1
- Introdução
Se formos analisar do ponto de
vista cronológico, uma pessoa é considerada idosa a partir dos 60
anos. Porém se isso for visto com base em outros fatores ainda é
possível encontrar idades além desta, uma vez que nos países
desenvolvidos, as condições de vida propiciam uma maior longevidade
com maior qualidade, o que acaba por retardar o processo de
envelhecimento.
Biologicamente falando a
senilidade começa a partir do declínio de certas características
físicas. Este declínio está relacionado ao desgaste do organismo
como um todo, desde o sistema imune até a estrutura óssea,
muscular, a capacidade de se processar determinadas substâncias, e a
própria função cerebral pode ficar diminuída. O que é importante
destacar é que ser idoso não significa ser doente. Quando dizemos
que poderá eventualmente culminar em determinada doença, queremos
dizer que isso pode demorar mais ou menos para acontecer, e que não
acontece necessariamente com todos os indivíduos.
Mesmo que envelhecer e morrer
seja experiências vitais e comuns de cada ser, são peculiares a
cada época, cultura e lugar na história da humanidade. O
envelhecimento hoje é tema de interesse mundial tendo em vista o
aumento de idosos, já que as expectativas de vida hoje são bem
maiores que na antiguidade devido aos recursos tecnológicos
utilizados pela medicina nas suas terapias contra as patologias.
A religiosidade e a
espiritualidade são temas de destaque com esta nova realidade, pois,
observa-se uma valorização das crenças e dos ofícios espirituais
por parte do público idoso que sentem a necessidade de se manterem
inseridos neste contexto. É como se a religião os mantivesse vivos
e socialmente ativos.
Apesar de ser novo, o termo
bioético se instalou nos campos de estudos e das ciências
envolvidas com bastante força, porém, é bom salientar de sua
importância nos processos de pesquisa, uma vez que é necessário
ter discernimento ético para escolhermos este ou aquele método que
não firam a dignidade do ser humano no processo de aquisição de
mais conhecimento e que lhes proporcionem sempre mais perspectivas de
qualidade de vida e felicidade de viver.
O processo de envelhecimento é
algo que acompanha a todos desde o nascimento. O que torna a velhice
tão difícil de ser aceita é que esta é a fase em que a vida mais
se aproxima do seu final, chegando a ser vista como sinônimo de
morte para algumas pessoas. Mas devemos lembrar que a morte não é
privilégio dos idosos. É preciso compreender a velhice, sem
eufemismos, como qualquer outra fase da vida – parte de um processo
natural e próprio de cada ser.
2 – Desenvolvimento
A finitude é inerente à
condição de um ser vivo. Pode ser aplicada a um ser inanimado.
Quanto mais se vive a senilidade se manifesta nos indivíduos, o
tempo não perdoa quem quer que seja. Por sermos finitos nossas ações
se esgotam na morte biológica do ser. Isso causa angustia, uma vê
que de forma consciente e ou inconsciente temos em nos o desejo e as
expectativas na infinidade, isso se dar devido nossa criação ser à
imagem e semelhança de um Deus divino e eterno.
“O tempo acompanha
a humanidade de muitas formas. A arqueologia revela que o homem,
ainda nas suas formas as mais primitivas, já buscava um entendimento
do tempo, enquanto desenvolvia a consciência de que se encontrava
sob os feitos do próprio tempo. A compreensão do tempo tornou-se
assim uma tarefa permanente para a humanidade, que até hoje não foi
concluída” (Py e Trein pag. 1353)
Em termos simples podemos definir
a finitude como algo que está fixada no corpo físico, ou seja, na
cotidianidade da aventura humana e a infinitude como algo que
atravessa o imaginário, nas ilusões do desejo humano de ser eterno.
Isso se dar devido ao fato de amarmos a terra e suas maravilhas,
nossa prole, amigos e tudo que nos rodeia em forma de natureza. A
espiritualidade também nos deixa marcas de um universo infinito, e
que todo tempo que se vive ainda é pouco para tantas maravilhas e
bênçãos de um criador que é eterno.
“O tema da
finitude, articulado ao envelhecimento, nos convida a uma profunda
reflexão, pois esse estudo nos leva até as fronteiras da vida, ao
encontro dos nossos velhos e dos nossos mortos; à recusa da nossa
velhice e da nossa própria morte. Aguça-nos a interpelação mais
íntima, enquanto sujeitos desejantes e sempre frustrados na
satisfação imaginada. Oscilando na incerteza, e mergulhados na
dúvida, somos impelidos a procurar, em nossos estudos, uma
compreensão desses fenômenos vitais que pautam nossa existência.”
