assumir uma atitude diante dos condicionamentos, diante da “facticidade”, atitude esta que pode configurar a chamada força de resistência do espírito (Frankl, apud SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).

 

A resiliência passou a ser então uma nova lente, uma nova chave de compreensão da experiência humana que, intrinsecamente, vem marcada pelo sofrimento (SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).

No entanto, é fato traçar um paralelo entre o processo de envelhecer e o fato da existência do sofrimento, seja ele físico, social, biopatológico ou espiritual. E desta forma, há uma lógica percepção de vinculação entre envelhecer a religiosidade e a espiritualidade e a capacidade do homem em tornar-se resiliente ao longo do tempo.

 

3 Considerações Finais

 

Portanto, é relevante fazer um elo entre o processo de envelhecimento à capacidade, de ao longo dos anos o homem adquirir a qualidade de resiliente, pois Victor Emil Frankl faz uma alusão ao envelhecer e ser resiliente, quando afirma:

Ao olhar para o passado, a pessoa pode encontrar o sentido e a realização naqueles momentos que foram bem vividos (nos quais se realizou o sentido). O passado torna-se, então, um “celeiro” onde se armazenam momentos cheios de sentido e que não podem ser retirados da pessoa, pois já é realidade consumada (Frankl, apud SILVEIRA e MAHFOUD, 2008).

 

                E ainda, como nos apresenta Silveira e Mahfoud (2008), o sentido da resiliência, então, é a busca de sentido da vida, que se traduz em criatividade, aprendizado, superação e crescimento. Dizer e viver um grande SIM à vida, apesar de tudo.

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

COELHO JUNIOR, Achilles Gonçalves; MAHFOUD, Miguel. As dimensões espiritual e religiosa da experiência humana: distinções e inter-relações na obra de Viktor Frankl. Psicol. USP, São Paulo, v. 12, n. 2, 2001. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642001000200006&lng=en&nrm=iso Acesso e 05 de Mai. 2012.

 

MOTTA Ribeiro, Dulcinéia Da. Afetividade e Intimidade. In: FREITAS, Elizabete Viana de , et. al.Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e Koogan, 2010, p. 28-29.

 

NETTO, Matheus Ppaléo. O Estudo da Velhice: Histórico, Definição do Campo e Termos Básicos.In: FREITAS, Elizabete Viana de , et. al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e Koogan, 2010, p. 4-5.

 

PY, Ligia. TREIN, Franklin. Finitude e Infinitude: Dimensão do Tempo na Experiência do Envelhecimento. In: Elizabete Viana de. et. al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e Koogan, 2010, p. 1354-1359.

 

ROSA, J. G. (1965). Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro, José. Olympio.

 

SOMMERHALDER, Cinara e GOLDSTEIN, Lucila l.O Papel da Espiritualidade e da Religiosidade na Vida Adulta e na Velhice. In: Elizabete Viana de. et. al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara e Koogan, 2010, p. 1308-1310.

 

SILVEIRA, Daniel Rocha and MAHFOUD, Miguel. Contribuições de Viktor Emil Frankl ao conceito de resiliência. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2008, vol.25, n.4, pp. 567-576. ISSN 0103-166X. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2008000400011.



[1] Espiritualidade vem do Latim spiritus, que significa “sopro”, em referência ao sopro da vida (ELKINS, 1999).
Religião vem do Latim religare, que significa religar, restabelecer a ligação entre Deus e os homens (ROUSSEAU, 2003).[1]
 

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