(Py e Trein pag. 1353)
Os idosos acumulam anos e isso é
parte concreta de sua existência no tempo é no espaço. Ser alguém
é você se colocar na vida num processo dinâmico. È por isso que
nascemos, crescemos, criamos consciência de nossa existência,
casamos, procriamos, temos netos, e nesta face da somos idosos, com
uma bagagem imensa de experiências. E todos os acontecimentos que
fomos acumulando ao longo nos anos, nos fazem gente, nos faz existir
para nos e para os outros, assim, passamos a ter uma melhor
compreensão de nos mesmos e da vida e do ele representa de fato para
nós. Desta maneira encaramos de forma saudosa e positiva o nosso
processo de envelhecimento e vemos que as coisas valem a pena, que
somos importantes e que mesmo fragilizados ainda se pode ter
dignidade na vida. Todo o sentido da vida está na questão do futuro
que nos aguarda: se não sabemos o que queremos, então não podemos
saber o que somos.
“[...], envelhecer
requer autopossessão e integração, como qualquer outro estágio da
vida, tal como a adolescência, a juventude ou a idade adulta. A
velhice terá um sentido no fim somente se a vida tiver um sentido no
seu todo. O inevitável é que, nos últimos anos, existe uma perda,
diminuição dos talentos e das capacidades. Deve-se encontrar um
novo sentido para de vida que sustente tal experiência, uma
ressignificação. Frequentemente entendemos a velhice como
direcionada para a morte, mas não devemos esquecer que ela é também
direcionada para o crescimento” (Pessini, pag. 154)
A vida pode e deve ser
contemplada em todo o seu ciclo e não nos martirizarmos com o fato
de que um dia iremos envelhecer, pois, isso acontecerá de fato com
todos. Cada estágio que a vida nos apresenta tem suas glórias,
batalhas, superações e recuos, e não é diferente na velhice, é
apenas mais uma jornada a ser vivida e termos consciência disso nos
ajudará a enfrentar seus dilemas e desafios com a cabeça erguida de
sempre.
Na era contemporânea em que
vivemos, onde um arsenal de tecnologia nos dão conforto e ocupações
jamais vistas em décadas passadas, o homem se ver muitas fezes
ocupado demais para dedicar tempo em cuidar de uma população
envelhecida que só aumenta dia a dia. Sendo assim ver-se muitos
idosos sem amparo familiar adequado no suprimento de suas
necessidades muitas vezes tidas como básicas. Ai surge uma pergunta
reflexiva: Será que não mais conseguimos nos enxergar nossa
semelhança nestes idosos? Amanha seremos um deles e certamente não
queremos menos do que vamos necessitar. É urgente que nos
enxerguemos na pessoa idosa, por termos visão e prática de
solidariedade, humanizando-nos sempre neste sentido, e por assim
agirmos estaremos mostrando madureza, respeito e dignidade para com
estes que tanto já fizeram por nós.
“No mundo ocupado
com a complexidade e a sofisticação do quantitativo de questões em
ascensão e urgência contínuas, a concretização do alongamento da
vida se contrapõe à carência das condições de qualidade de vida
e da valorização simbólica da velhice. Esse contexto acirra a
resposta defensiva do ser humano, expressa numa recusa a
identificar-se e reconhecer-se na sua atualidade de homem velho ou de
mulher velha. Sobressaem os mecanismos de negação da realidade da
velhice, que se revelam nos níveis pessoal e social. Essa situação
demonstra a origem e o produto, a um, só tempo, do medo da velhice
fundido no medo da morte. Medo lincado no horror e na repulsa,
sentimentos de que o meio sociocultural se utiliza para forjar, no
indivíduo, o trabalho psíquico de representação negativa da
velhice, ao longo do seu processo de identificação.”
(Py e Trein
pag. 1355)
Muitas emoções se colocam a
flor da pele para estes que agora entram num contexto de mudanças
significativas. De repente a pessoa se ver entrar num processo de
degeneração física, social, emocional, familiar, psíquica e
espiritual e tudo isso lhe traz saudosas lembranças dos feitos e a
temida expectativa do desconhecido e cheia de mitos que é a velhice
propriamente dita, é como se de uma hora para outra o cordão
umbilical da chamada “vida” se rompesse para sempre e que agora
sim, a morte será uma triste companheira.
“Para pensar a
finitude e a infinitude na perspectiva do envelhecimento humano,
fomos buscar fundamentos para o tempo e encontramos a ruptura do
tempo. Em meio às crises que vivemos, triunfa a transição entre o
desmoronamento da realidade e o desmoronamento de uma outra, vivida
no dilaceramento e no alívio pelo que vamos perdendo, contrapondo-se
à ameaça e a esperança no novo que nos vem invadindo. A ruptura do
tempo é de outrora da supremacia do homem sobre o mundo físico, a
biologia e a história, supremacia que rege o processo de transição
para um tempo que é outro.” (Py e Trein, pag. 1357)
Ter conhecimento e consciência
que a vida possui seus estágios pré-determinados que iniciam com o
nascimento e culmina com a velhice e morte, nos dão suporte
necessário para enfrentar estes desafios condicionados ao organismo
humano. Morte e vida são companheiros que não se separam, mas isso
não significa que devemos ser escravos na morte e não vivermos
plenamente. Na verdade entender isso de fato é que nos proporciona
vivermos mais e melhor nos preparando por assim dizer para morrer com
dignidade.
“A realidade nos
vai escapando, na negação advinda da manipulação do tempo que
provoca os sinais de envelhecimento do corpo. A ação do tempo já é
passível de ser aplacada pela engenhosidade da tecnologia virtual; e
não conseguimos imaginar até onde podemos chegar, embaladas pelo
arsenal de protelação da velhice e, por extensão, da morte.” (Py
e Trein, pag. 1357)
É importante reconhecermos os
idosos como nossos mestres e diz que, para que isso aconteça de fato
é preciso ter sabedoria. É preciso não ser negantes do nosso
próprio processo de envelhecer que dar-se início no nosso
nascimento e que muitas vezes em nome de um orgulho que se mostrará
fraco no futuro, viramos as costas para aqueles que nos pedem auxílio
e no futuro será nós a assumir este papel de apelação.
“O processo de
envelhecer é a gradual plenificação do ciclo da vida. Ele não
precisa ser escondido ou negado, mas deve ser compreendido, afirmado
e experimentado como um processo de crescimento pelo qual o mistério
da vida lentamente nos revela. Sem a presença dos idosos poderíamos
esquecer que estamos envelhecendo. Eles são os nossos profetas, eles
nos lembram de que o que vemos tão claramente neles é um processo
do qual todos, sem exceção, participamos. Muito já se escreveu
sobre o idoso, sobre seus problemas físicos, mentais, afetivos,
espirituais.” (Pessini, pag. 159)
Portanto, é nossa a tarefa em
ajudar os idosos a assumirem seu papel na sociedade que é o que ser
nossos mestres, já que estes possuem experiências que não temos,
restaurando assim os laços de comunicação muitas vezes
distanciados entre as gerações. E também sermos seladores de sua
integridade moral e física.
“Cuidar dos idosos
significa, antes de tudo, entrar em contato com o nosso próprio
processo de envelhecimento: sentir a dimensão do tempo, realidade
nos constituindo como ser, e estar consciente dos movimentos do ciclo
da vida.” (Pessini, pg. 160)
Para entendermos a respeito da
discussão sobre a religião, religiosidade e espiritualidade,
vejamos os conceitos básicos destes termos: Religião é o sistema
organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos designados
para facilitar o acesso ao sagrado, ao transcendente (Deus, força
maior, verdade suprema ...). Religiosidade é o quanto um indivíduo
acredita, segue e pratica uma religião. Pode ser organizacional
(participação na igreja ou templo religioso) ou não-organizacional
(rezar, ler livros, assistir programas religiosos na televisão) e a
espiritualidade é uma busca pessoal para entender questões
relacionadas à vida, ao seu sentido, sobre as relações com o
sagrado ou transcendente que podem ou não levar ao desenvolvimento
de práticas religiosas ou formações de comunidades religiosas.
“Religiosidade é
uma das formas de expressão da espiritualidade. Espiritualidade vem
do latim spiritus, que significa “sopro”, em referência ao sopro
da vida. [...]. Também tem sido caracterizado como a capacidade de
ter fé, amar e perdoar, adorar, ver além das circunstâncias e de
transcender o sofrimento [...]. Espiritualidade é uma reflexão
sobre o significado da vida. Religiosidade e espiritualidade são
conceitos diferentes, mas apenas recentemente os pesquisadores
começaram a considerar as dimensões da espiritualidade
separadamente das crenças e dos comportamentos religiosos, criando
instrumentos diferentes para avaliá-las. Embora ter uma religião
não seja unanimidade entre as pessoas, é grande o número de
indivíduos que têm espiritualidade [...]. Enquanto a
espiritualidade remete a uma reflexão sobre, a religiosidade, a
religiosidade remete a uma relação com. Essa relação pode ser com
Deus ou com uma entidade ou um ser superior diferentemente nomedo.”
(Sommerhalder e Goldstein, pag. 1307)
As necessidades espirituais são
próprias dos seres humanos e pelo que se observa existe uma
tendência de se manifestar em alguns casos à medida que se aproxima
a finitude. O bem-estar espiritual protegeu as pessoas do desespero
do fim da vida e em algumas situações agem como paliativos
depressivos ou patologias físicas. Por isso a abordagem espiritual
não dever ser negligenciada, pois, ela tem se mostrado auxiliadora
no processo de envelhecimento e morte.
“A epidemiologia
da religião tem demonstrado a validade da religiosidade e da
espiritualidade como tópicos de pesquisa. Os estudiosos estão
questionando o motivo, tentando identificar os caminhos
biocomportamentais ou psicossociais mediante os quais as práticas
religiosas e espirituais promovem a saúde ou evitam doenças. Entre
os mecanismos explanatórios que as pesquisas procuram investigar,
estão:
- Promoção de comportamentos e estilos de vida relacionados à saúde quando por exemplo as religiões proíbem ou desencorajam o consumo de álcool e fumo, o que diminuiria o risco de doenças e aumentaria o bem-estar.
- Provimento de suporte social – e, muitas vezes, instrumental – por parte das comunidades religiosas, estimulando o sentimento de irmandade, de auxílio mútuo, de amor fraterno, o que proporcionaria mais relacionamentos interpessoais e sensação de pertencimento a um grupo. Isso ajudaria a diminuir o estresse a atuaria como um recurso de enfrentamento eficaz, uma vez que indivíduos com menos contatos sociais e maior instabilidade emocional têm maiores probabilidades de contrair doenças e de mortalidade [...].
- Satisfação da necessidade fundamental de percepção de que a vida tem significado, de que é algo mais do que simplesmente estar um instante fugaz no universo, modificando a percepção de situações estressantes ou eventos traumáticos. Além disso, a religião promove a esperança de que, no fim, tudo estará bem.” (Sommerhalder e Goldstein, pag. 1312)
3 – Considerações
Como foi pontuado no decorrer
deste trabalho, a discussão e reflexão sobre bioética nos traz a
tona ideias relacionadas a um resgate da vida humana e de seus
valores que engloba todo seu ciclo de vida, em especial na face de
senilidade aonde muitas vezes vem sendo deixado de lado. Fala também
sobre o respeito fúnebre, pois todos têm direto de uma morte digna
e os momentos pré-morte devem ser bem assistidos, longe de dor e
constrangimento. Isso vai além da dimensão física-biológica,
inclui também as dimensões sociais, relacionais, cósmicas e
ecológicas, uma vez entendendo que o ser humano é parte de um todo
universal.
Sendo o indivíduo um ser finito,
que passa por estágios que culmina no envelhecimento e morte, ele
deve ser poupado de dor e sofrimento. Os métodos paliativos devem
ser empregados assegurando assim conforto permanente. Jamais negar a
este ser as relações interpessoais no qual inclui o apoio familiar,
o de profissionais e dele próprio, pois a sua condição moribunda
não lhe tira o direito de estar a par de tudo que esta acontecendo
ao seu redor e consigo mesmo.
Não permitir que as questões
modernas da contemporaneidade faça uma ruptura das relações
humanas, físicas, biológicas e histórica pela ação do homem.
Humanizarmos e sermos sensíveis ao ser finito que se despede na vida
são os recados mais forte que bioética nos traz neste trabalho.
Hoje como se sabe, a gerontologia
possui maior condição de enxergar os assuntos pertinentes ao
processo de envelhecimento. Neste aspecto inclui-se a religiosidade e
a espiritualidade que muito tem contribuído para a melhoria da
qualidade de vida dos idosos. Entender isso é uma forma de
emancipação, já que os envolvidos no processo passam a ter uma
maior e significativa participação da vida social em suas
comunidades, o que repercute de forma saudável na vida da pessoa
senil.
Mesmo que ainda haja um longo
caminho a percorrer, estudos como este vêm a somar na luta sobre o
resgate da dignidade humana na terceira idade como muito se praga no
campo da bioética.
4 – Referencias
Pessini
, Leo, Bioética,
Envelhecimento Humano e Dignidade no Adeus à Vida
– capitulo: 15
Py,
Ligia e Trein, Franklin Finitude e
Infinitude: Dimensões do Tempo na Experiência do Envelhecimento
- capitulo: 144
Sommerhalder,
Ginara e Goldstein Lucila L., O
Papel da Espiritualidade e da Religiosidade na Vida Adulta e na
Velhice – capitulo:
139.
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